Para ministra, frase de Neymar contra racismo pode reforçar estereótipo

Luiza Bairros, no entanto, elogiou atitude de Daniel Alves ao comer banana.
Expressão ‘#somostodosmacacos’ se espalhou na rede em apoio ao atleta.

A ministra Luiza Bairros, durante evento contra a
discriminação racial, em 2011 (Renato Araújo/ABr)

Renan Ramalho

 
Embora tenha surgido da boa intenção de combater o racismo, a campanha lançada pelo jogador Neymar espalhando a frase “#somostodosmacacos” pelas redes sociais pode ter o efeito contrário, de reforçar um estereótipo negativo historicamente associado ao negro. A opinião é da ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Bairros, que expressou ao G1 reservas em relação ao novo viral surgido na internet.

“Essa imagem do macaco associada à pessoa negra é uma imagem muito poderosa. E se você assume essa imagem como válida, corre o risco também de reforçar o estereótipo. Eu entendo a campanha e a motivação da campanha, mas não é possivel assegurar que ela tenha o sucesso necessário para reverter a representação negativa que a palavra ‘macaco’ tem quando associada à pessoa negra”, afirmou Bairros.


Se você assume essa imagem como válida, corre o risco também de reforçar o estereótipo […] Não é possivel assegurar que ela tenha o sucesso necessário para reverter a representação negativa que a palavra ‘macaco’ tem quando associada à pessoa negra”
Luiza Bairros, ministra da Secretaria de Igualdade Racial

Embora reconheça que a frase remeta à ideia de que “todos são iguais” – como disse o próprio Neymar –, Bairros sustenta que “ela não consegue ser mais poderosa do que o significado original. “Eu reconheço a boa intenção, mas essa imagem é uma imagem poderosa demais. Vai ter que trabalhá-la mais para poder descontrui-la”, disse.

A campanha espontânea surgiu após o jogador Daniel Alves, do Barcelona, comer uma banana atirada por um torcedor durante uma partida contra o Villareal, pelo campeonato espanhol. A expressão “#somostodosmacacos” passou rapidamente a ser reproduzida nas redes por famosos, anônimos, crianças e estrangeiros ao lado de uma foto comendo banana.

O próprio Daniel Alves aderiu, postando: “Meu Brasil Brasileiro, Verde, amarelo, preto, branco e vermelho. Somos um povo alegre com samba no pé, e é com alegria e ousadia que a gente tem que se manifestar. Olha a banana, olha o bananeiro… sou baiano, sou brasileiro… estamos mais fortes do que nunca, o sorriso é a nossa proteção, a musica é a nossa espada”.

Apesar das reservas à frase, Luiza Bairros considera que Daniel Alves teve uma atitude positiva na reação ao torcedor que atirou a banana, já identificado e banido pelo Villareal.

“Com seu gesto, ele esvaziou a atitude discriminatória da torcida naquele momento. Como uma resposta, para o momento, foi perfeita. É uma forma que você tem de utilizar o ‘bom humor’, entre aspas, para ridicularizar a atitude racista”, disse.

 

 

Nova campanha
Ao G1, a ministra também adiantou que está em discussão no governo uma campanha antirracismo a ser lançada na Copa. Embora não tenha detalhado o formato e mote, disse que a mensagem deve reforçar o valor da diversidade.

“Para nós da Seppir o importante é o fato de que a diversidade racial tem sido um elemento determinante da excelência do futebol, em qualquer canto em que ele seja jogado e principalmente aqui no Brasil. Essa ideia de que a diversidade produz excelêcia no futebol tem que ser espalhada para o conjunto da sociedade e para qualquer outro setor de atividade”, disse.

A diversidade racial tem sido um elemento determinante da excelência do futebol […] Essa ideia tem que ser espalhada para o conjunto da sociedade e para qualquer outro setor de atividade”

Outra ação que pode ser lançada ainda antes da Copa, segundo Bairros, é um serviço de “disque-denúncia”, semelhante ao Disque 100, para relatar abusos a direitos humanos, especificamente para combate a atos de racismo.

Segundo a ministra, a Seppir já entrou em contato com órgãos nos estados, como defensorias, Ministério Público, delegacias e ONGs para formar uma rede de atendimento. A ideia é que a partir de um ato discriminatório, a pessoa vítima de racismo seja orientada a acionar uma dessas entidades para denunciar o crime.

 

Fonte: G1

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