A África pode ser o próximo Bric

Por: JIM O’NEILL

O progresso do Egito e da Nigéria é crucial para o desenvolvimento do continente africano


A VISITA do presidente sul-africano, Jacob Zuma, à China, na semana passada, compreensivelmente atraiu muitos comentários. Ele sem dúvida está ávido por promover um relacionamento mais estreito com Pequim, já que a China no ano passado se tornou o maior parceiro comercial de seu país.

É diante desse cenário, em que vários países africanos parecem ter escapado aos efeitos mais adversos da crise, que me perguntam cada vez mais se o Bric não merece um “s” no final, para a África do Sul -e se a África como um todo não deve ser vista como dotada do mesmo futuro brilhante reservado aos brasileiros, aos russos, aos indianos e aos chineses que o formam.

Depois que a África do Sul sediou com sucesso a Copa do Mundo de futebol, mais e mais pessoas estão concentrando as atenções nas oportunidades que a África oferece.

O PIB (Produto Interno Bruto) combinado do continente é semelhante ao de Brasil e Rússia e ligeiramente superior ao da Índia.

Além disso, da lista dos “11 próximos” países -apelido que eu e meus colegas demos às nações populosas emergentes que vêm logo abaixo dos Bric em termos de perspectivas promissoras-, dois ficam na África: Egito e Nigéria.

Nesse contexto, e enquanto os dirigentes sul-africanos falam com entusiasmo sobre suas aspirações a uma situação como a dos Bric, decidi considerar mais a fundo o potencial da África para se tornar uma economia parecida com esse grupo.

Se considerarmos a África em termos coletivos, e a considerarmos sob os mesmos padrões que determinam nossos cenários para os Bric, os 11 próximos e as demais grandes economias em 2050, teremos uma economia tão grande quanto a de alguns dos Bric.

Se estudarmos o potencial das 11 maiores economias africanas para os próximos 40 anos (considerando fatores como demografia, mão de obra ativa e produtividade), seu PIB combinado em 2050 pode superar os US$ 13 trilhões, o que as tornaria maiores que o Brasil e a Rússia, mas não que a China ou a Índia.

Um aspecto interessante é que quase metade desse PIB se originaria do Egito e da Nigéria, de modo que o progresso desses países é crucial para o potencial do continente. Entre os 11, a África do Sul tem papel crítico, por ser mais desenvolvida e por servir de certa forma como portal para o sul da África.

A África do Sul, no entanto, não conta com população suficiente -tem só 45 milhões de habitantes- para ser um Bric de modo isolado.
Mas a Nigéria, com 180 milhões ou mais, está perto de abrigar 20% da população africana. Caso aja de maneira correta, sua economia pode superar as de Canadá, Itália e Coreia do Sul em 2050.

Caso a África deseje ser vista como equivalente aos Bric, a tarefa não seria tão difícil como se costuma imaginar. Mantemos um índice de 13 diferentes variáveis que são críticas para o crescimento sustentável e a produtividade. Designamos o método Boletim de Ambiente de Crescimento e estimamos dados anualmente para quase 180 países em todo o mundo.

As notas podem variar de 0 a 10; quanto mais altas, maior a produtividade ou o crescimento sustentável. Dos próximos 11 países, a Coreia do Sul tem nota 7,4, a mais elevada, e nível comparável aos melhores entre os países desenvolvidos. A Nigéria tem 3,5, a segunda mais baixa.

Isso pode parecer ruim, mas a nota das quatro economias do grupo Bric é de apenas 4,9. Para os 11 países africanos, a nota média é de 3,5. A fim de atingir seu potencial em 2050, os países africanos precisam elevar suas notas de maneira significativa. Políticas macroeconômicas estáveis, concentradas em baixa inflação e em evitar dívida pública e externa altas demais, talvez sejam as metas mais simples.

A África do Sul demonstrou ser uma anfitriã digna da Copa. Agora, cabe aos grandes países africanos e aos seus líderes avançar a partir dessa base. Transparência e fomento a um ambiente propício aos negócios são as tarefas em que Zuma e os demais líderes africanos deveriam se concentrar. De outra forma, o sonho de uma África em situação semelhante à dos Bric será apenas isso -um sonho.

 

JIM O’NEILL é economista-chefe do banco Goldman Sachs e cunhou a sigla “Bric”. Este texto foi publicado originalmente no “Financial Times”.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

 

 

Fonte: Folha de S.Paulo

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