Débora Diniz fala sobre sua experiência na campanha ‘Eu vou contar’, que abre espaço para que mulheres contem suas histórias de aborto
Por Debora Diniz Do Azmina
Eu vou contar. É assim que as mulheres chegam e pedem para contar a história de aborto. Elas não esperam perguntas, falam como se fosse em uma narrativa íntima. Elas sabem que sou eu do outro lado da escuta. Minha fotografia está ali à espera delas. Muitas procuraram saber quem sou e o que faço antes de me escreverem. Sabem que não serão julgadas, só ouvidas. Algumas falam e se vão. Outras falam e esperam que eu diga algo. Pode ser qualquer coisa, em geral, um afago de presença.
Eu vou contar é uma campanha iniciada pela Anis para ouvir histórias de aborto. Não é um confessionário, pois não há penitência. É só um encontro entre vozes e memórias. São histórias apertadas no peito, para umas; histórias já contadas para umas poucas.
Quase todas falam em solidão, alívio, desamparo, dever
É uma combinação intensa de sentimentos, é verdade, e elas sabem disso. Algumas começam mudando a chamada da campanha: “Eu preciso contar”, dizem elas.
Precisamos ouvir histórias de aborto. Elas são lançadas ao silêncio, pelo medo do estigma, do crime e do julgamento. Quando já contadas, foram confidências do afeto, raramente são testemunhos para compartilhamento. Todos os dias mulheres jovens enfrentam a decisão do aborto, por isso conhecer como outras mulheres, de outros tempos e lugares, viveram esta mesma escolha é uma forma de alterar as formas de se falar sobre aborto.
Se falar é libertador, conhecer é transformador.
Divulgue a campanha Eu vou contar. Ela será divulgada no Tumblr da campanha, uma história por semana. Será pública para que todas possamos aprender umas com as outras. As histórias serão anônimas. O telefone é (61) 99183-7425. Mas atente: só conte sua história se ela tiver acontecido há mais de 8 anos. Esse é o tempo seguro para a lei penal que criminaliza o aborto.