PMs atiram contra bandido que já estava imobilizado após sequestro-relâmpago na Barra

Secretário de Segurança ordenou que a corporação faça apuração rápida e exemplar do ocorrido

RIO – Imagens de um cinegrafista amador levadas ao ar pelo “RJ-TV” da TV Globo revelam que os policiais militares 31º BPM (Recreio dos Bandeirantes) mentiram ao descrever como resolveram o sequestro-relâmpago sofrido por uma mulher de cerca de 50 anos e seu sobrinho, menor de idade, rendidos por quatro assaltantes na manhã desta terça-feira na Barra da Tijuca. Os bandidos, pelas imagens obtidas pela TV Rede Globo, já tinham sido presos e dominados, aparentemente num terreno baldio, quando os PMs simularam uma reação dos criminosos, alvejando um deles. (Veja as imagens do RJTV)

Primeiro os PMs aparecem com os assaltantes dominados, caminhando por uma rua. Depois, os policiais, já no terreno baldio, vasculham o local como se procurassem alguma coisa. Um dos PMs usa o revólver apreendido com um dos bandidos para atirar contra um muro, como se estivesse simulando uma troca de tiros. Mas a imagem mais chocante fica para o fim: um dos policiais pega sua arma da cintura e atira contra a perna esquerda de um dos criminosos. O ladrão cai, aparentemente gritando de dor.

Em nota divulgada na noite desta terça-feira, a Secretaria estadual de Segurança afirmou que “ao ver as imagens exibidas pelo RJ-TV sobre a atuação de policiais numa tentativa de sequestro na Barra da Tijuca, o secretário José Mariano Beltrame ordenou à PM a apuração rápida e exemplar do ocorrido”. Ainda segundo a nota, o secretário “determinou que os responsáveis sejam submetidos ao processo de expulsão sumária da corporação”. O texto termina afirmando: “Para o secretário, é inadmissível que uma polícia que busca a pacificação tenha policiais com esse tipo de conduta em suas fileiras”.

A Polícia Militar, que antes da divulgação das imagens vinha mantendo a versão dos agentes, também emitiu nota à noite, afirmando que a Corregedoria da PM e o comando do 31º BPM decidiram “lavrar auto de prisão em flagrante do policial identificado como autor do disparo que feriu a perna do criminoso participante de sequestro-relâmpago”.

PM instaura averiguação
A nota informou ainda que a PM iria “recolher à unidade prisional da PM o policial já identificado”. A PM anunciou ainda que instauraria uma averiguação sumária, onde será apurado se houve conivência ou prevaricação dos outros policiais que aparecem no vídeo. A nota termina afirmando que “ações como as que aparecem no vídeo não condizem com a Polícia Militar que hoje participa de forma ativa do processo de pacificação das comunidades do Rio”. Para a corporação, “fatos como esse devem ser punidos com os rigores da lei”.

Antes da exibição das imagens, os PMs contaram uma versão completamente diferente: em entrevista aos jornalistas que cobriam o caso, ainda na Barra da Tijuca, disseram que os bandidos foram surpreendidos por uma blitz, quando tentavam fugir após fazerem reféns uma motorista e seu sobrinho. Eles contaram ainda ter havido perseguição e troca de tiros. Um dos PMs chegou a dizer aos repórteres:

— Reagimos a uma injusta agressão.

Os PMs disseram ainda que a mulher dirigia acompanhada do sobrinho, pela Avenida Lúcio Costa, quando foi abordada por quatro homens que estavam em outro carro. Os homens saíram do veículo e fizeram os dois reféns, que não ficaram feridos.

O batalhão do caso desta terça-feira é o mesmo onde eram lotados os PMs suspeitos de participação no assassinato da engenheira Patrícia Amieiro, desaparecida desde junho de 2008, quando seu carro, com marcas de tiros, foi encontrado na Lagoa da Tijuca, na Barra. Os policiais são acusados por homicídio doloso qualificado e ocultação de cadáver.

A cena desta terça-feira lembra as imagens de 1995 captadas por um cinegrafista da TV Globo mostrando a execução do assaltante Cristiano Mesquita, em frente ao Shopping RioSul. O autor do crime, o cabo Flávio Ferreira Carneiro, sem saber que estava sendo filmado e já com o assaltante dominado, atira contra o homem. O PM acabou condenado a mais de 20 anos de prisão pela execução, mas ficou preso apenas três anos. Em novembro de 1998, ele ganhou liberdade condicional.

O cabo Flávio participava de uma blitz na frente do RioSul quando percebeu que um ladräo, com dois cúmplices, acabara de assaltar uma drogaria no interior do shopping. Houve perseguição e troca de tiros. Cristiano Moura Mesquíta, de 20 anos, já imobi1izado, foi arrastado para trás de uma Kombi e morto pelo cabo Flávio com três tiros. Ele ainda teve a cumplicidade de outros policiais que participavam da operação. A execuçäo ocorreu pouco depois da abertura do shopping e foi presenciada por dezenas de pessoas, inclusive por uma equipe da TV Globo, que gravou tudo.

 

 

Fonte: O Globo

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