Racismo de argentinos é registrado em delegacia após jogo no Maracanã

Acusados de imitar macaco e xingar brasileiros na arquibancada, envolvidos são liberados após serem ouvidos. Caso é confirmado pela assessoria da Polícia Civil

Por Vicente Seda – Globo Esporte.com

Rio de Janeiro – Dois casos de racismo na Copa do Mundo de 2014 foram registrados na partida entre Argentina e Bósnia, no Maracanã, neste domingo, encaminhados ao Juizado Especial do Torcedor e, em seguida, para duas delegacias: 17ª, em São Cristóvão, e 19ª, na Tijuca. O atendimento da 19ª DP confirmou que o acusado foi solto, solicitando contato com a assessoria da Polícia Civil do Rio de Janeiro (PCERJ), enquanto a 17ª DP não deu qualquer informação. 

Consultado, o departamento de comunicação da corporação confirmou por email somente o caso da delegacia de São Cristóvão, que teve dois detidos. Eles foram ouvidos e liberados, de acordo com as informações da PCERJ. O caso da 19ª DP não foi localizado pela assessoria da Polícia Civil até a publicação da reportagem.

Um dos torcedores brasileiros envolvidos, que deu queixa contra dois argentinos por racismo, João Marcelo Oliveira, de 37 anos, é branco e relatou xingamentos e gestual imitando macacos direcionados a todos os brasileiros presentes no local, o Setor 2, Corredor 115 do Maracanã. Segundo o torcedor, um grupo de cerca de 50 argentinos se recusava a sentar e, diante de reclamações, chegava a ameaçar quem estava próximo.

– Eu estava bem atrás de uma bandeira de escanteio. Tinha um grupo grande de torcedores argentinos que estava com um comportamento totalmente equivocado. Estavam em pé o jogo inteiro, se recusavam a sentar, não respeitaram seguranças, voluntários, e a polícia não podia entrar. Então desde o primeiro momento houve um estranhamento, ameaças, porque as pessoas estavam reclamando e pedindo para os voluntários e seguranças tomarem uma providência. A gente soube através de voluntários que outras pessoas em outros lugares chegaram a ir embora ou mudar de lugar porque se sentiram ameaçados por argentinos.

Ao relatar como aconteceu a ofensa, ele explicou que foi na hora de uma música comum no estádio: “O Maraca é nosso! A-ha! U-hu!”. Contou que, na hora deste coro, dois argentinos fizeram gestual ofensivo e chamaram todos os brasileiros do local de macacos.

– Eles pegaram o som “a-ha, u-hu” e ficavam repetindo isso fazendo gestos como macaco se coça com as duas mãos lateralmente, e dizendo “brasileiros macacos”. Eu avisei para um deles, que fez o gesto primeiro, que racismo no Brasil é crime. Fiz para ele aquele gesto que a gente faz com quatro dedos como se fosse um xadrez, cadeia, e ele debochou e continuou falando. Quando apontei e disse: “você é um racista”, veio um outro e me deu um tapa na mão. Engrossou o coro de brasileiros macacos. Eu estava com meu pai de quase 70 anos, ficou muito nervoso. A gente saiu do estádio e procurei um policial que estava na rampa. Ele disse que não tinha permissão para entrar, e pediu que identificássemos na saída. Uma amiga minha que estava também muito exaltada reconheceu os dois, que tiraram a camisa para disfarçar e os policiais os detiveram. 

João Marcelo afirmou também que uma voluntária se prontificou a ir ao juizado para depor a respeito do caso: 

– Fomos para o juizado e depois para a delegacia. Uma voluntária se prontificou a ir junto para comprovar que eles estavam lá, estavam em pé e criando problema. Mesmo não identificando nenhum dos dois pelos xingamentos, disse que estavam em um grupo que estava fazendo esse tipo de ofensa contra as pessoas. Falou que teve problema, falou que foi empurrada, que os caras debocharam dela quando disse que chamaria a polícia, disseram que a polícia brasileira não faria nada com eles… Então foram autuados em flagrante por racismo. A gente saiu da delegacia por volta de 2h30. 

Ele reclamou por não ter conseguido assistir à partida na qual Messi marcou seu primeiro gol no Maracanã, bem como a seleção da Bósnia, em seu primeiro Mundial, com o gol de Ibisevic. 

– Pagamos ingresso caro, não conseguimos ver o jogo, foi tenso o tempo inteiro. A torcida de maneira geral cantou músicas ofensivas ao Brasil o tempo inteiro. 

O torcedor relatou também como ficou sabendo do segundo caso, que não foi localizado pela assessoria da PCERJ.

– Houve um outro caso que acredito ter ido parar na 19ª DP. Era pai e filho, o filho adotivo negro, nem era mais um garoto, deveria ter seus 20 anos, e o pai branco. Parece que nesse caso o argentino fez um gesto ofensivo direcionado a eles mesmo. O cara teria fugido na hora porque as pessoas em volta repreenderam, pegaram o cara também na rampa e ele pareceu que confessou chorando que tinha feito o gesto. Ouvi que eles tinham ido para a 19ª. A gente até brincou porque os dois estavam com camisa do Fluminense, nós com camisa do Flamengo, e um deles falou: “Pô, o que vocês estão fazendo aqui, tinha de ser flamenguista”. E aí a gente começou a conversar, e fiquei sabendo que era a mesma denúncia.

 

Fonte: Combate ao Racismo Ambiental

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