No começo de setembro, publiquei aqui que “escola deveria ser um lugar seguro de desenvolvimento cognitivo, cultural, social, e de respeito à diversidade, porém tem se revelado uma arena de dor e sofrimento para mais de 10% das crianças e adolescentes” do Brasil.
Volto ao tema 21 dias depois para acrescentar um ponto crucial: educação antirracista é questão de vida ou morte em alguns casos.
Pesquisa divulgada pela Folha semana passada apontou a incidência do racismo no cotidiano das nossas salas de aula. A maioria dos professores (54%) já presenciou casos de racismo envolvendo estudantes em aula, tanto em escolas particulares quanto em públicas.
Cerca de 21% das crianças e adolescentes (negros e brancos) afirmam que colegas pretos e pardos são desrespeitados. Metade diz conviver com situações de desrespeito, desinteresse e vandalismo. Além disso, 33% relatam presenciar situações de agressividade na escola.
Como se tudo isso não fosse ruim o bastante, a tensão racial cresce junto com os alunos.
É o que se infere do aumento do índice de docentes sabedores de casos de discriminação racial a partir do 6º ano: no ensino fundamental 2 chega a 67%, e alcança 86% no ensino médio. A escola, absurdamente, é um ambiente hostil para muitos.
Aterrorizante que pelo menos 30% dos professores (21% dos brancos e 9% dos negros) não saibam o que fazer diante de casos de racismo. E inacreditável que mais de 60% dos gestores de escolas promovam, de fato, debates e ações de letramento racial para o corpo docente.
No livro “Como Ser um Educador Antirracista”, a professora Barbara Carine diz que “a educação é o ato de socializar com as novas gerações os conhecimentos historicamente produzidos”. Ajuda a entender o quanto é inaceitável a indolência na implementação da lei federal 10.639/2003, que há 21 anos tornou obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira nas séries de ensino fundamental e médio das escolas do nosso país.
Neste Setembro Amarelo, mês da campanha nacional de prevenção ao suicídio, é bom lembrar que exclusão e discriminação (o que inclui o bullying) servem de gatilho ao autoextermínio.
Ana Cristina Rosa – Jornalista especializada em comunicação pública e vice-presidente de gestão e parcerias da Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCPública)