Nahima Maciel,
A peça mais longa do Cena Contemporânea teve plateia lotada nas noites de sexta e sábado. Com três horas de duração e um intervalo de 15 minutos, O duelo é dinâmica e interativa. Apresentada no teatro Galpão, no Espaço Cultural Renato Russo, a montagem da Mundana Companhia de Teatro para o texto de Anton Tchekov envolve o público em todos os sentidos. A disposição física das cadeiras da plateia, em forma de arquibancada, aproxima o espectador dos atores, que em determinados momentos chegam a convidar as pessoas para participar das cenas.
Com Camila Pitanga, Aury Porto, Paschoal da Conceição, O duelo narra a história de um casal em vias de separação que acaba reconciliado graças a uma traição. “Me identifiquei com diversas coisas, especialmente com a parte em que se fala da soberba”, disse Lorane Souza, 19 anos, estudante de odontologia que assistiu a quatro espetáculos do Cena Contemporânea. “Duelo foi o que mais gostei.” O bancário Juarez de Maio Gonçalves, 35, se assustou quando descobriu a duração do espetáculo. “Achei que não fosse dar conta de ficar sentado durante três horas”, contou. “Mas perdi a noção do tempo, me envolvi com a peça, os atores te prendem e dão uma dinâmica. Tem peças de uma hora que me estressaram porque fica só um cara falando. Essa não.”
O elenco de Duelo fez uma homenagem discreta à atriz Dulcina de Moraes ao final da apresentação, quando o ator Fredy Állan, que interpreta um diácono, entregou um livro sobre a atriz ao personagem de Pascoal da Conceição, que parte em viagem para longe. Hoje, a partir de 12h, a Mundana faz intervenção na Faculdade Dulcina de Moraes, no Conic. Será a última de três ações realizadas durante o Cena Contemporânea. Quando os atores descobriram a situação da instituição e a recente intervenção do Governo do Distrito Federal, decidiram ocupar o local. Hoje, a intenção é chegar ao acervo da dama do teatro numa espécie de arqueologia da dramaturgia brasileira. “A gente soube que os estudantes se apropriaram do local. Isso é o teatro: se a gente não se apropriar, eles nunca vão dar o que devem para nós”, acredita Fredy Állan.
Fonte: Correio Braziliense