Quem se apropria culturalmente é a indústria. As pessoas só contribuem

E acredito que entender isso é um ponto super importante.

Por Caio Cesar dos Santos via Guest Post para o Portal Geledés

Certa vez uma amiga branca me perguntou se, o fato dela usar um turbante, era apropriação cultural. Respondi que não necessariamente. E expliquei que a apropriação se daria se uma revista de moda resolvesse chamar ela pra falar sobre turbantes e não uma mulher negra.

E a questão é bem simples. Quando uma revista usa mulheres brancas pra falar sobre turbantes, ela conversa sobre beleza, sobre tendência, sobre estética e/ou adorno. Quando a pauta é com mulheres negras, o papo já é sobre militância, empoderamente, resgate cultural e combate ao racismo. E é por isso que mulheres brancas são chamadas, porque as revistas não querem falar sobre esses “assuntos chatos”. Sem contar que o rosto branco, numa sociedade racista, vende mais.

Outro exemplo que posso trazer é o fato do Macklemore ter ganhado um grammy disputando com o Kendrick Lamar. A apropriação se dá quando a indústria musical tenta popularizar Macklemora e esquecer Lamar. Porque não é o gênero musical que incomoda, e sim a forma como ele é transmitido. A música do Kendrick é muito mais combativa, violenta e nociva a indústria. Suas músicas tocam em assuntos delicados como racismo e a política governamental. Já a música do Lemore não incomoda os ouvidos da América.

Há uma tentativa enorme de negar todo um contexto histórico de luta que permeia a cultura negra. É assim que a apropriação acontece, tornando uma cultura combativa em algo que não incomode o status quo.

Eu, como negro, não tenho poder pra permitir ou proibir qualquer pessoa de usar, cantar ou fazer parte de algo. O que pretendo com esse texto é trazer ao entendimento das pessoas que percebam como a indústria trata uma cultura a partir do momento em que ela se populariza. Que há uma diferença de tratamento quando pessoas brancas e pessoas negras se utilizam da mesma cultura.

Tudo que nós negros queremos é não sermos marginalizados e/ou esquecidos dentro da nossa própria cultura.

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