Ramadã na pandemia: muçulmanos direcionam fé a ações solidárias

Enviado por / FonteNo Diário do Nordeste

Ramadã é o mês dedicado a fortalecer a fé por meio de orações, jejuns e comunhão entre os adeptos do islamismo. Neste ano, celebrado entre 23 de abril e 23 de maio, fiéis veem as práticas alteradas pelo novo coronavírus. No Ceará, os centros islâmicos estão fechados, mas uma rede de solidariedade contribui com a alimentação dos religiosos mais afetados pelos impactos sociais da pandemia da Covid-19.

Membros da comunidade islâmica cearense doaram 49 cestas básicas, neste período, e organizam a doação de mais 20 kits aos “irmãos de fé”. “Fizemos uma ficha de cadastro online e passamos em um grupo de estrangeiros e brasileiros, para quem está precisando se inscrever. E eu fui atrás de pessoas que vão doar cestas básicas”, explica a fotógrafa Karine Garcêz, também muçulmana.

Durante o Ramadã, os dias começam com orações e seguem com abstenção de água e alimentos até o início da tarde. Já à noite, em mesquitas, os membros quebram o jejum em refeições conjuntas – reuniões canceladas para evitar aglomerações. Os religiosos que fazem parte de grupos mais vulneráveis à Covid-19, como idosos, pessoas com doenças crônicas, gestantes e lactantes, estão dispensados da prática.

Estas pessoas, se possuírem condições financeiras, devem doar alimentos para os muçulmanos vulneráveis. “A doação tem que ser igual ao alimento da casa dela. Se for uma pessoa rica, por exemplo, então a quantidade pode ser dividida para três ou quatro pessoas que precisem, desde que a alimentação seja de boa qualidade”, pontua.

O sírio Abdul Hakim Amer Alsamman mora em Fortaleza desde 1989, onde possui uma sala de oração para receber amigos muçulmanos. Ele relata que a comunidade tem recebido recursos até de outros estados. “Esse movimento que está acontecendo é a nossa maneira de viver, até com guerra. A gente tem de se ajudar, para não ficar no buraco todo mundo. Se Deus quiser, vai passar”, ressalta.

Coletivo

Hakim assistiu ao crescimento da comunidade no Ceará, e a chegada de estudantes árabes e africanos, por exemplo, deve ampliá-lo. “No passado, não tinha nenhum muçulmano. Mais para frente, vai ter uma mesquita grande para ajudar o povo – não só os muçulmanos, temos a obrigação de ajudar outros também. Fazemos nossa oração, jejum e caridade sem entrar na vida de outros povos, essa é a vida de muçulmanos: uma vida simples”, conclui.

Diferente de Karine e Hakim, o químico Yahya Simões não se organiza coletivamente para realizar as ações de caridade, mas ele e os irmãos promovem uma distribuição de suas rendas por meio do “boca a boca”. “Ligamos para um e dizemos ‘talvez fulano precise de ajuda, fale com ele’ ou pedimos as contas de quem está em necessidade e repassamos a quem possa auxiliar”.

Simões afirma perceber que o número de pessoas precisando de ajuda no período da pandemia aumentou. “Cada um de nós deve cuidar do próximo, perguntar do que está precisando, como está o emprego. Não devo esperar alguém me pedir por ajuda. Devemos nos apresentar e nos mostrar solícitos antes mesmo de eles sequer precisarem nos pedir”, diz.

Karine reforça que o momento também é de cuidar das palavras ditas e dos pensamentos para cultivar o bem. “No Alcorão, na suna do profeta, fala de pandemia, no caso da época usava o termo praga, fala que quando acontece a coisa você não deve visitar o lugar com essa praga e nem sair do lugar onde está a praga porque você vai contaminar”.

+ sobre o tema

É a segurança, estúpido!

Os altos índices de criminalidade constituem o principal problema...

Presidente da COP30 lamenta exclusão de quilombolas de carta da conferência

O embaixador André Corrêa do Lago lamentou nesta segunda-feira (31)...

Prefeitura do Rio revoga resolução que reconhecia práticas de matriz africana no SUS; ‘retrocesso’, dizem entidades

O prefeito Eduardo Paes (PSD) revogou, na última terça-feira (25), uma...

Decisão de julgar golpistas é histórica

Num país que leva impunidade como selo, anistia como...

para lembrar

Fenômeno Kony: redes, manipulação e resposta

Como um documentário oportunista tornou-se maior viral da História....

11/09 – Tracking Vox Populi/Band/iG: Serra chega a 23%; Dilma tem 52%

Candidato tucano oscilou um ponto para cima e...

Um muro até os céus

Falta de democracia real, perda de direitos sociais e...

Barbara Gancia reage ao ódio dos ‘Conservadossauros’

Jornalista critica 'esse ódio crescente e tão palpável ao...

A ADPF das Favelas combate o crime

O STF retomou o julgamento da ADPF das Favelas, em que se discute a constitucionalidade da política de segurança pública do RJ. Desde 2019, a...

STF torna Bolsonaro réu por tentativa de golpe e abre caminho para julgar ex-presidente até o fim do ano

A Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu nesta quarta-feira (26), por unanimidade, receber a denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República) e tornar réus o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)...

Comitê Quilombola da 2ª Marcha das Mulheres Negras é lançado em Brasília

Mulheres quilombolas de todo o país lançaram, nesta terça-feira (25), o Comitê Quilombola da Marcha das Mulheres Negras 2025, que acontecerá em novembro. O...
-+=