Salvador – Policiais Militares da Bahia estão sendo acusados da tortura e assassinato dos jovens Ricardo José Matos Barbosa, 24, e Gabriel Souza Lima, 20, que teriam sido retirados de um táxi na última sexta-feira (10/09) segundo testemunhas. Os dois são negros, como 80% da população de Salvador.
O corpo de pelo menos um deles – Gabriel – foi encontrado em um matagal no Centro Industrial de Aratu, na manhã de sábado, com sinais de tortura, inclusive com os olhos arrancados, segundo a família. Ricardo continua desaparecido.
Em protesto pela violência policial, os moradores do Manguinho, Engenho Velho de Brotas, interromperam o trânsito na Avenida Vasco da Gama por mais de duas horas, na noite da última terça-feira (14/09).
Revolta e protesto
Barricadas foram levantadas pela população (foto) revoltada com a ação dos militares das Rondas Especiais (Rondesp), uma espécie de Rota baiana, que vem se notabilizando pela violência, em especial, contra jovens negros da periferia.
Os moradores – cerca de 80 pessoas – se aglomeram em frente a um centro comercial enquanto outro grupo ateava fogo a um contêiner de lixo, pneus, garrafas, móveis e até uma geladeira velha. Os manifestantes empunhavam cartazes com as fotos de Ricardo e Gabriel.
O funcionário público Renato Matos, irmão da vítima disse que ele tinha passagens pela polícia por assalto. “Mas, o papel da polícia é prender. A Justiça brasileira é só para os ricos”, afirmou. Segundo ele, a família já percorreu hospitais de Salvador e até o Instituto Médico-Legal Nina Rodrigues, porém, o irmão continua desaparecido e a família teme que também tenha sido morto nas mesmas circunstâncias.
‘Meu irmão pegou o táxi. O taxista falou a algumas pessoas da comunidade que a Rondesp tirou meu irmão e Gabriel de dentro do táxi e colocou no fundo da mala. Disse que era para o taxista não pronunciar nada, se não ia morrer também’, afirma.
A família teme que Ricardo tenha sido morto nas mesmas circunstâncias que Gabriel. “Fizeram todo o tipo de maldade com ele, arrancaram até os olhos. Essa é a polícia comunitária que querem?”, contou Renato.
A manifestação só foi controlada com a chegada do Corpo de Bombeiros que apagou as chamas da barricada montada com sofás e placas de publicidade. Os motoristas que tentaram furar o bloqueio foram xingados.
Mesmo com a chegada de policiais militares da 41ª Companhia Independente (Federação) os manifestantes insistiram. “Mas vamos fazer isso todos os dias até darem solução para a violência que a PM faz”, desabafou uma moradora.
Versão da Polícia
O coordenador do setor de comunicação da PM baiana, capitão Marcelo Pita, disse que não há registro da prisão e desaparecimento dos jovens na Avenida Vasco da Gama. “Mesmo assim, a corporação vai apurar se houve a participação de policiais nessa situação”, afirmou. O corpo de Gabriel foi enterrado no domingo de manhã pela família.
Nem a Secretaria de Segurança Pública – a qual a PM está ligada – nem o governador Jacques Wagner, do PT – em campanha pela reeleição – se manifestaram sobre o caso. Segundo Hamilton Borges Walê, líder negro que vem denunciando nacionalmente a violência contra jovens negros e pobres, os métodos da PM baiana sob o governo de Wagner em nada mudaram do período em que a Bahia foi governada pelo grupo político do ex-governador Antonio Carlos Magalhães – ACM. (Veja artigo “Seis por meia dúzia” na secção Colunistas).
Fonte: Afropress