Primeiro museu etnográfico do Rio de Janeiro dedicado às Comunidades Tradicionais de Terreiros, o Museu Memorial Iyá Davina, é reinaugurado por Mãe Meninazinha de Oxum

A dirigente do Ilê Omolu Oxum e uma das principais referências do candomblé no país, Mãe Meninazinha de Oxum, reinaugura no próximo dia 29 de maio (sáb) o Museu Memorial Iyá Davina, às 18 horas, nas redes sociais do Ilê. Criado em 1997, em homenagem à Iyá Davina, o museu reúne um acervo de objetos sagrados e de uso rotineiro, fotografias e documentos guardados pela matriarca, configura-se também como uma importante coleção etnográfica para pesquisa e preservação da memória dos povos de matriz africana. Reconhecido como o primeiro museu memorial do gênero no estado do Rio de Janeiro, o Museu Memorial Iyá Davina possui um acervo com mais de 120 itens inventariados e recebe, desde então, a atenção das comunidades tradicionais afro brasileiras das mais variadas partes do país, além de estudantes, pesquisadores e turistas. A instituição museológica é registrada pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) e se apresenta como uma das únicas opções de museus no município de São João de Meriti, localizado na região metropolitana do Rio.

Mãe Meninazinha de Oxum revela que este legado faz parte da história e precisa ser tratado com todo o respeito que merece. ”Ao longo dos anos, procurei seguir os passos de minha avó materna e também minha mãe de santo, para preservar o nosso patrimônio. Eu queria um espaço para contar a nossa história: um museu de memórias e de preservação deste acervo. Um objeto em especial me despertou para esta ideia, o banquinho de madeira da minha avó. A partir daquele objeto, comecei a reunir os outros e percebi que tínhamos uma coleção importante”, relembra Mãe Meninazinha. Ela conta, também, que criar um museu como este não foi tarefa fácil. ”Na época, parecia maluquice ter um museu num terreiro, mas conseguimos o fato inédito de criar, ainda nos anos 90, um museu dedicado a abrigar uma parte da memória do candomblé a partir da trajetória da nossa família de axé”,conclui a Iyalorixá, que é a principal liderança do movimento que após longa mobilização da comunidade afrobrasileira, conseguiu a transferência da primeira coleção etnográfica tombada pelo Iphan, em 1937, de objetos sagrados das religiões de matriz africana, da Polícia Civil para o Museu da República.

A curadoria é assinada por Marco Antonio Teobaldo, que atenta para a relevância dos artigos já que, além de revelarem suas trajetórias, permitem manter viva a biografia daqueles que os utilizaram. ”A partir deste acervo inicial guardado ao longo dos anos por Iyá Davina e, posteriormente, com outros itens agregados por Mãe Meninazinha de Oxum, conseguimos construir uma narrativa sobre uma parte do candomblé da Bahia que se deslocou para o Rio de Janeiro no começo do século passado, a organização dos primeiros terreiros e rodas de samba na Região Portuária, o deslocamento dos povos de terreiro para a Baixada Fluminense e a formação destes núcleos de resistência. É importante destacar a ação visionária de Mãe Meninazinha de Oxum quando fundou o Museu Memorial em homenagem à sua avó biológica, tornando-se referência para outros terreiros, que despertaram para a importância da história que podem contar estes objetos. Atualmente, existe uma infinidade de iniciativas similares, em todo o Brasil, que evitam o apagamento da memória do povo de terreiro e contribuem para que estas histórias não sejam contadas de forma distorcida por outras pessoas”; enfatiza Teobaldo que é, também, curador do Instituto de Pesquisa Pretos Novos.

No mesmo dia, o Ilê Omolu Oxum lança o documentário “Balaio de Omolu”, onde Mãe Meninazinha remonta os primórdios da fundação do seu terreiro, na Marambaia, município de Nova Iguaçu, até a sua transferência para São Mateus, em São João de Meriti, revivendo suas lembranças com o grupo de remanescentes daquela época e revisitando o acervo de objetos sagrados do Museu Memorial Iyá Davina. O média-metragem tem 28 minutos e é uma produção da Quiprocó Filmes — dirigido por Fernando Sousa e Gabriel Barbosa, com a co-realização do Ilê Omolu Oxum e da Quimera Empreendimentos Culturais.

Sobre Iyá Davina:

(Salvador, 15 de agosto de 1880 – Rio de Janeiro, 3 de junho de 1964) Ela se mudou em 1920, de Salvador para o Rio de Janeiro , com o seu marido,
Theóphilo Marcelino Pereira, fixando-se inicialmente no bairro da Saúde, Região Portuária. Sua residência serviu de referência e hospedagem provisória
aos conterrâneos que migravam para a cidade, de tal forma que o lugar ficou conhecido como ”Consulado Baiano”. Ela se ligou ao terreiro do Babalorixá João Alabá, localizado à Rua Barão de São Félix, já famoso naquele tempo e frequentado por figuras importantes da cultura carioca. Após a morte do pai de santo em 1926, a casa religiosa mudou-se com a sua sucessora, Tia Pequena de Oxalá e seu esposo Vicente Bankolê, com ajuda de Iyá Davina, para o bairro de Bento Ribeiro , onde permaneceram até 1932. Posteriormente, foram para Mesquita, onde instalaram uma das primeiras ‘roças de candomblé’ da Baixada Fluminense. Com o nome oficial de Sociedade Beneficente da Santa Cruz de Nosso Senhor do Bonfim, a Casa-Grande de Mesquita, após a morte de Tia Pequena, passou a ser comandada por Iyá Davina, até seu falecimento, em 1964, sendo a última Iyalorixá daquela Casa de Axé.

O Governo Federal, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado do Rio de Janeiro, por meio da Lei Aldir Blanc, selecionaram este projeto de revitalização do Museu Memorial Iyá Davina através do edital Retomada Cultural.

** Serviço **

* Reinauguração: Museu Memorial Iyá Davina
Diretora: Mãe Meninazinha de Oxum
Curadoria: Marco Antonio Teobaldo
Data: 29 de maio de 2021 | às 18h
Local: Facebook do Ilê Omolu Oxum

* Documentário Balaio de Omolu
Direção: Fernando Sousa e Gabriel Barbosa – Quiprocó Filmes
Realização: Ilê Omolu Oxum e Quimera Empreendimentos Culturais

Balaio de Omolu, 2021, 28′

Sinopse: A Iyalorixá do Ilê Omolu Oxum, Mãe Meninazinha de Oxum, revive suas lembranças junto a seus filhos e filhas de santo, desde o tempo de fundação de seu terreiro, na Marambaia, município de Nova Iguaçu, até a sua transferência para São Mateus, em São João de Meriti. Tais lembranças são revisitadas a partir do acervo de objetos sagrados do Museu Memorial Iyá Davina. Atotô.

Ficha técnica

Direção e roteiro – Fernando Sousa e Gabriel Barbosa | Fotografia – Lais Dantas | Câmera – Gabriel Barbosa | Prod. Executiva: Fernando Sousa

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