Peça retrata universo mítico africano em Salvador

Primeiro infanto-juvenil do Bando de Teatro Olodum, a peça Áfricas estreia neste sábado (13), às 16h, no Teatro Vila Velha, e traz à cena o continente africano, através da sua história, seu povo, seus mitos e religiosidade. Dirigida por Chica Carelli a peça aborda o universo mítico africano em uma tentativa de “suprir a escassez de referenciais africanos no imaginário infantil, povoado de fábulas e personagens eurocêntricos”.

Áfricas ficará em cartaz até o dia 28 deste mês.Fundadora do Bando de Teatro Olodum, Chica Carelli conversou com o Portal Correio Nagô sobre a peça onde não pretende mostrar não “uma África singular com as imagens estereotipadas de animais selvagens, doenças e fome”, garante a diretora.

E sim, um continente complexo, formado por mais de 50 países e centenas de dialetos e povos com histórias diferenciadas, formas de resistência e sobrevivência e um rico modo de se relacionar com o sagrado. Confira

entrevista feita pelo Portal Correio Nagô

Porque contar a história da África através do povo, mitos e religiosidades para crianças?  

A idéia primeira era de colocar em cena os contos africanos com seu humor, seus personagens tão característicos com Abdú, o caçador, ou o feiticeiro, suas paisagens, seus costumes; e a mitologia afro-brasileira, impregnada de religiosidade que contam sob um novo olhar a criação do homem, a história do arco-íris , trazendo para imaginário infantil, repleto de referências eurocêntricas, o encantamento da cultura afro-brasileira e a sua riqueza.

 Como surgiu a ideia? 

Os espetáculos do Bando sempre atraíram o público infantil, sobretudo com personagens como os da trilogia do Pelô, no entanto a linguagem nem sempre era considerada adequada para as crianças. Quando surgiu a lei federal 10639, pensamos em fazer um espetáculo que apoiaria as escolas no cumprimento da lei. Surgiu então a ideia de montar o espetáculo Áfricas. 

Depois de tantos anos de lutas de militantes negras e diversas conquistas as crianças da atualidade ainda não são educadas com referenciais voltados também para a história africana? 

Sem dúvida houve muitas conquistas que se tornam evidente no visual das crianças, na presença de livros de literatura infantil que trazem personagens negros como protagonistas nas prateleiras das livrarias, mas ainda temos poucas referências no teatro infantil, por exemplo; em certas escolas ainda temos muito preconceito em relação à cultura afro-brasileira e a lei ainda está sendo implantada muito lentamente. Percebemos que o continente Africano e sua história ainda são muito pouco conhecidos pela maioria da população adulta brasileira e consequentemente pelas crianças. 

Que tipo de personagens o publico infanto-juvenil vai encontrar  na peça e como eles podem ajudar numa educação mais plural?

Em contraposição com o universo mágico dos contos e lendas, trouxemos à cena personagens de uma feira, como a feira de São Joaquim, que muito lembra as feiras africanas, personagens como o vendedor de folhas, o angolano vendedor de instrumentos, ou da vendedora de contas que ajudam as crianças a refletir sobre o verdadeiro significado da afrodescendência, a importância dessa herança e estimulando-os saber mais sobre o continente africano e sua pluralidade.

Como se ter cuidado para não retratar uma África estereotipada? Na sua opinião o continente ainda é pouco conhecido? 

Quando iniciamos a criação do espetáculo, discutimos muito essa questão, se devíamos colocar em cena contos que trazem imagens de uma África lendária. Resolvemos conquistar as crianças pelo encantamento, o humor, a magia que estão presentes nessas histórias, que também tem um conteúdo educativo, e assim despertar  sua curiosidade em relação a esse continente, chamando atenção pra a sua riqueza e pluralidade cultural . E temos percebido que tem funcionado, as crianças quando chegam em casa querem saber mais, questionam seus pais, querem ir pra África, esse é o retorno que temos recebido.

 O que muda para o Bando de Teatro Olodum trabalhar no ramo infanto-juvenil? Quais os desafios? Quantos atores em cena? 

Trabalhar para um público infantil representa um duplo desafio: a responsabilidade de estimular pensamentos de um espírito em formação, com uma linguagem acessível e ao mesmo tempo sedutora e por outro lado não infantilizar o espetáculo. Como havia dito anteriormente, o espetáculo tem tido uma repercussão muito boa, muitos pais se emocionam e testemunham de como gostariam de ter assistido um espetáculo como este quando crianças. Em cena 14 atores que representam, cantam, tocam e dançam, alem de dois músicos que dão base à música do espetáculo executada em cena. 

Porque pais e mães não devem deixar de levar seus filhos para ver Áfricas? 

O espetáculo tem agradado a todos os públicos, crianças e adultos, levando a todos para um universo encantado onde uma teia cintilante de música, danças e cores, cria uma narrativa mágica que resgata o orgulho da nossa afrodescendência. Dirigir esse espetáculo, pra mim, foi uma experiência muito especial e acho que o espetáculo testemunha, mais uma vez, a maturidade do Bando de Teatro Olodum, na criação de uma dramaturgia própria que une as diferentes linguagens, contando com a fundamental participação  do coreógrafo Zebrinha, do diretor musical Jarbas Bittencourt, do figurinista Zuarte Jr, do iluminador Rivaldo Rio e dos atores e músicos que convergem seus trabalhos na criação de um discurso cênico que reflete a riqueza e a importância da cultura afro-brasileira para o nosso pais.

 

 

 

Fonte: Correio Nagô

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