Ao longo da trajetória que levou Carlos Marighella a virar símbolo na luta por direitos sociais e políticos no Brasil, um dos principais nomes no combate à ditadura militar no Brasil deixou uma produção intelectual intensa.
Nessa lista estão livros sobre a guerrilha, sobre as desigualdades brasileiras, sobre a urgência da reforma agrária e até poemas. Desde jovem, Marighella defendia as ideias socialistas e a liberdade por meio da escrita.
Foi justamente um poema que levou o militante à prisão pela primeira vez, em 1932. Ele publicou versos com críticas ao então interventor do estado, o militar e político, Juracy Magalhães.
Carlos Marighella foi preso novamente em 1939, acusado de subversão pela polícia política do governo de Getúlio Vargas. No cárcere, escreveu os versos Liberdade, em que expressa a profunda conexão com esse ideal.
E que eu por ti, se torturado for / Possa feliz, indiferente à dor / Morrer sorrindo a murmurar teu nome, escreveu durante o período que se estendeu até 1945. Após receber anistia política, ele foi eleito deputado federal pelo PCB.
A partir daí, Marighella passou a atuar mais intensamente na escrita, com artigos publicados em jornais, panfletos e veículos como a revista Problemas da paz e do socialismo. Nem mesmo na clandestinidade parou a produção
Sua militância o levou a ser considerado inimigo número 1 da ditadura militar, que assassinou o guerrilheiro em 4 novembro de 1969. O Brasil de Fato elaborou uma lista de quatro obras essenciais e uma biografia para saber mais sobre o pensamento revolucionário desse personagem histórico.
Manual do Guerrilheiro Urbano
A obra, que circulou secretamente durante a ditadura militar, visava instruir pessoas que participavam da guerrilha urbana no Brasil, mas não ficou somente em território nacional. O tratado prático também foi divulgado por veículos de esquerda em Cuba, na França, na Inglaterra e nos Estados Unidos.
Ele destaca ainda a importância da comunicação para a luta revolucionária e a mobilização popular em reflexões válidas até os dias de hoje. Marighella dedicou o livro “a cada camarada que se opõe à ditadura militar e deseja resistir fazendo alguma coisa”.
O Manual do Guerrilheiro Urbano foi traduzido para diversos idiomas e se tornou uma referência para movimentos de guerrilha em todo o mundo. Sua influência se estendeu para além do âmbito da luta armada, impactando debates sobre segurança, estratégia e resistência política.
Por Que Resisti à Prisão
Neste livro, Marighella descreve em detalhes os eventos que o levaram à resistência contra a ditadura militar e fala sobre sua prisão em 1964, após ser baleado em um cinema no Rio de Janeiro.
Publicada pela primeira vez em 1965 a obra só teve uma segunda edição em 1994. Ela tem apresentação de Antonio Candido, prefácio de Jorge Amado e a ilustração da capa da republicação é baseada no desenho de Oscar Niemeyer para o túmulo de Marighella.
Ele narra em detalhes o dia da prisão, as tentativas da polícia de criar provas de que ele estaria armado, os depoimentos que concedeu e como foi possível até mesmo levar o policial que atirou a julgamento por tentativa de homicídio.
O livro traz detalhes sobre um período inicial da ditadura, em que a censura ainda não era tão exacerbada e a opinião pública influenciava nas condições dos presos políticos. Marighella ficou preso por 80 dias
Chamamento ao Povo Brasileiro
Publicado em 2019, o livro reúne uma seleção de ensaios, cartas, manifestos e poemas de Marighella, organizados por Vladmir Safatle. Ele abrange diferentes períodos da vida do militante, desde os primeiros escritos como estudante até textos produzidos durante a clandestinidade.
Chamamento ao Povo Brasileiro apresenta a diversidade da produção intelectual do militante e acompanha a evolução do pensamento dele, suas críticas ao sistema político e sua busca por alternativas para a transformação social.
Escritos de Carlos Marighella
Esta coletânea reúne diversos textos de Marighella, abrangendo desde análises econômicas até poemas de juventude. Por meio dela é possível entender a trajetória que o levou das fileiras do PCB para a luta armada.
Os textos retratam a formação do pensamento político de Marighella, suas críticas à política, inclusive do PCB, e sua proposta para a revolução no Brasil. Na carta em que anuncia a saída da executiva do partido, ele declara.
“Desejo tornar público que minha disposição é lutar revolucionariamente, junto com as massas, e jamais ficar à espera das regras do jogo político burocrático e convencional que impera na liderança.”
Outro exemplar que compõem o livro é o texto Alguns Aspectos da Renda da Terra no Brasil, publicado em 1958, no qual Marighella discute a questão agrária e a exploração no campo.
Marighella: O guerrilheiro que incendiou o mundo
Escrita pelo jornalista Mário Magalhães e lançada em 2012, a biografia reconstitui a trajetória de Marighella da infância até a morte, com detalhes sobre a vida familiar, política e intelectual do guerrilheiro.
O livro é resultado de uma extensa pesquisa, com 256 entrevistas e documentos de 32 arquivos públicos e privados de cinco países. Magalhães traz informações sobre a paixão do militante pela leitura, a atuação como liderança política, as passagens pela prisão, exílio e outros aspectos.