Por: LUIZ ZINI PIRES
Aos 32 anos, cidadão de Joanesburg, Lesiba Langa edita a principal revista dedicada ao futebol do continente africano. A Soccer Life sai todos os meses, atrai leitores negros (e indianos) em sua maioria com idades entre 15 e 30 anos. Sua tiragem é de 40 mil exemplares, deve chegar em 50 mil nos próximos meses, flanando nos bons ventos da Copa. A revista é recheada com artigos da Four-Four-Two, a melhor revista de futebol do mundo, editada na Inglaterra, e completada com produção local.
O jornalista Langa recebeu o DC no primeiro andar de um edifício no distrito de Rosebank, abrigo das redações de um jornal dominical. Educado e tranquilo, centroavante nas peladas dos amigos e que agora duplamente feliz com a Copa.
DC – As crianças daqui amam o futebol como as brasileiras?
Lesiba Langa – Não sei dizer, não conheço seu país. Posso afirmar que a Copa do Mundo está abrindo a porta de todos os lares sul-africanos ao futebol. Há uma energia diferente na África do Sul. Nós queremos mostrar ao mundo nossa paixão pelo esporte, queremos dar as boas-vindas aos visitantes, queremos até que os indecisos de última hora venham para cá.
DC – O sul-africano gosta muito de esportes?
Langa – Sim, demais. Temos bom clima, pessoas dispostas, tradição e estrutura para todos os tipos de esporte. Note que Joanesburgo possui três grandes estádios de futebol (Soccer City, Ellis Park e Orlando). Todos são capazes de abrigar qualquer grande partida internacional. Os estádios serão a grande herança que a Fifa vai deixar depois da Copa. Seremos um dos países mais bem equipados do mundo. Espero que seja a energia que esteja faltando para que o futebol cresça realmente no nosso país.
DC – Por que a África do Sul não é forte no futebol?
Langa – As boas perguntas merecem respostas simples. Falta dinheiro, investimento. Observe o que acontece com o rúgbi. Existe uma associação entre Nova Zelândia, Austrália e África do Sul com investimentos pesados e cobertura maciça de jornal, tevê e rádio. Eles se ajudam, se completam. Sabe quanto recebe um jogador de rúgbi anualmente?
DC – Não, nem imagino…
Langa – Pois é, ganha perto de R$ 250 mil por temporada. Um bom jogador de futebol fatura menos de R$ 50 mil. Uma entrada para um jogo de rúgbi custa R$ 70. Quem vai ao futebol gasta R$ 7. Aí vive o problema. Faltam investimento, bons jogadores, mídia.
DC – Quem vai aos estádios de futebol na África do Sul?
Langa – O negro. O branco, em sua maioria, gosta de rúgbi, não se importa com o futebol. É uma questão cultural. Até pode frequentar o estádio em jogos internacionais, mas não prestigia os times locais.
DC – O público na Copa será formado apenas por negros?
Langa – Não, os ingressos custam caro. Muita gente vai aos estádios atraída por jogadores famosos. Não é só um jogo de futebol, é um acontecimento, é Copa do Mundo. As estrelas do futebol atraem todo o mundo, nem que seja por uma vez apenas. Mas logo voltarão para o rúgbi.
DC – Será que os estádios vão pulsar durante o Mundial?
Langa – Serão 90 mil vuvuzelas em cada estádio (risos)… O africano torce de uma maneira diferente. A canção mais popular chama-se Shosholoza, canção dos antigos mineiros e a letra diz mais ou menos assim “Rápido, corra, o trem está chegando e eu quero ir embora, rápido, corra…”. É muito bonito quando o estádio inteiro canta e dança.
DC – Como você acha que os Bafana Bafana se comportarão no torneio?
Langa – Não temos grande jogadores, mas confiamos no nosso técnico, que é brasileiro (Carlos Alberto Parreira)… claro, você conhece. Contratamos um treinador estrangeiro porque os jogadores não respeitam os nossos técnicos. Jogador de futebol precisa de disciplina. Se você não conhece, eu indico um jogador, Tshabalala. É jovem, vai surpreender.
DC – Você acredita no potencial de outras nações africanas?
