Projeto de moda social une a África ao Brasil através de peças criadas por refugiados no Quênia

Foi em uma viagem ao Quênia, para conclusão de um curso de teatro comunitário, que a catarinense Renatha Flores viveu a epifania que mudaria sua vida. Lá, ela conheceu Jacob Mkombozi, Majaliwa Ekela e Simbi Lokole – seus sócios – e a dura realidade dos refugiados congolenses, burundinenses e ruandeses que viviam no Quênia – fugidos dos horrores da diversas guerras civis, da miséria e de tantos outros males que assolam o continente africano. O grupo procurou então um meio de ajudar essas pessoas através de seus talentos pessoais e do apreço pela profunda riqueza da cultural local.

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Foto: L’Afrikana /Divulgação
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Foto: L’Afrikana /Divulgação

Assim, Renatha, Majaliwa, Simbi e Jacob criaram a L’Afrikana, um projeto de moda social que utiliza tecidos africanos de alta qualidade e mão de obra local, para produzir peças de roupa, estampas e objetos de decoração. “Nós somos vizinhos, amigos e parceiros, foi o amor e a amizade que deram a base para esse trabalho”, conta Renatha. “Eles tem uma situação de vida muito difícil. Uma dessas pessoas próxima a mim e muito querida tem mais de 600 cicatrizes no corpo de facadas, sua esposa já foi estuprada diversas vezes, inclusive um dos filhos deles é na verdade de ‘um inimigo’ de uma milícia que a atacou”.

Os produtos são destinados para o mercado brasileiro e argentino – e o dinheiro arrecadado vai para bancar o projeto, que acolhe os artistas e suas famílias. “No Quênia eles não tem uma vida fácil. São todos refugiados de guerra e chegam ali, num dos lugares mais pobres do mundo e acabam pegando doenças que nunca pegaram na vida”, lamenta. “Vira e mexe alguém pega malária, nós inclusive, ainda com seis meses de projeto perdemos uma pessoa, então é bem complicado”, conclui.

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Foto: L’Afrikana /Divulgação
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Foto: L’Afrikana /Divulgação
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Foto: L’Afrikana /Divulgação
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Foto: L’Afrikana /Divulgação

Tudo isso aconteceu há dois anos. Desde então, a marca cresceu, ganhou a adesão de alguns profissionais da moda, assim como doações de máquinas e equipamentos de costura, financiamentos levantados através de mídias sociais, tornando-se um projeto reconhecido por organismos internacionais de apoio a refugiados.

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Foto: L’Afrikana /Divulgação
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Foto: L’Afrikana /Divulgação

Muitos dos tecidos são pintados à mão, e carregam em suas estampas toda a cultura profunda dos locais onde foram criados, e de onde vieram os artistas responsáveis por essas peças. Cada coleção é idealizada e confeccionada com inspirações diretas das culturas tribais, urbanas ou religiosas de origens diversas – só no Quênia são contabilizados 54 diferentes tribos.

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studio cleber valerio e jordane marques estudio e produção (Foto: L’Afrikana /Divulgação)
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Foto: L’Afrikana /Divulgação

O Quênia, ainda que se trate de um país em crescimento, é uma das mais pobres nações do continente africano. Os envolvidos na produção das peças vendidas pela marca trazem histórias de superações de horrores como estupros, assassinatos, torturas, fome e fuga. Para saber mais dessas histórias, e conhecer os artistas por trás dessas obras, clique aqui.

A marca L’Afrikana acredita que o investimento na criatividade, na cultura e na educação, assim como no trabalho local, são forças importantes para a superação dos horrores que a população do continente africano é submetida – e trabalha arduamente para fazer sua parte. Renatha completa: “O projeto permite que os próprios refugiados ajudem outros refugiados da maneira que eles acham melhor. A escolha da moda como ferramenta veio deles”.

Renatha ainda esclarece que hoje o projeto conta também com atendimento psicológico, pois os refugiados carregam traumas grandes. “Hoje, estamos apostando no suporte psicológico para que eles tenham um desenvolvimento pessoal mais sólido”.

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Foto: L’Afrikana /Divulgação

Por enquanto as vendas acontecem somente em Florianópolis e, a partir do dia 20 de fevereiro, também na loja colaborativa Cada Qual, em São Paulo, mas o desejo é inaugurar em breve um serviço de e-commerce ligado à marca, e assim expandir esse encontro fraterno entre o Brasil e o Quênia para todo o país.

Para saber mais sobre o projeto, visite o site oficial da L’Afrikana aqui.

©Todas as fotos: L’Afrikana – Divulgação

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