Brasil, um país africano – professor Luiz Felipe de Alencastro

O Instituto Lula publica hoje uma série de seis vídeos de uma entrevista com o professor Luiz Felipe de Alencastro, da Sorbonne e da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Relembrando a história das relações do Brasil e África desde a escravidão até as previsões de boom populacional no continente para a primeira metade deste século. Ele conta que a escala da escravidão no Brasil foi única no planeta. “O poema Navio Negreiro não foi escrito na Argentina, foi escrito no Brasil”, lembra.

O professor Alencastro é claro ao dizer que “a África é um continente que está sendo disputado”, e o Brasil tem um papel importante nisso. Além das empresas brasileiras que estão se instalando no continente, o Brasil começou programas de cooperação, especialmente nas áreas de agricultura e saúde e políticas públicas brasileiras de combate à fome e à miséria estão sendo estudadas por governos africanos. Uma delas, o Programa Aquisição de Alimentos, já está sendo implementada.

Àfrica, um continente em disputa

Até 1850, entraram no Brasil oito vezes mais africanos do que portugueses. Eram homens e mulheres que eram trazidos para cá com o objetivo exclusivo de trabalhar. “Nessa época, o Brasil em grande medida foi um país construído por mãos africanas”, conta o professor Alencastro.

Brasil, um país africano

O Brasil é o país com maior número de afrodescendentes fora da África, e mesmo assim ficou mais de um século praticamente sem qualquer relação com o continente após a proibição do tráfico negreiro. Entre 2002 e 2010, a corrente comercial entre Brasil e África mais do que triplicou, o Brasil abriu 19 novas embaixadas no continente e o estreitamento dessa relação prossegue com o governo Dilma. Mas foi só a partir de 1976, com a criação da PNAD, que ficou clara a situação de segregação racial em que viviam os afrodescendentes no Brasil, quase um século após a abolição.

O papel do Brasil na escravidão e o engodo da democracia racial

Numa passagem até hoje pouco estudada nas escolas, o professor lembrou que, desde a proibição do tráfico negreiro, em 1831, até a abolição da escravatura, mais de 700 mil africanos chegaram ao país. A escravização desses homens e mulheres era ilegal até mesmo para as leis brasileiras da época. “E isso foi ocultado a eles e a seus descendentes até 1888 [quando acabou a escravidão]“. No momento da abolição, muitos afrodescendentes enfrentaram as políticas de branqueamento da sociedade e, além de serem deixados à própria sorte, muitos foram perseguidos.

O imigrante foi incorporado, o escravo foi largado à própria sorte

O professor falou não só sobre a escravidão, mas também sobre a situação atual da África. Segundo dados da ONU, a África deve viver um boom populacional nesta primeira metade de século que fará, entre outras coisas, que a Nigéria tenha uma população maior do que a dos EUA. Ou seja, o mundo pode se preparar para um novo desenho geopolítico, no qual o Brasil tem um papel importante.

Boom populacional e tensões na África

 

Veja abaixo o vídeo com o resumo da entrevista:

Fonte: Instituto Lula

+ sobre o tema

13 de maio: Comemorar o que?

O Brasil, ultimo país a abolir a escravidão nas...

Navio negreiro trouxe malária para a América do Sul

Uma equipe de cientistas descobriu que o mais comum...

Série “Negros da Contracosta” mostra a beleza de Moçambique

Durante quase 400 anos, a ilha foi a capital...

Crianças negras retratadas no período pós-abolição dos escravos

Uma pesquisa desenvolvida na UFSCar mostra como crianças negras...

para lembrar

Brasil: Uma história inconveniente

Portugal, Brasil e diversas nações africanas foram responsáveis pela...

Lei Áurea não é motivo de comemoração, afirmam movimento negro e Seppir

A Lei Áurea, que aboliu oficialmente a escravidão no...

1ª mulher em uma nota de dólar é ex-escrava e bateu primeira-dama

Pela primeira vez na história dos Estados Unidos, uma...

Livro analisa o processo escravagista brasileiro

Uma publicação que sintetiza, com riquezas de detalhes, a...
spot_imgspot_img

Comissão da Verdade sobre a Escravidão Negra da OAB SP faz audiência pública sobre o uso de vestimentas religiosas nos ambientes de justiça

Nesta terça-feira (13), a Comissão da Verdade sobre a Escravidão Negra no Brasil da OAB SP (Ordem dos Advogados do Brasil, Seção São Paulo)...

Minas Gerais lidera ranking de resgatados em situação análoga à escravidão no Brasil

Minas Gerais tem o maior número de pessoas submetidas ao trabalho análogo à escravidão. Só em agosto, dos 532 trabalhadores resgatados no país, 204 estavam em terras mineiras, o...

Qual o preço do racismo? A proposta da Califórnia de indenizar cada descendente de escravizados com US$ 1,2 milhão

Alvin Taylor e sua irmã Pearl eram apenas crianças quando as casas de seus vizinhos em Palm Springs, no Estado americano da Califórnia, pegaram...
-+=