Por: Fátima Oliveira
Os assuntos são inúmeros. Deixam a gente zonza. Informação demais em algum momento nos exaure. Mas muvuca pouca é besteira. A vida política do país está uma zoeira só. Em horas assim tenho vontade de sumir e virar lenda. Em nome da honestidade intelectual digo que está difícil demais focar em apenas um assunto para palpitar. Tentar, até que tentei.
“O Brasil caiu nove posições no ranking global de desigualdade entre os sexos organizado pelo Fórum Econômico Mundial, ocupando a 82ª posição entre 136 países.” Piorou demais. Em 2006, o Brasil ocupava a 67ª posição; em 2007, a 74ª; e, em 2008, a 73ª. As principais razões apontadas para a queda em 2009 foram a diferença de renda obtida pelo mesmo tipo de trabalho de acordo com o gênero (da 100ª para a 114ª colocação) e a queda da renda estimada anual (da 54ª para a 69ª posição). O Brasil está atrás do Equador, Argentina, Costa Rica, Peru, Nicarágua, El Salvador, Paraguai, Chile e da República Dominicana. Em minha modesta e irada opinião, o governo precisa se explicar. Ou não?
Jornais brasileiros impressos, sites e blogs nacionais veicularam que o governador do Mato Grosso do Sul, André Puccinelli (PMDB), em reunião com empresários e industriais em Campo Grande, dia 22.9.2009, disse que o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, “é veado e fuma maconha” e que se Minc comparecesse à Meia-Maratona Internacional do Pantanal, em 11.10.2009, ele “o estupraria em praça pública”. O desfecho também é de domínio público. O governador lamentou a “conotação de ofensa” atribuída a suas declarações. É de estarrecer! Ficou o dito pelo não dito.
“O governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), disse no programa ‘Escola de Governo’, veiculado pela TV Educativa do Paraná, que o câncer de mama em homens deve ser ‘consequência de passeatas gay'” (27.10.2009). Nota pública do governador: “O tom lúdico que usei no lançamento da campanha de prevenção do câncer de mama, entre mulheres e homens, acabou provocando uma onda de recriminações. Quando me referi às paradas da diversidade, ocorriam-me os riscos que o abuso de hormônios femininos, com fins terapêuticos ou estéticos, representam para a saúde. Entre os riscos, o câncer de mama. Em razão disso, estou sendo impiedosamente criticado”. Muita água ainda pode rolar. É esperar.
“Aluna da Uniban ameaçada de estupro no campus por usar minissaia – após ser ameaçada por outros estudantes da Uniban, a garota é escoltada pela polícia” (28.10.2009). É uma estudante de turismo da Uniban, de São Bernardo do Campo (SP). Segundo o secretário-geral da instituição, “A aluna veio trajada de uma determinada forma e isso provocou os alunos… Ela deu causa, ela deu motivos”. Em seguida, amenizou: “Também não era motivo para tanto alvoroço”. Um vídeo sobre o episódio “mostra o intenso movimento dos estudantes no pátio central da faculdade e a estudante saindo escoltada pela polícia aos gritos de ‘puta! puta!'”.
Aí, meus sais! É pra rasgar dólar e cuspir bala. Quero Sílvio Brito cantando “Pare o mundo/ Que eu quero descer/Que eu não aguento mais”… Gostaria que as notícias acima não tivessem nada a ver uma com a outra. Todavia, elas estão entrelaçadas e revelam as garras de uma sociedade patriarcal e homofóbica; expõem, numa crueza que dói, suas entranhas, que têm na repressão da sexualidade uma forma eficiente de manutenção do estigmatizante do tido como diferente. Não é tudo, mas é por aí.
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