Raça Negra: “Fazemos samba romântico, não pagode”

Pela primeira vez na Virada Cultural, banda realiza show na praça da República neste sábado (18); líder Luiz Carlos fala ao iG

“Ainda prefiro achar que fazemos samba romântico”, define Luiz Carlos Paiva, vocalista, compositor e líder do grupo Raça Negra em entrevista ao iG . Formado em São Caetano do Sul, região metropolitana de São Paulo, o grupo ajudou na desmistificação do pagode como “música de malandro”. “Quando começamos, o sambista era associado a botecos e viam muita malandragem. Nós viemos com uma proposta nova, que falava de amor”, explica.

O Raça Negra está em atividade há 30 anos e é dono de sucessos nos anos 1990, como “Cheia de Manias”, composta originalmente por Luiz Carlos em 1974, e “É Tarde Demais”, que ele considera como um “divisor de águas” na trajetória artística. Em 2012, gravaram o DVD “Raça Negra e Amigos”, que contempla vários momentos da banda considerada como umas das precursoras do pagode romântico, título que Luiz Carlos prefere não acatar.

Atração do palco da praça da República dentro da Virada Cultural que acontece em São Paulo neste final de semana , diferentemente do que muitos pensam o Raça Negra não está retomando a carreira. Desde 1983, a banda nunca deixou de existir. “Esse pensamento acontece porque as pessoas estão acostumadas com a televisão”, explica Luiz Carlos. Para o vocalista, a decisão de focar em shows e a ausência em programas de TV fazem com que muita gente acredite que o Raça Negra estivesse parado.

iG: Por que algumas pessoas acreditavam que vocês estão voltando a tocar?
Luiz Carlos: Isso acontece porque as pessoas estão acostumadas com a televisão. Você tem a opção de fazer show ou participar da TV. Em outros lugares, como Minas Gerais e interior de São Paulo, está tudo normal, fazemos muitos shows por lá. As pessoas confundem muito quando você sai um pouco do foco da mídia, o que também é uma opção. Os grandes artistas do País não fazem programas de televisão. Veja o Djavan ou o Roberto Carlos, que só faz show na TV uma vez por ano. Fazer televisão é importante, porque você tem de ficar perto das pessoas, mas é muito esforço. Também faz parte do jogo sair um pouquinho.

iG: Qual é a principal diferença do pagode de quando vocês começaram e do que existe hoje?
Luiz Carlos: Atualmente, o samba virou uma coisa natural na casa das pessoas. Quando começamos, o sambista era considerado malandro, associado a botecos e viam muita malandragem. Nós viemos com uma proposta nova, com o samba romântico que falava de amor e entramos nesse mercado. Na época, o sertanejo estava vindo muito forte com Chitãozinho e Xororó, Milionário e Zé Rico. Nós viemos com uma proposta diferente, de misturar as coisas. Mostramos que também podemos cantar Renato Russo, como eu fiz, para mostrar que o samba pode variar (Em 1992, ele lançou uma regravação de “Será”, de Renato Russo).

iG: Qual é a música mais famosa do Raça Negra?
Luiz Carlos: Acho que “É Tarde Demais”, porque teve recorde de execuções em um dia só e foi um divisor de águas na carreira. Lançamos em 1995 e tocamos em todos os shows. Foi a partir dela que começamos a fazer shows em outros lugares, como na África e América do Sul. Com ela inauguramos o Brazilian Day em Nova York, em 1995.

iG: “Cheia de Manias” também é um hit sempre lembrado, não?
Luiz Carlos: Eu escrevi essa música em 1974, quando trabalhava como diagramador na Folha de S.Paulo. Foi uma época difícil, meu pai tinha morrido, eu tive de cuidar das minhas sete irmãs e parei de estudar. Aprendi a tocar violão, comecei a compor e foi natural. Ela conta a história de um amigo meu que, há muitos anos, me contou sobre a menina que ele gostava: “Ela é brincadeira! Gosto muito dela, mas ela é cheia de mania, cara”.

iG: O grupo surgiu nessa mesma época?
Luiz Carlos: Pensei em montar o meu próprio grupo para cantar músicas de artistas como Jorge Ben Jor e misturar com Martinho da Vila, Tim Maia, Cartola, Roberto Carlos e samba de raiz. Nós fazíamos shows na noite e o engraçado é que as pessoas pediam as nossas músicas próprias. Isso foi em 1983, e a banda ainda se chamava A Cor do Samba. O pessoal do futebol tirava sarro desse nome. Pedi uma opinião de nomes para o pessoal que acompanhava a gente nas casas noturnas e em uma lista estava Raça Negra. Não tem conotação política, apenas achei que era um bom nome.

iG: Você concorda com o rótulo de “pagode romântico”?
Luiz Carlos: Pagode é um ritmo caipira que não tem nada a ver com samba. O Raça Negra e outros grupos como o Só Pra Contrariar estavam vendendo muitos discos e botaram o nome de pagode na época, mas eu ainda prefiro chamar de samba romântico. Colocaram todo mundo que fazia samba como pagodeiro.

iG: Qual é a maior contribuição do Raça Negra para a música brasileira?
Luiz Carlos: A nossa música é uma opção de samba totalmente diferente, que abriu as portas para o samba que vinha até então. A música popular brasileira não tocava nas rádios FM, que recebiam para tocar Madonna e Michael Jackson. As nossas músicas tocaram tanto nas rádios AM, em programas populares como os dos radialistas Eli Correia e Barros de Alencar, que a FM teve de abrir a porta para o Raça Negra. Também fomos os primeiros sambistas a tocar no Canecão (casa de shows do Rio de Janeiro), que era cheio de onda. Até o começo dos anos 1990, nunca tinha entrado nenhum sambista lá e nós abrimos as portas para o samba.

Raça Negra na Virada Cultural
Palco: Praça da República
Quando: sábado (dia 18)
Horário: 18h

 

 

Fonte: iG 

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