Langa – Costa do Marfim é a melhor seleção da África, tem grandes jogadores, como Drogba. Teve azar no sorteio. Caiu no mesmo grupo do Brasil e de Portugal. É um problema sério. A sorte não ajudou os africanos. Todos caíram em grupos que são bastante complicados.
DC – Quem vai ganhar a Copa?
Langa – Fico entre Brasil, Argentina, Inglaterra e Espanha. Se Rooney jogar o que sabe, os ingleses têm muita chance. A Argentina conta com Messi, um espetáculo…
DC – Por que o Brasil é a segunda Seleção nos corações dos sul-africanos.
Langa – Fácil. Nós sempre admiramos vocês, o futebol bonito, a bola no chão, o drible, o passe, o lançamento. Vocês sempre ganham, de todo o mundo. Todo mundo quer ser o Brasil com a bola nos pés. Vocês vestem amarelo, como nós, então estes são os motivos.
DC – Qual o jogador brasileiro mais admirado no momento no seu país? Kaká?
Langa – Não diga Kaká, você vai errar. Todo o mundo gosta mais do Ronaldinho Gaúcho. Pergunte nas ruas. Ouça você mesmo as respostas. Agora a pergunta é minha: por que Ronaldinho ficou de fora? Alguém sabe me explicar?
DC – Você, jornalista bem informado, sabe se Nelson Mandela estará na abertura ou no encerramento da Copa, talvez incentivando os Bafana Bafana?
Langa – Não creio. Acho que ele não irá aos jogos. Ele mesmo já disse. É um homem cansado, tem 92 anos, sua saúde é bastante frágil. Mandela gosta muito de esportes, lutava boxe na juventude, era muito bom. Nunca jogou futebol, nem na prisão, que tinha um campo de futebol ao lado das celas. Os dois times de Joanesburgo (Orlando Pirates e Kaiser Chiefs) juram que Mandela torce por um dos dois (risos)… Eu não sei, nunca ouvi nada sobre este assunto. Acho que ele torcia pelos dois (risos).
Fonte: Diário Catarinense
Por: LUIZ ZINI PIRES
Aos 32 anos, cidadão de Joanesburg, Lesiba Langa edita a principal revista dedicada ao futebol do continente africano. A Soccer Life sai todos os meses, atrai leitores negros (e indianos) em sua maioria com idades entre 15 e 30 anos. Sua tiragem é de 40 mil exemplares, deve chegar em 50 mil nos próximos meses, flanando nos bons ventos da Copa. A revista é recheada com artigos da Four-Four-Two, a melhor revista de futebol do mundo, editada na Inglaterra, e completada com produção local.
O jornalista Langa recebeu o DC no primeiro andar de um edifício no distrito de Rosebank, abrigo das redações de um jornal dominical. Educado e tranquilo, centroavante nas peladas dos amigos e que agora duplamente feliz com a Copa.
DC – As crianças daqui amam o futebol como as brasileiras?
Lesiba Langa – Não sei dizer, não conheço seu país. Posso afirmar que a Copa do Mundo está abrindo a porta de todos os lares sul-africanos ao futebol. Há uma energia diferente na África do Sul. Nós queremos mostrar ao mundo nossa paixão pelo esporte, queremos dar as boas-vindas aos visitantes, queremos até que os indecisos de última hora venham para cá.
DC – O sul-africano gosta muito de esportes?
Langa – Sim, demais. Temos bom clima, pessoas dispostas, tradição e estrutura para todos os tipos de esporte. Note que Joanesburgo possui três grandes estádios de futebol (Soccer City, Ellis Park e Orlando). Todos são capazes de abrigar qualquer grande partida internacional. Os estádios serão a grande herança que a Fifa vai deixar depois da Copa. Seremos um dos países mais bem equipados do mundo. Espero que seja a energia que esteja faltando para que o futebol cresça realmente no nosso país.
DC – Por que a África do Sul não é forte no futebol?
Langa – As boas perguntas merecem respostas simples. Falta dinheiro, investimento. Observe o que acontece com o rúgbi. Existe uma associação entre Nova Zelândia, Austrália e África do Sul com investimentos pesados e cobertura maciça de jornal, tevê e rádio. Eles se ajudam, se completam. Sabe quanto recebe um jogador de rúgbi anualmente?
