Existem debates que batem cartão nos grupos sobre feminismo na internet. Além do clássico “por que vocês não pedem alistamento militar obrigatório para mulheres, hein, suas hipócritas”, há o recente “por que eu, homem, não sou bem vindo no movimento feminista?”.
Partindo de uma definição rápida do movimento, aquele que busca igualdade entre os gêneros perante a sociedade, é quase automático que a gente bote a mão na cintura e fale que sim, não aceitar homens está de fato errado. Estamos fazendo com eles o que eles fazem com a gente, não?
Então… Não.
Um espaço que acomoda homens e mulheres dentro de um movimento social precisa que, no mínimo, a sociedade a ser discutida já esteja em um nível de equidade satisfatório. Nessa hipótese, não haveria ainda a distinção marcada dos papeis masculinos e femininos e a opressão de um sobre o outro seria inexistente. Infelizmente ainda não estamos lá. As denúncias de machismo dentro dos movimentos estudantis, sociais, políticos e de luta ainda são mais frequentes do que queremos. Se em espaços teoricamente progressistas as mulheres ainda são tachadas, subjugadas, denegridas e atacadas, alguma coisa continua muito errada. Quem nunca tomou um susto com uma opinião ou atitude extremamente machista vinda de um homem do qual não esperava isso? Pelo menos não de forma tão escancarada?
Dessa forma, como é possível colocar em pé de igualdade um espaço unicamente feminino, como alguns grupos feministas, e os espaços mistos?
O feminismo ainda é visto como um movimento violento comandado por mulheres marginalizadas. Ainda há receio em se intitular feminista, como se isso pudesse ser uma ofensa. Ainda temos mulheres que estão se redescobrindo e descobrindo o seu lugar de direito em uma sociedade patriarcal e machista. Ainda estamos engatinhando no empoderamento feminino. Estamos constantemente nos lembrando do que pode ou não pode ser feito contra nós. Estamos olhando meio ressabiadas para a mulher que olha de volta no espelho. Em um momento de aprendizado, de reeducação e de quebra de paradigmas, onde mais estaríamos seguras para exercer o nosso poder e levantar a nossa voz do que em um espaço ocupado por outras que estão no mesmo barco?
Enquanto continuamos rasgando velhos padrões, os homens continuam em um espaço confortável. Nenhum homem precisa ser ensinado a se impor. Nenhum homem precisa descobrir o seu verdadeiro valor em uma sociedade que insiste em mostrar o contrário. Nenhum homem tem seus direitos podados. O poder dos homens está aí para ser exercido e usufruído por eles – sem precisar lutar por isso.
Esperar que as mulheres abracem os homens dentro do movimento feminista neste momento é irreal. Isso não é ser sexista. Isso é ser resistente. Por acaso os quilombos foram acusados de serem racistas ou são símbolos da resistência negra? Por que ainda é tão difícil enxergar o movimento das mulheres como um movimento real, com uma luta digna? Criou-se uma falsa ideia de que não há mais pelo quê lutar e, por isso, o feminismo seria dispensável.
Viva 24 horas como uma mulher e me fale em que pé estamos. Viva 24 horas como uma mulher e me fale se você não ia ter a urgência de um espaço livre e empoderador para mudar a si mesmo e ao seu redor.
Homens, querem participar? Desconstruam o machismo dentro dos seus meios. Apontem o machismo na fala dos seus iguais. Intercedam nas situações de opressão.
Mulheres, abracem as suas irmãs.
Pra saber mais: Campanha Empodere Duas Mulheres