Introdução
Parte I
(Emory University) no Slave Voyages
O tráfico de escravos transatlântico foi o maior deslocamento forçado de pessoas a longa distância ocorrido na história, tendo constituído, até meados do século XIX, o maior manancial demográfico para o repovoamento das Américas após o colapso da população ameríndia.
Cumulativamente, até 1820, para cada europeu quase quatro africanos haviam atravessado o Atlântico, e, dadas as diferenças nos índices de gênero entre os fluxos de migrantes europeus e africanos, cerca de quatro em cada cinco mulheres que atravessaram o Atlântico vinham da África.
A partir do final do século XV, o oceano Atlântico, anteriormente uma enorme barreira que impedia a interação regular entre os povos que habitavam os quatro continentes banhados por ele, tornou-se uma via comercial que integrou as histórias da África, Europa e Américas pela primeira vez.
Como os números acima indicam, a escravidão e o tráfico de escravos foram os sustentáculos desse processo.
Com o declínio da população ameríndia, a mão de obra trazida da África constituiu a base da exploração do ouro e dos recursos agrícolas dos setores de exportação das Américas, tendo o cultivo de açúcar absorvido mais de dois terços dos escravos transportados do outro lado do Atlântico pelas grandes potências europeias e euro-americanas.
Por vários séculos, os escravos foram a razão mais importante para o contato entre europeus e africanos.
Como explicar essa migração extraordinária, organizada inicialmente em um continente onde a instituição da escravidão havia diminuído ou totalmente desaparecido nos séculos anteriores ao contato colombiano, e onde, mesmo quando existente, nunca tinha sido confinada a um grupo específico de pessoas?
Para colocar a questão de forma diferente: por que a escravidão, e por que os escravos trazidos do outro lado do Atlântico foram exclusivamente africanos?
A resposta mais direta para a primeira dessas duas perguntas é que a expansão europeia para as Américas se dirigiu principalmente para áreas tropicais e semitropicais. Vários produtos que ou eram desconhecidos dos europeus (como o fumo) ou atendiam a um público europeu reduzido antes da expansão nas Américas (como ouro ou açúcar) agora podiam ser produzidos pelos europeus em abundância.
Mas embora os europeus pudessem controlar a produção de tais mercadorias exóticas, tornou-se evidente nos dois primeiros séculos após o contato colombiano que eles optaram por não fornecer a mão de obra que faria tal produção possível.
O fluxo de imigrantes livres e servos temporários vindos da Europa nunca foi suficiente para atender às necessidades de trabalho das plantations em expansão. Os forçados e os prisioneiros — os únicos europeus que já haviam sido obrigados a migrar — também representavam um contingente muito reduzido.
A escravidão ou alguma forma de trabalho sob coação era a única opção possível para que os consumidores europeus pudessem ter acesso a mais produtos tropicais e metais preciosos.
leia também:
Um breve resumo do tráfico transatlântico de escravos PARTE I
A escravização de africanos PARTE II
Agência e resistência africanas PARTE III