Um breve resumo do tráfico transatlântico de escravos –Parte IV
(Emory University) no Slave Voyages
Tendo delineado as principais forças que moldaram o tráfico, podemos agora apresentar um curto relato do tráfico de escravos. Os primeiros africanos forçados a trabalhar no Novo Mundo partiram da Europa e não da África, no início do século XVI. Poucas embarcações transportavam apenas escravos nesta rota inicial, de modo que a maioria atravessava o Atlântico em grupos menores, em embarcações com também muitos outros produtos. Uma tal rota de escravos só foi possível porque um extenso tráfico de escravos africanos da África para a Europa e as ilhas do Atlântico já existia meio século antes do contato colombiano, de modo que dez por cento da população de Lisboa era negra em 1455, (2) e escravos negros eram comuns em grandes propriedades no Algarve português. A primeira viagem negreira que foi direto da África para as Américas provavelmente ocorreu em 1526. Antes de meados do século, todos os navios negreiros transatlânticos vendiam seus escravos no Caribe espanhol; as minas de ouro em Cibao, Hispaniola, eram grandes compradoras. Cartagena, na atual Colômbia, foi o primeiro destino na América Espanhola continental de um navio negreiro — no ano de 1549. Do lado africano, a grande maioria das pessoas envolvidas nos primeiros tempos do tráfico de escravos vinham da costa da Alta Guiné, tendo passado inicialmente pelas feitorias portuguesas em Arguim, e mais tarde nas ilhas de Cabo Verde. No entanto, a viagem de 1526 partiu de outra grande feitoria portuguesa na África Ocidental — São Tomé, no golfo de Biafra — embora seja quase certo que os escravos eram provenientes do Congo.
O tráfico de escravos para o Brasil, que acabou sendo responsável por cerca de quarenta por cento deste comércio, teve início em torno de 1560. O açúcar impulsionou esse tráfico, à medida que os africanos foram substituindo gradualmente a força de trabalho indígena utilizada nos primeiros engenhos de açúcar no período de 1560 a 1620. Quando os holandeses invadiram o Brasil em 1630, Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro estavam fornecendo quase todo o açúcar consumido na Europa, e quase todos os escravos que o produziam eram africanos.
Conforme foi visto na análise dos ventos e correntes marítimas do oceano Atlântico acima, havia em 1640 dois grandes ramos de operação do tráfico de escravos transatlântico: um para o Brasil e outro para as Américas Espanholas continentais. Juntos, porém, eles eram responsáveis por menos de 7.500 partidas por ano de toda a África subsaariana, quase todas elas, a partir de1600, da África Centro-Ocidental.
A cultura açucareira se expandiu para o Caribe Oriental a partir do início da década de 1640. O consumo de açúcar aumentou de forma constante na Europa, e o sistema escravista iniciou dois séculos de expansão para o oeste, avançando pela América do Norte tropical e subtropical. No final do século XVII, as descobertas de ouro, primeiro em Minas Gerais e mais tarde em Goiás e em outras partes do Brasil, deram início a uma transformação no tráfico de escravos que provocou uma expansão ainda maior desse comércio.
Na África, além de Angola, os golfos de Benim e Biafra tornaram-se grandes fontes de abastecimento, e a eles se uniram mais tarde as zonas de proveniência mais marginais de Serra Leoa, Costa do Barlavento e sudeste da África.
O volume de escravos transportados chegou a trinta mil por ano na década de 1690, e a oitenta e cinco mil um século mais tarde. Mais de oitenta por cento dos africanos incorporados ao tráfico durante toda a era do comércio negreiro fizeram suas viagens durante o período de um século e meio iniciado em 1700.
leia também:
Um breve resumo do tráfico transatlântico de escravos PARTE I
A escravização de africanos PARTE II
Agência e resistência africanas PARTE III