Heroísmo e discriminação: No passado, as duas faces do militarismo

Embora a história ao longo dos tempos nos tenha mostrado a importância das organizações militares como fonte de segurança para os inúmeros países existentes em todo o mundo, ela, por outro lado, também evidenciou-nos situações constrangedoras por parte dessas instituições. Nesse sentido, abordaremos dois episódios em específico, a Guerra do Paraguai e a Segunda Guerra Mundial.

Estima-se que no século 19, a guerra contra Solano López tenha dizimado cerca de 30% da população negra do Brasil, isso porque a grande maioria dos nossos militares era formada basicamente por escravos. Realidade esta vivenciada pelos integrantes do 9º batalhão, unidade pertencente à Marinha Brasileira durante o episódio do Riachuelo. Nesse conflito, esse efetivo (todos negros) sagrou-se vitorioso ao afundar um navio inimigo. Tal feito fez com que o cadete Antônio Francisco Mello fosse promovido à patente de capitão. Por ele ser negro, e sendo branca a maioria dos oficiais do militarismo brasileiro do século 19, então “o racismo da marinha manifestou-se afastando-o do comando das batalhas, transferindo-o para a disciplina das companhias negras, livrando os oficiais brancos do incômodo relacionamento com um ex-escravo”.

Oitenta anos depois, aos 22 anos, Doris Muller, então cozinheiro do navio de guerra americano USS West Virginia viveria algo semelhante, porém, trágico. Mesmo sendo o responsável pela alimentação e organização do fardamento dos tripulantes da embarcação, Muller, nas horas vagas, gostava de praticar boxe. Por ser muito grande, rapidamente se tornou o melhor boxeador entre todos os marinheiros americanos, no entanto, essa rotina viria a ser modificada no dia 7 de dezembro de 1941, quando o cozinheiro virou “atirador”.

Parte da frota naval americana estava fundeada em Pearl Harbor, onde entre esses navios estava o USS West Virginia. O inesperado ataque japonês culminou com a morte de 130 militares dos 1541 homens, e Muller, mesmo não sabendo atirar, assumiu “uma das metralhadoras Browning calibre 50 e começou a disparar contra os nipônicos. Teria derrubado cinco aviões japoneses até ficar sem munição”. Pelo feito, em 1942 ele foi homenageado pela marinha, mas ao invés de usufruir do merecido descanso, como seus companheiros, o cozinheiro foi transferido para outro navio, o Liscone Bay. Essa embarcação foi a pique por um torpedo japonês em 1943, na Batalha de Tarawa, e o corpo do militar negro jamais foi encontrado.

Segundo Alexandre Rodrigues e Moacir Assunção, Doris Muller “não recebeu a medalha de honra, a mais alta condecoração militar americana, nem mesmo quando ela foi concedida postumamente a 15 homens – todos brancos – que lutaram na defesa do Pearl Harbor”. E infelizmente essa realidade estendeu-se a todos os militares negros durante e após o conflito.

Fonte: Atribunanet

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