Quando a Globo luta contra o racismo. Já que estamos falando em Oscar

Estava pensando em como estamos sendo engabelados. Caminhamos igual ao burrinho do seu Manel com uma cenoura amarrada ao seu focinho.

por Marcos Romão no MamaPress

Tem uma semana que o Globo e congêneres puxam uma campanha radical contra o racismo, digna de ganhar um Oscar e de botar o movimento por direitos civis dos negros da década de 60 no chinelo. Ilusão? não. É sobre os EUA que eles estão falando, claro!

Descobriram um método eficiente de inocular o “complexo branco de vira-lata” no negro brasileiro.
“Como o negro americano é avançado”, “como o negro americano é bom e o negro brasileiro é uma titica que não faz nada”, ” o negro está abaixo do cocô do vira-lata branco”, são as reações que aparecem na tinta escrita dos negros brasileiros.

A maioria dos negros brasileiros, que não sabem nem se quando forem na padaria vão voltar vivos, jubilam e festejam a “revolta de Spyke Lee” como sua e se sentem dignos de um Oscar, nos EUA é claro.

Virtualizaram e botaram num pacote descartável a nossa luta. A mensagem que tentam passar é: ” Resignem-se negros brasileiros idiotas, vocês não sabem mesmo fazer nada”.

Adiaram as cotas para negros na Academia de Cinema para o ano que vem, mas essa vitória adiada do negro americano, já provoca imensos estragos na organização dos negros brasileiros, que não conseguem ler, que Spyke Lee, que está no topo da pirâmide dos negros representativos no mundo, volta a falar de cotas como os negros americanos dos guetos de 60 falavam.

O grito de Spyke Lee, é uma comprovação nortista-americana, brasileira, mundial, que o racismo transpassa as classes. Seu grito é um grito de mercado, o mercado negro mundial, se a academia não sacar, dança.

O grito de Spyke Lee é também um alerta aos negros brasileiros, que se engabelaram ao se acharem imunes ao racismo, ao galgarem postos governamentais e/ou transitarem nos meios empresariais paulistas e cariocas, catarinenses, rio grandenses, baianos e por aí afora.

Mais do que uma porrada na Academia das Estrelas e no Stablishment Branco, Spyke Lee, deu um tapa com mão de luva, nos negros bem acomodados no sistema branco americano.

É isso que leio no gesto de Spyke. Já notava este movimento de mudança de pensamento entre os negros americanos do norte desde Ferguson. Onde a revolta negra das periferias, pegou todo o “Estabelecimento Negro” dos EUA, de calças curtas.

Aí que vejo um paralelo com o Brasil, com os negros do Brasil. Temos três temas considerados cruciais, que estão no momento na área de pensamento e discussão entre negros no Brasil( há outros).

1- O genocídio dos jovens negros e a “ditadura difusa” sob a qual vivem os negros nas favelas e bairros periféricos.

2- A invisibilidade e ausência nas “Academias de Estrelas Hollywoodianas” que são nossas TVs de canais abertos. Que é um escândalo que até inglês vê, apesar de todas as conquistas do Movimento Negro nos últimos 40 anos, que poderia ao menos ser citado por estas tvs.

3- A cotas nos concursos públicos. Cotas que mais uma vez estão sendo questionadas, com o velhos e derrubados no STF, argumentos de República Escravocrata, desta vez por um juiz de fancaria.
Aí que entra o paralelo Brasil-EUA e que a grande imprensa, perversamente omite: Está novamente mudando o foco da luta negra. que tanto lá como cá foi vertical e priorizou a ascensão social individual.

Tanto lá como cá, os “Estabelecimentos Negros”, estão sendo pegos de calças curtas, diante das novas demandas da juventude negra, que este modelo individualista nunca irá contemplar. Em resumo, “o cara vê que mesmo com um Oscar na mão, ele não passa de um neguinho de Ferguson para o “Estabelecimento Branco”.

O nosso ” Oscar”, onde o bicho tá pegando é o genocídio da juventude negra. O negros norte-americanos nas prisões correspondem a centenas de navios negreiros. Obama tá saindo, e o espírito “Tea Party”, está crescendo na sociedade dos EUA. Aqui no Brasil já temos uma direita que voltou a perder a vergonha e a cada dia demonstra mais o seu racismo.

Estamos igual, guardadas as conjunturas e idiossincrasias nacionais, nós negros de lá e de cá, estamos no mesmo barco e podemos aprender uns dos outros, como muitos estão fazendo dos dois lados.
Cobrar das TVs abertas os nossos ” Oscar-empregos”, da justiça os nossos direitos constitucionais às cotas em todas as áreas e cobrar principalmente do “Estabelecimento Negro” mudar a sua atitude individualista, ou pelo menos parar de emperrar a luta negra no Brasil, é a conclusão que tiro de tudo isto. Não fui educado americanizado. Desde 1970, meu relacionamento com os negros norte-americanos foi de igual para igual. Não podemos cair no complexo branco de vira-latas negros, a luta contra o racismo é mundial.

Estamos todos de calças curtas diante dos racistas, reconhecer isto é o primeiro passo para combatê-los. Só quem reconhece sua fragilidade é que pode ser forte.

 


***Oscar-preto, peixe-oscar ou mesmo Astronotus ocellatus é uma espécie bastante adequada para aquários, e tem um característica que agrada a uns e nem tanto a outros: cresce lentamente, excelente para quem não quer trocar de aquário tão depressa.

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