O correspondente de “O Globo” em Washington, Fernando Eichenberg, escreveu ( edição de25.04.10, p. 10) que Marina Silva estava tendo por lá “tratamento de candidata negra”. Referia-se a alusões da imprensa norte-americana à visita da candidata do PV à Presidência do Brasil.
O diabo é que o comentário da candidata, na matéria do correspondente de “O Globo”, faz crer que sua vivência brasileira é de uma singularidade extremada: “Nunca me senti sofrendo preconceito por ser negra ou mulher”. Não sofri, não sou, estão falando de outra pessoa, de outras vivências.
Mas “outras vivências” não votam? Em princípio, nenhum candidato quer perder poder. Marina talvez nos diga, na terra de Obama, que não percebe movimento significativo na sociedade brasileira que legitime qualquer referência sua a uma identidade de mulher negra.
Mas sua liderança poderia, caso assumisse a identidade negra no processo eleitoral, alargar limites, vencer obstáculos partidários e outros? Sua candidatura poderia simbolizar? Naquele sentido de indicar caminhos e possibilidades futuras?
Antes que a candidata convença alguém da importância histórica da representação política negra, ela mesma teria de ser convencida de que é uma mulher negra. Definitivamente, não é o caso.
Prefiro imaginar a turma do PV argumentando que a temática racial contribui efetivamente para fechar espaços políticos, ao invés de abri-los. Digamos que a candidata esteja mais inclinada a aceitar argumentos assim, amparados em “fundamentos operacionais”.
Isso não excluirá, entretanto, as insinuações de marketing, levianas e artificiosas, que mais ou menos discretamente busquem tirar uma lasquinha aqui, outra ali. Nada diferente das distorções corriqueiras. De prudência em prudência, sabemos até onde pode chegar a vilania eleitoral.
Fonte: Írohin