Quando veio abaixo o palácio Dona Ana Joaquina, antiga casa-grande de Luanda, foi tão grande a reação popular que o governo, autor da destruição, mandou reconstruir uma réplica no lugar.
“Foi o primeiro edifício derrubado no processo de reconstrução”, lembra a arquiteta angolana Ângela Mingas. “Esse novo é mais ou menos parecido, mas tem coisas que não correspondem à sua verdade.”
Luanda hoje parece viver a mesma situação, algo um tanto distante do que seria a realidade. Vista do alto, parece toda demolida, ou por empreiteiras ou por rajadas de artilharia de duas guerras sucessivas.
Depois de conquistar a independência de Portugal, em 1975, Angola entrou numa guerra civil que só terminou no início deste século, quando começaram esforços desmedidos para reerguer a cidade.
No rolo compressor da modernização, prédios históricos, como o palácio e o mercado de Kinaxixe, do modernista Vasco Vieira da Costa, vieram abaixo para dar lugar a shoppings e torres de vidro reluzente.
“Luanda está perdendo sua memória em nome de uma falsa modernidade, que não respeita sua realidade”, diz Mingas, que há cinco anos lidera um projeto de defesa do patrimônio histórico da cidade.
“Existe a intenção de desenhar uma cidade nova, mais parecida com o futuro que o país pretende ter”, diz Mingas. “Mas essa ideia não vai passar da fachada, não vai atingir o coração de Luanda, um reboliço de identidades.” (SM)
Fonte: Folha de S.Paulo