A igreja pertence ao pastor Marcos Pereira, preso na noite da última terça-feira pela acusação de abuso sexual de duas fiéis
A polícia investiga pelo menos 20 estupros ocorridos dentro da Igreja Assembleia de Deus dos Últimos Dias, do pastor Marcos Pereira, preso na noite da última terça-feira, pela acusação de abuso sexual de duas fiéis no Rio de Janeiro. Segundo o delegado Marcio Mendonça, titular da Delegacia Especial de Combate às Drogas (DCOD), há provas da ocorrência de seis estupros, e vários crimes semelhantes podem ter ocorrido, inclusive contra crianças e adolescentes. Os estupros aconteciam, principalmente, na sede da igreja, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Há também relatos de orgias e abusos sexuais tanto na igreja, quanto no apartamento apontado pela polícia como residência do pastor, situado na avenida Atlântica, em Copacabana, um dos endereços mais nobres do Rio. Segundo a investigação, o imóvel está avaliado em R$ 8 milhões.
“Ele lidava com pessoas muito pobres, que necessitavam de ajuda espiritual. Ele se aproveitava disso. Em princípio, pelo convencimento. Em último caso, ele usava a força”, declarou o delegado.
O pastor Marcos Pereira está sendo investigado ainda pelos crimes de homicídio, associação para o tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. Mendonça pontuou que há indícios de que Pereira recebia dinheiro da facção criminosa Comando Vermelho (CV) e comprava imóveis e veículos, além de abrir empresas. Ainda de acordo com o delegado, há relatos de que bandidos e armas eram escondidos na sede da igreja liderada pelo pastor.
“Ele é uma pessoa perigosa. As pessoas que pensavam em denunciá-lo tinham medo. Tudo indica que ele tinha uma relação bem estreita com o tráfico de drogas”, disse Mendonça, salientando que Pereira chegou a visitar, em duas ocasiões, o traficante Márcio Nepomuceno dos Santos, o Marcinho VP, ex-chefe do tráfico no Complexo do Alemão, dentro de um presídio federal.
A investigação também verifica a participação de Pereira em quatro assassinatos. Um deles seria de uma fiel que teria sofrido tentativa de violência sexual do pastor e decidiu apurar o que acontecia na igreja. Ela teria descoberto orgias dentro do templo e no apartamento de Pereira, nas quais haveria também relações homossexuais. Ela foi morta em 2006, e um sobrinho de Pereira foi condenado pelo crime.
A polícia tem relatos de uma jovem que foi abusada durante oito anos dentro da igreja. Segundo as investigações, ela era estuprada desde os 14 anos e forçada a participar das orgias. A ex-mulher de Pereira, Ana Madureira, também acusa o pastor de estupro.
As investigações começaram há pouco mais de um ano, após denúncias feitas pelo líder da ONG Afroreggae, José Junior, de que Pereira tinha ligações com o tráfico de drogas. Na época, Junior e Pereira travaram um intenso bate-boca pela mídia, com trocas de acusações.
Pereira ganhou notoriedade por evangelizar traficantes, mediar rebeliões em presídios e conseguir livrar pessoas condenadas à morte pelo tráfico dentro de comunidades. Segundo o delegado Marcio Mendonça, tudo isso não passava de encenação combinada com os bandidos. O objetivo era dar visibilidade ao pastor na mídia, e convencer o público de que criminosos eram regenerados por ele.
O pastor foi encaminhado para o Complexo Penitenciário de Bangui, onde ficará em cela comum. Ele teve prisão preventiva decretada pelo juízes Ricardo Fairclough e Ana Helena Mota Lima, da Vara Criminal de São João de Meriti. Ao deixar a delegacia de São João de Meriti, diversos fiéis se aglomeraram em frente ao distrito policiail para apoiar Pereira.