Pai investiga morte do filho sozinho e ajuda a colocar cinco PMs na cadeia

O pai de uma das vítimas não aceitou as explicações dadas pela polícia e investigou o caso por conta própria. Com o que ele descobriu, acabou motivando a prisão dos suspeitos.

Em São Paulo, a promotoria vai denunciar os cinco PMs envolvidos na morte de dois jovens por homicídio duplamente qualificado. É um caso impressionante. O pai de uma das vítimas não aceitou as explicações dadas pela polícia e investigou o caso por conta própria. Com o que ele descobriu, acabou motivando a prisão dos suspeitos.

A coragem e a determinação desse pai ajudaram a colocar os PMs na cadeia. Os policiais foram acusados de forjar a cena do crime. A Justiça aceitou a denúncia e decretou a prisão temporária deles por 30 dias. Outros crimes recentes, envolvendo policiais militares, têm assustado a população.

Faz um mês que César Dias de Oliveira e Ricardo Tavares da Silva, ambos de 20, morreram na rua. O boletim de ocorrência diz que eles estavam em uma moto e teriam resistido à ordem de parar e atiraram nos policiais, que reagiram. Segundo os PMs, na troca de tiros, os jovens acabaram atingidos. Foram levados para o hospital e morreram.

O pai de um dos rapazes não acreditou na versão da polícia. Saiu do hospital e foi direto para o local do crime, onde encontrou a moto praticamente intacta e muito sangue no chão. Levantou suspeita e fez com que ele partisse para uma investigação pessoal.

A moto foi o primeiro detalhe que chamou atenção do pai de César. “Ela estava caída, sem danos nenhum, imagina uma moto caindo a 100 por hora, em uma descida dessa. Ela estaria toda ralada, quebrada, arrebentada, e os meninos também, não só a moto”, falou Daniel Eustáquio de Oliveira, funcionário público municipal.

E os tiros indicavam que eles não estavam em fuga. “A policia está te perseguindo e atirando em você, como se toma tiro no peito pelo lado esquerdo, a moto estava caída para o lado esquerdo e os cartuchos estão todos no lado direito das pessoas, a 10 metros de distância da moto”, completou o pai.

Ele também foi atrás de testemunhas e descobriu que pouco antes do crime, policiais entraram em confronto com traficantes em uma favela próxima. A promotoria acredita que César e Ricardo podem ter sido confundidos com criminosos.
“Quiseram modificar os fatos, entrojar situações, armas e outras condições para se colocar em estado de legítima defesa, e dizer claramente que estavam se defendendo daqueles que foram mortos, que teriam agredido e atirado neles”, aponta o promotor José Carlos Cosenzo.

Com a ajuda de seu Daniel, os cinco policiais foram presos. “Na beira do tumulo dele eu prometi: meu filho, eu vou provar que você era inocente, que não era bandido, eu vou até o inferno pra provar isso e graças a deus cumpri”, disse o pai.

Casos parecidos têm preocupado a sociedade. Em Guarulhos, na grande São Paulo, dois soldados estão presos e outros três foram afastados do trabalho. Com base em imagens, o carro dos policiais estacionado na rua onde Caique Lima, de 18 anos, e Matias do nascimento, de 19, foram vistos pela ultima vez, no dia 12 de julho.

Duas testemunhas contaram que viram os rapazes serem abordados por PMs na noite do desaparecimento. “O pai vai sempre à delegacia, necrotério e matagais das redondezas. Nada”, contou Adriana Félix, tia de Matias.

No mês passado três policiais foram presos, suspeitos pela morte do publicitário Ricardo Aquino, na capital paulista. Os PMs alegam que ele não obedeceu a uma ordem pra parar, foi perseguido, e morreu baleado ao estacionar o carro. Um habeas corpus soltou os PMs.

Só no primeiro semestre deste ano, 229 pessoas foram mortas em confrontos com policiais militares. Para a pesquisadora, Viviane Cubas, do Núcleo de Estudos da Violência da universidade de São Paulo, o comando da polícia precisa mostrar que é contra o uso excessivo da violência para manter a credibilidade diante da população.

“A primeira prejudicada pode ser ela e também a população, que se sente cada vez mais desprotegida e sem ter com quem contar nos assuntos relacionados a segurança”, diz a pesquisadora.

O Bom Dia Brasil pediu uma entrevista com o comandante da Polícia Militar de São Paulo. A PM se limitou a divulgar uma nota em que diz que não compactua com qualquer tipo de irregularidade praticada por seu efetivo e que a corregedoria apura, rigorosamente, toda e qualquer ocorrência onde haja indício de irregularidade por parte de PMs.

Fonte: G1

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