Presidente do IPEA, Luciana Servo é eleita Mulher Economista de 2025

17/12/25
Por Leticia Leobet e Mariana Belmont
Uma liderança comprometida com a justiça racial e o desenvolvimento econômico do Brasil

Geledés – Instituto da Mulher Negra celebra o reconhecimento da Presidenta do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA),  Luciana Servo, como Mulher Economista de 2025, título concedido pelo Sistema Cofecon/Corecons. A honraria, anunciada nesta sexta-feira (12), destaca uma trajetória marcada pela excelência técnica, pela defesa da justiça econômica e, sobretudo, pelo compromisso firme com o enfrentamento ao racismo como barreira estrutural ao desenvolvimento econômico do Brasil.

Luciana fez história ao assumir, em 2023, a presidência do IPEA, tornando-se a primeira mulher negra a ocupar o cargo em seis décadas de existência da instituição. A economista, formada pela Universidade de Brasília, com mestrado pela USP e doutorado pela UFMG, atua orientada por uma agenda que integra rigor analítico, responsabilidade pública e compromisso ético com a redução das desigualdades.

Sua eleição é resultado de um processo em quatro fases, envolvendo conselheiros federais, Conselhos Regionais de Economia e a Comissão Mulher Economista e Diversidade. A escolha não apenas reconhece seu mérito individual, mas simboliza um avanço na disputa por narrativas e políticas econômicas que incluam as maiorias sociais historicamente excluídas.

Em sua atuação está pautando a centralidade do racismo na economia brasileira, ao longo de sua trajetória, tem contribuído decisivamente para demonstrar que não existe projeto de desenvolvimento nacional sem enfrentar o racismo estrutural. Seus estudos evidenciam que o racismo corrói a capacidade produtiva do país, limita a inovação, reduz a renda média nacional e aprofunda a desigualdade, afetando, portanto, o PIB brasileiro e a sustentabilidade econômica de longo prazo.

Servo têm sido uma das vozes mais importantes da institucionalidade do governo brasileiro na defesa da inclusão econômica da população negra como estratégia macroeconômica, e não apenas como política social, ao demonstrar que a marginalização econômica de mulheres e homens negros representa uma perda bilionária para o país. Nesse sentido, ela fortalece uma agenda que Geledés há décadas reivindica: o desenvolvimento econômico da população afrodescendente, ao afirmar que sem justiça racial, não há desenvolvimento possível.

Esse compromisso político reforça as parcerias estratégicas realizadas com Geledés neste ano, que tanto potencializa o avanço da discussão de dados desagregados quanto busca influenciar importantes agendas globais como o G20.

Em setembro, durante as celebrações pelos 60 anos do IPEA, Geledés se une ao Instituto, à ONU Mulheres, ao C20 e ao W20 para realizar um evento estratégico no âmbito do T20, grupo de engajamento do G20. O tema central do evento, desenvolvimento econômico da população afrodescendente e o papel dos Bancos Multilaterais e dos Bancos Nacionais de Desenvolvimento

A programação, realizada em Brasília, contou com painéis, grupos de trabalho e um relatório preliminar com recomendações aos bancos de desenvolvimento e ao Estado brasileiro como um todo. O evento reafirma o papel de Geledés e do Ipea na construção de uma economia que reconheça o impacto histórico do racismo e proponha saídas estruturais para superá-lo.

Além disso, podemos destacar o apoio e compromisso para a  realização do Seminário idealizado por Geledés em parceria com outras organizações da sociedade civil sobre Dados de Raça, Gênero e Clima para mapear dados, pesquisas e fontes de informação sobre os impactos da crise climática, considerando os marcadores sociais de raça e gênero. E o Diálogo Estratégico para a COP30, sobre os indicadores de adaptação climática, que foi central nas negociações da Conferência.

Esses e outros compromissos nos levam a entender a escolha de Luciana Servo como Mulher Economista de 2025 como um marco político para o país. Sua presença no comando do Ipea não apenas rompe com uma tradição excludente, mas abre caminho para que as instituições públicas de pesquisa e planejamento econômico se alinhem, de forma concreta, aos princípios de equidade racial e justiça social.


Leticia Leobet é cientista social formada em Antropologia pela Universidade Federal do Paraná. Atua como coordenadora adjunta na área internacional de Geledés — Instituto da Mulher Negra. Representa Geledés como co-chair do Stakeholder Group de Afrodescendentes nas Nações Unidas e ativista do movimento negro.

​Mariana Belmont é jornalista, pesquisadora, assessora de clima e racismo ambiental de Geledés – Instituto da Mulher Negra e organizadora do livro “Racismo Ambiental e Emergências Climáticas no Brasil” (Instituto de Referência Negra Peregum e Oralituras, 2023).

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