O mundo todo ainda está falando do mais recente alvoroço do mundo das celebridades, o anúncio do noivado na realeza britânica entre o Príncipe Harry e a atriz norte-americana Meghan Markle. Será o casamento menos conservador de todos os tempos em torno da família real, apesar de não ser a primeira plebeia aceita – a exemplo de Kate Middleton, a esposa do Príncipe William, a noiva é estrangeira, multiétnica e divorciada, elementos que jamais seriam aceitos como atributos de uma “princesa” por algumas gerações passadas.
Por Geisa Agricio, do Storia
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“Setenta anos atrás, teria sido o tipo de mulher que o príncipe teria como amante, não como esposa”, dizia a manchete do conservador The Spectator. É um ranço de preconceitos e uma forma de manter o estigma do lugar de objetificação da mulher mestiça (Markle é filha de mãe negra e pai branco). O The Sun tentou rebaixar a moça comparando-a com o ar aristocrático de Kate Middleton que “irradia sofisticação” em detrimento à “família divorciada” da atriz que usa “saias de couro justas” e “camisetas largas de algodão”.
Meghan Markle logo após a confirmação oficial de seu noivado, declarou publicamente que esse assédio da imprensa a incomoda e a deixa desconfortável e classificou como “desanimador” esse olhar da imprensa sobre suas origens. Quando o relacionamento se tornou público, causando alvoroço internacional em novembro de 2016, um comunicado oficial da realeza foi lançado em tentativa do Príncipe Harry para protegê-la dos ataques.
“A namorada dele, Meghan Markle, está sendo usada como objeto de abuso e perseguição. Parte disso é público – como a primeira página de um jornal nacional, comentários racistas mascarados, e o nítido sexismo e racismo de trolls das redes sociais e de comentários da web. O Príncipe Harry está preocupado com a segurança da Srta. Markle e profundamente decepcionado que ele não conseguiu protegê-la. Ele sabe que as pessoas falaram que ‘ele é o príncipe, ela tem que aguentar’ e que ‘isto faz parte do jogo’. Ele discorda. Isto não é um jogo, isto é a vida dela e dele“, diziam trechos do texto.
É de se comemorar que uma das mais conservadoras instituições de “nobreza” mostre que os tempos mudaram, que antes de uma certificação de títulos e arranjo entre os de sangue azul, o casamento possa ser uma união por afeto, independentemente das vidas pregressas. Mas a recepção à história de Meghan Markle nos faz pensar que quanto mais elitizado é o lugar que uma mulher negra ocupa, mas lhe será questionado o direito de estar ali.