Uma mãe é questionada por uma criança por ser branca e ter um filho negro. Por conta da cor da pele, um homem foi sistematicamente barrado no aeroporto ao longo de dez anos. Um garoto recebeu nota baixa por ter pintado pessoas de preto e não de tom rosado. Uma professora sentiu orgulho ao se ver rodeada por seis colegas negros num Instituto Federal. Estes são alguns dos relatos de pessoas que sofreram e enfrentaram racismo e participaram da 2ª edição da Escuta Digital: Histórias sobre Racismo.
Os depoimentos serão ilustrados e divulgados nas plataformas digitais da @ONUBrasil a partir deste sábado, 25 de março, marcando o Dia Internacional em Memória das Vítimas da Escravidão e do Comércio Transatlântico de Escravos. A iniciativa é do Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio).
Educação – Neste ano, o tema para o dia 25 é “Combater o legado do racismo da escravidão através de educação transformadora”. E é justamente a educação a forma encontrada por dois professores para enfrentar o racismo.
A carioca Mônica Pereira da Silva, de 52 anos, conta que fez mestrado e doutorado e trabalhou numa multinacional, mas foi no Instituto Federal de São Paulo (IFSP) que se sentiu representada. Ela trabalhou como professora substituta por dois anos e um dia se deu conta de que estava rodeada por seis professores: “Todos negros. Professores do IFSP. De altíssima competência. Todos eles. Aquela visão encheu meu coração de beleza, gratidão e acolhimento. Senti-me em casa. Pela primeira vez frequentei uma instituição na qual pude ver minha cor de fato representada.”
O mineiro Celso Fonte, de 28 anos, relatou que coordena um projeto de simulação das Nações Unidas em Barbacena, onde este ano jovens de 13 a 26 anos discutirão o tema “Parceria Público Privada contra o Racismo Sistêmico”. “Acreditamos que a educação é a melhor ferramenta para reconstruir a sociedade a partir de relações diplomáticas, éticas e que compactuem com a Declaração Universal de Direitos Humanos. Soluções e ações concretas são cruciais para se construir uma sociedade mais humanizada”, relata.
Preconceito, da piscina ao aeroporto – A paulistana Débora, de 52 anos, conta que estava na piscina de um hotel com o filho de 4 anos quando outra criança perguntou se ela era mãe do garoto. Surpresa, ela respondeu que sim e perguntou o motivo do questionamento: “Você tão branquinha e ele tão pretinho”. O paranaense Elton do Nascimento Santos, de 43 anos, conta que era retido pela Polícia Federal todas as vezes que vinha passear no Brasil durante o tempo em que morou em Portugal, entre 2003 e 2013. A esposa, branca, e os filhos, pardos, nunca eram barrados.
O mineiro Cleunismar Silva, de 42 anos, relata que recebeu uma nota baixa por ter feito um desenho onde pintou as pessoas de preto. A justificativa da professora: o tom de pele das pessoas deveria ser rosado e não preto. Humilhado, ele não queria ir mais a escola, mas ouviu da mãe que ele e os irmãos são iguais a todo mundo e que ser negro é motivo de orgulho.
Estes e outros depoimentos entrarão nos perfis da @ONUBrasil nas redes sociais – Instagram, Facebook, Twitter e TikTok – nesta semana.
Djamila Ribeiro – Entre outras atividades para marcar o comércio transatlântico de escravos, a Assembleia Geral das Nações Unidas está organizando um evento no dia 27 de março com a brasileira Djamila Ribeiro, que tem usado o poder da educação para lutar contra a discriminação de afrodescententes no Brasil. Vencedora do prêmio literário Jabuti 2020, ela é autora do livro Pequeno Manual Antirracista, que tem sido usado em escolas de todo o país. O evento será transmitido ao vivo, em inglês, na TV da ONU, entre 8h e 10h (horário de Brasília).
O Programa sobre Escravidão e Comércio Transatlântico de Escravos tem por objetivo jogar luz sobre a história do comércio de escravos, seu impacto no mundo moderno e seus legados, incluindo racismo e preconceito.
A ONU declarou o comércio transatlântico de escravos um crime contra a humanidade, por sua escala e duração – 400 anos entre o século XV e o final do século XIX. Foi a maior remoção forçada de pessoas na história: entre 12 e 14 milhões de africanos, principalmente da África Ocidental, foram capturados, tiveram seus direitos negados e foram vendidos como escravos.