Recy Taylor por Cassia Quezia

FONTEPor Cassia Quezia, enviado para o Portal Geledés 
Recy Taylor (Foto: Tamiment Library/Robert F. Wagner Labor Archives)

Recy Taylor.

Talvez você nunca tenha ouvido falar nesse nome antes do discurso da Oprah Winfrey ao receber o prêmio pelo conjunto da sua obra na última edição do Globo de Ouro. E por que Oprah dedicou alguns minutos da sua fala a uma mulher tão pouco conhecida?

Em 1944, voltando da igreja, em Abbeville, Recy Taylor foi abordada, raptada, estuprada e abandonada (de olhos vendados) por seis homens brancos armados, que ameaçaram matá-la caso revelasse o crime a alguém.

Mas Rosa Louise McCauley, mais conhecida por Rosa Parks, costureira negra norte-americana símbolo do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, se tornou a principal investigadora do caso de Taylor, buscando justiça. O que não foi fácil, já que a lei de Jim Crow, que institucionalizou a segregação racial no país entre 1876 e 1965, prevalecia nos EUA, e fez com que esses seis homens brancos nunca fossem julgados.

Recy Taylor morreu aos 98 anos em dezembro do ano passado e não viu seus agressores pagando pelo seu estupro. E com certeza você conhece alguma história parecida. A mina é estuprada, a culpa é dela, e ninguém acredita. O que enfatiza a cultura que coloca homens acima de mulheres, mais conhecida como machismo, e faz com que eles pensem que são donos de nossos corpos, but not.

O Brasil tem 12 assassinatos e 135 estupros contra mulheres por dia, segundo dados da Folha de São Paulo. E esses são apenas os casos denunciados. O maior índice de feminicídio e estupro acontece na relação íntima com parceiros, que na maioria das vezes não é relatada porque a mulher acredita que estupro conjugal não existe. Desses 135 casos, 70% ocorrem com crianças e adolescentes.

A cultura do estupro é uma prática muito antiga, na escravidão, mulheres negras escravizadas tinham seus corpos violentados pelos seus senhores e não tinham o poder de fala.
Com Taylor não foi diferente, e nem estamos falando da mesma época. E mulheres continuam sendo estupradas até hoje.

Ao mesmo tempo que Oprah recebia o prêmio e discursava sobre Taylor e a violência contra a mulher, várias outras minas estavam sendo abusadas.

Uma semana depois, Aziz Ansari, ator norte-americano, que recebeu também um prêmio no Globo de Ouro, como melhor ator em série de comédia por Master of None, foi acusado neste sábado (13) de abuso sexual. A vítima de 23 anos relata que por diversas vezes recusou as tentativas de Aziz, mas assim como Taylor, não foi ouvida.

A vítima fez a denúncia anonimamente, o que nos leva a outros casos de mulheres que têm medo de denunciar seus agressores. E o processo continua sendo o mesmo: “será que Aziz abusou realmente dessa mulher? “Será que ela disse isso só pra ganhar indenização?” “Se ela foi abusada, por que não mostra seu rosto então?” Blá blá blá…

Se ela está mentindo ou não, ninguém sabe! Mas, é isso que acontece em 80% dos casos de mulheres que sofrem abusos, você somente dizer que foi abusada não adianta, é preciso ir atrás de milhares de provas, para que assim acreditem em você. E às vezes isso não resolve. E a culpa, perante a sociedade, será eternamente sua. O que leva muitas mulheres a realmente acreditarem que elas são de fato culpadas, e levam isso consigo pro resto da vida.

Mulheres são violentadas a cada 11 minutos no Brasil, e o que me dói, é saber que enquanto estou aqui escrevendo sobre estupro, uma mulher está passando por isso.

Até quando as vítimas serão acusadas?

Mas, como disse Oprah, o tempo deles acabou. A-CA-BOU!

** Este artigo é de autoria de colaboradores ou articulistas do PORTAL GELEDÉS e não representa ideias ou opiniões do veículo. Portal Geledés oferece espaço para vozes diversas da esfera pública, garantindo assim a pluralidade do debate na sociedade.

-+=
Sair da versão mobile