Racismo é tema de instalação que abre mostra virtual de artistas brasileiros em Paris

Danilo Lovisi é mediador cultural e curador da nova exposição virtual do Centro Cultural do Brasil em Paris – “Tomar Corpo, Prendre Corps” – que será aberta nesta sexta-feira (19) na Maison de L’Amérique Latine, a Casa da América Latina na capital francesa.

Por Márcia Bechara no RFI

“São corpos da diáspora, corpos abstratos, corpos da e na cidade”, diz o curador Danilo Lovisi sobre a exposição virtual “Tomar Corpo, Prendre Corps”, que ficará disponível online e que será aberta nesta sexta-feira com a performance da artista brasileira Fabiana Ex-Souza. A exposição pretende dar visibilidade à produção de artistas brasileiros emergentes e consagrados.

“A ideia de exposição virtual começou em 2016, no Centre Culturel du Brésil, junto com a co-fundadora, Juliana Oliveira, tivemos essa vontade de criar também uma programação virtual do centro cultural. A primeira exposição virtual, em 2016, que abordou o trabalho de dois artistas de Minas Gerais, Arthur Camargos e Davi Nascimento -, chamava-se “La Mémoire Trempée” (“A Memória Encharcada”, em português), são obras ligadas à memória de populações de Minas, tocadas com a transposição do Rio São Francisco. Havia também uma reflexão ligada à memorialização dos objetos”, conta o curador.

“Para esse segundo projeto, “Prendre Corps”, nós criamos um outro modelo. Abrimos uma chamada para artistas do Brasil todo para que eles pudessem enviar seus trabalhos. Recebemos mais de 1,2 mil propostas de cerca de 215 artistas de todo o país, literalmente, cobrindo um total de quase todos os 27 estados”, celebra Lovisi.

“O trabalho de curadoria foi complexo, mas muito instigante, porque tive que encontrar um fio condutor em todos esses trabalhos que foram enviados. O fio condutor que surgiu após analisar todos esses trabalhos foi a ideia de corpo. A gente sabe que o corpo e a arte são indissociáveis, uma questão trabalhada há muitos anos na história da Arte”, afirma.

O trabalho da Fabiana Ex-Souza chegou num momento importante de finalização da curadoria. “Eu tinha preparado essas três partes da exposição, ‘Le Corps Déplacé’ (‘O Corpo Deslocado’), ligado ao corpo político, às questões de gênero e as todas as opressões que podem ser sofridas pelo corpo; a segunda parte é o ‘Corpo da Obra’, ou seja, todas as reflexões dos artistas ligados à questão da obra, do objeto, de negar o objeto; e a última parte fala de um ‘Corpo Abstrato’, artistas que trabalham mais com a abstração na arte, mas que não negam o corpo, eles criam uma espécie de ‘exílio interno’. A obra de Fabiana vem nomear toda a curadoria, ela apresentou no ano passado uma performance chamada ‘Tomar Corpo’, que dialogava muito bem com a ideia”, explica Lovisi.

Saberes dominantes X saberes marginais: o racismo dos Iluministas

“Fabiana Ex-Souza interroga textos racistas de filósofos iluministas. São textos vistos como clássicos, que baseiam toda a formação acadêmica seja no Brasil, seja na França, mas são textos que trazem uma conotação racista bem visível e bem presente. A Fabiana vem interrogar no sentido de colocar numa situação complicada, de tirar o conforto destes textos, a instalação-performance dela se dá em volta de uma torre, uma barreira de livros. Ela questiona esses textos, e ativa seu próprio corpo, um corpo da diáspora, da artista da mulher e um corpo negro”, conta o mediador cultural.

“O racismo é uma questão delicada e existe na França, mas é uma questão que não é tão discutida tão profundamente aqui, há um certo tabu”, analisa Danilo Lovisi. “A questão de raça é vista de uma outra forma, a palavra raça não é bem-vista, mas há toda uma nova reflexão, o termo “racisé”, que são pessoas “racializadas”, conta. “O termo ‘raça’ é aceitável enquanto construção histórica e social”, conclui.

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