‘Ranking’ expõe intimidade sexual de alunas da USP e causa revolta

Material cita também homossexuais e foi exposto no campus de Piracicaba.
Lista tem apelidos que identificam estudantes; instituição vai apurar o caso.

 Por Claudia Assencio, do G1 

Um cartaz com uma espécie de ‘ranking’ da vida sexual de alunas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), campus da USP em Piracicaba (SP), revoltou um grupo de estudantes da instituição. O material foi colocado no Centro de Vivência, o pátio onde os universitários se reúnem, mas retirado depois de causar polêmica e manifestações contrárias que se espalham pelos muros da unidade. A universidade informou que vai apurar o caso.

Considerado preconceituoso e ofensivo por alunos e professores, o cartaz era dividido em colunas que atribuíam, com palavra de baixo calão e termos como “teta preta”, as supostas características das estudantes listadas pelos apelidos com que foram batizadas no campus, além do número de pessoas que teria mantido relações. Os “codinomes” são uma tradição na Esalq e muitos universitários os carregam após o curso.

O professor Antonio Ribeiro de Almeida Junior, da Esalq, pesquisa diferentes tipos de abusos nas universidades há 14 anos e chegou a relatar casos de violência à CPI dos Trotes no início do ano. Ele disse que o ranking comprova a existência de uma cultura da discriminação no campus. “O cartaz tem caráter de assédio e conteúdo difamatório intencional”, disse.

De acordo com o professor, materiais como esse já foram produzidos antes, mas nunca tinham sido expostos como aconteceu nesse caso. “Foi a primeira vez que colocaram em local público. Isso dá margem para que as pessoas, reconhecidas por seus codinomes, sejam discriminadas”, criticou. Segundo ele, o cartaz também cita homossexuais.

Cartaz feito em repúdio à lista discriminatória na Esalq Piracicaba (Foto: Claudia Assencio/G1)
Cartaz feito em repúdio à lista discriminatória na Esalq Piracicaba (Foto: Claudia Assencio/G1)
Cartaz de repúdio também foi exposto no Centro de Vivência da Esaql (Foto: Claudia Assencio/G1)
Cartaz de repúdio também foi exposto no Centro de Vivência da Esaql (Foto: Claudia Assencio/G1)

Revolta
A aluna da Esalq e integrante do Diretório Central dos Estudantes, Élice Natalia Botelho, de 22 anos, ficou revoltada com o conteúdo do cartaz e se posicionou sobre o abuso em uma rede social na internet.

Cartazes de repúdio se espalham pela Esalq, em Piracicaba (Foto: Claudia Assencio/G1)
Cartazes de repúdio se espalham pela Esalq,
em Piracicaba (Foto: Claudia Assencio/G1)

Em trecho de texto de repúdio, ela afirma: “Percebi que os níveis de machismo, lgbtfobia e racismo da Esalq não param de piorar. (…) Pensei que a CPI de Violação de Direitos Humanos das Universidades Estaduais Paulistas tivesse alertado as pessoas, mas a prova [cartaz com o ranking] mostra que, na verdade, tem gente que está no caminho oposto”.

A jovem contou que algumas meninas se juntaram e fizeram cartazes de repúdio ao material exposto no final de maio com os termos preconceituosos, mas os primeiros protestos também foram retirados do Centro de Vivência. “Foram arrancados por alguém que se incomodou e, após isso ter ocorrido, elas voltaram a fazer mais cartazes”, afirmou.

‘Lógica de poder’
O episódio, para o professor Almeida, é uma evidência de que há grupos que sustentam uma cultura opressora no campus. “Eles têm o objetivo de discriminar e atuam com uma lógica de poder”, afirmou Almeida. O professor disse que mesmo após as investigações, casos como esse ainda são comuns.

Esalq
A instituição afirmou que soube do caso após ser questionada pela reportagem. “A direção do campus tomou ciência, por meio de informação do Portal G1, da existência de material que foi exposto no mural do Centro de Vivência e encaminhará o material para apreciação de uma comissão sindicante, cumprindo trâmite regular”, informou a Esalq em nota da assessoria de imprensa.

Cartaz foi exposto no Centro de Vivência da Esalq em Piracicaba (Foto: Claudia Assencio/G1)
Cartaz foi exposto no Centro de Vivência da Esalq em Piracicaba (Foto: Claudia Assencio/G1)

 

+ sobre o tema

A campanha #meuamigosecreto viralizou e a casa do machismo virtual caiu

A hashtag #meuamigosecreto constituiu-se como movimento internáutico divertido e criativo. Primou...

Comentário sexista faz Kátia Abreu jogar vinho na cara de Serra

Senador tucano entrou na conversa sem ser convidado durante...

para lembrar

O depoimento dessa mãe é mais do que um debate: é uma aula essencial sobre feminismo

Ser mãe é daquelas coisas difíceis de explicar, gente:...

Mídias independentes, gênero e sexualidade

No sábado passado, dia 22 de agosto de 2015,...

O crack, a maternidade e o poder público

Adoção de crianças e, mais que tudo, adoção de...

Minha decepção com o machismo do Dalai. Por Nathalí Macedo

Cresci ouvindo falar das citações famosas de Dalai Lama....
spot_imgspot_img

Vamos a desprincesar! Reflexões sobre o ensino de história à partir da presença de María Remedios del Valle na coleção Antiprincesas

Lançada em 2015 em meio à profusão de movimentos feministas, a coleção de livros infantis Antiprincesas da editora argentina independente Chirimbote se tornou um...

Violência sexual em espaços noturnos e responsabilização de agressores

As recentes notícias de que duas mulheres teriam sido vítimas de estupro coletivo em uma mesma casa noturna na Lapa, no Rio de Janeiro ,...

USP libera mais de 900 livros para baixar de graça; faça o download

A grana está curta para comprar livros? Temo uma excelente notícia! A Universidade de São Paulo (USP) disponibiliza uma biblioteca virtual com mais de 900 livros...
-+=