DC – Não, nem imagino…
Langa – Pois é, ganha perto de R$ 250 mil por temporada. Um bom jogador de futebol fatura menos de R$ 50 mil. Uma entrada para um jogo de rúgbi custa R$ 70. Quem vai ao futebol gasta R$ 7. Aí vive o problema. Faltam investimento, bons jogadores, mídia.
DC – Quem vai aos estádios de futebol na África do Sul?
Langa – O negro. O branco, em sua maioria, gosta de rúgbi, não se importa com o futebol. É uma questão cultural. Até pode frequentar o estádio em jogos internacionais, mas não prestigia os times locais.
DC – O público na Copa será formado apenas por negros?
Langa – Não, os ingressos custam caro. Muita gente vai aos estádios atraída por jogadores famosos. Não é só um jogo de futebol, é um acontecimento, é Copa do Mundo. As estrelas do futebol atraem todo o mundo, nem que seja por uma vez apenas. Mas logo voltarão para o rúgbi.
DC – Será que os estádios vão pulsar durante o Mundial?
Langa – Serão 90 mil vuvuzelas em cada estádio (risos)… O africano torce de uma maneira diferente. A canção mais popular chama-se Shosholoza, canção dos antigos mineiros e a letra diz mais ou menos assim “Rápido, corra, o trem está chegando e eu quero ir embora, rápido, corra…”. É muito bonito quando o estádio inteiro canta e dança.
DC – Como você acha que os Bafana Bafana se comportarão no torneio?
Langa – Não temos grande jogadores, mas confiamos no nosso técnico, que é brasileiro (Carlos Alberto Parreira)… claro, você conhece. Contratamos um treinador estrangeiro porque os jogadores não respeitam os nossos técnicos. Jogador de futebol precisa de disciplina. Se você não conhece, eu indico um jogador, Tshabalala. É jovem, vai surpreender.
DC – Você acredita no potencial de outras nações africanas?
Langa – Costa do Marfim é a melhor seleção da África, tem grandes jogadores, como Drogba. Teve azar no sorteio. Caiu no mesmo grupo do Brasil e de Portugal. É um problema sério. A sorte não ajudou os africanos. Todos caíram em grupos que são bastante complicados.
DC – Quem vai ganhar a Copa?
Langa – Fico entre Brasil, Argentina, Inglaterra e Espanha. Se Rooney jogar o que sabe, os ingleses têm muita chance. A Argentina conta com Messi, um espetáculo…
DC – Por que o Brasil é a segunda Seleção nos corações dos sul-africanos.
Langa – Fácil. Nós sempre admiramos vocês, o futebol bonito, a bola no chão, o drible, o passe, o lançamento. Vocês sempre ganham, de todo o mundo. Todo mundo quer ser o Brasil com a bola nos pés. Vocês vestem amarelo, como nós, então estes são os motivos.
DC – Qual o jogador brasileiro mais admirado no momento no seu país? Kaká?
Langa – Não diga Kaká, você vai errar. Todo o mundo gosta mais do Ronaldinho Gaúcho. Pergunte nas ruas. Ouça você mesmo as respostas. Agora a pergunta é minha: por que Ronaldinho ficou de fora? Alguém sabe me explicar?
DC – Você, jornalista bem informado, sabe se Nelson Mandela estará na abertura ou no encerramento da Copa, talvez incentivando os Bafana Bafana?
Langa – Não creio. Acho que ele não irá aos jogos. Ele mesmo já disse. É um homem cansado, tem 92 anos, sua saúde é bastante frágil. Mandela gosta muito de esportes, lutava boxe na juventude, era muito bom. Nunca jogou futebol, nem na prisão, que tinha um campo de futebol ao lado das celas. Os dois times de Joanesburgo (Orlando Pirates e Kaiser Chiefs) juram que Mandela torce por um dos dois (risos)… Eu não sei, nunca ouvi nada sobre este assunto. Acho que ele torcia pelos dois (risos).
Fonte: Diário Catarinense