Rede de Mulheres Negras Evangélicas discute justiça social em campanha intitulada “Meu Corpo É Templo”

Os estereótipos em torno das mulheres negras evangélicas ainda persistem na sociedade brasileira. Percebemos que são as mesmas imagens de controle que buscam nos fixar em lugares onde não há vislumbre de autodeterminação e agência de nossas necessidades. Muitos se esquecem que, os estereótipos também servem a desumanização de nossos corpos e nossas vidas e nos restringem oportunidades sociais. 

Um desses estereótipos nos vincula a predicados de alienação racial e social, histerias e fundamentalismos religiosos. Alguns outros, apontam para a imagem, quase sempre subalterna, da mulher negra periférica atravessada por todas as expressões da questão social que encontram em uma igreja evangélica o lugar para recalcar os efeitos nefastos das desigualdades da qual nem sabe de onde se originam. 

Falando assim, até parece absurdo não é?! Mas é real. Entre análises de conjunturas e pesquisas de opinião, os pareceres de quem não convive conosco e não dialoga nossas crenças de maneira profundamente respeitosa às nossas dores. Não somos ouvidas. Nossas razões são minimizadas. Somos generalizadas e nossa diversidade invisibilizada.

Como superar o quadro crônico de julgamento social que recai sobre nós após séculos de corrupção e lógica mortífera contra nossos corpos e nossas famílias? Acreditamos numa aproximação corajosa e o interesse humilde nos aproxima em um diálogo que busca de fato compreender as necessidades sociais que foram negligenciadas.  

Observem e valorizem os nossos esforços de autocuidado e promoção da justiça social. Parem de nos olhar a partir do ponto de vista dos líderes religiosos mercenários e teologicamente desonestos! Estamos nos movendo e caminhando para nossa própria autodefinição e autopreservação. Nossa diversidade interpela iniciativas que despertam em nossos corações e mentes o fomento pela verdade de nossas vidas e o entendimento que as superestruturas sociais nos devem reparação!

Buscamos cultivar nosso auto-amor e a recuperação da importância material de nossos corpos – que são a carne mais barata do mercado. Criamos espaços para fala, cuidado, aprendizados tal qual acontece de forma histórica em nossas comunidades negras. Estamos aprendendo sobre nossa cidadania, nossos direitos, nosso lugar político – que não precisa ser partidário e não restrito ao ato de votar. Estamos em processo de cura de uma sociedade que projeta nosso adoecimento desde o nosso nascimento.

Por isso, pensando no lugar da justiça reprodutiva no lugar do direito à sexualidade das mulheres […] O corpo é tornado pecado, infame, um elemento de desqualificação, só que a gente esquece que a nossa experiência de espiritualidade a partir de Jesus de Nazaré foi através do corpo. […] Então  a justiça reprodutiva pode nos provocar muito a reconhecer a nossa corporeidade não pelo lugar do pecado mas pelo lugar da redenção e da experiência plena porque nós hoje poderíamos viver a nossa espiritualidade a partir de qualquer outro símbolo mas Jesus deixou pra gente o seu sangue e o seu corpo, afirma a pastora Fabíola Oliveira durante a live “Justiça Reprodutiva e as Mulheres Cristãs”, promovida e disponível no canal da Rede.

Por isso, fruto do edital de fomento de ações comunicacionais, promovido pelo selo Futuro do Cuidado e da Campanha Nem Presa Nem Morta, Meu Corpo é Templo conversa com o público cristão sobre temáticas em torno da justiça reprodutiva mantendo um diálogo com o evangelho e promovendo informação de qualidade e confiabilidade por um viés progressista e feminista negro em diálogo com uma hermenêutica evangélica libertária e plural. 

Com início no mês de abril, a Campanha traz informação através de textos e imagens, divulgados nas redes sociais da Organização, e em áudios, divulgados em plataformas de streaming. Todo o material também é enviado por lista de transmissão no WhatsApp e compartilhado em grupos.

Ao final da Campanha, no fim do mês de junho, deste ano, o material de Meu Corpo É Templo será reunido no site da  Rede de Mulheres Negras Evangélicas para consulta e download dos flyers (estilo “santinho” e mini cartilha).

A Rede de Mulheres Negras Evangélicas foi criada no 1º Encontro de Mulheres Negras Cristãs (EMNC) realizado em agosto de 2018 pelo Movimento Negro Evangélico (MNE – PE) em Recife protagonizado pelo Comitê de Gênero e Direitos Humanos do referido coletivo. A história que precede a criação da rede se tece no interior do movimento progressista evangélico brasileiro a partir da inquietação de mulheres negras evangélicas.

Redes Sociais:

Instagram: https://www.instagram.com/negrasevangelicas

Facebook: https://www.facebook.com/negrasevangelicas

YouTube: https://www.youtube.com/rededemulheresnegrasevangelicas

Site: https://www.negrasevangelicas.org


** ESTE ARTIGO É DE AUTORIA DE COLABORADORES OU ARTICULISTAS DO PORTAL GELEDÉS E NÃO REPRESENTA IDEIAS OU OPINIÕES DO VEÍCULO. PORTAL GELEDÉS OFERECE ESPAÇO PARA VOZES DIVERSAS DA ESFERA PÚBLICA, GARANTINDO ASSIM A PLURALIDADE DO DEBATE NA SOCIEDADE.

+ sobre o tema

Lutemos pela educação, ela é espaço de luta e resistência!

A educação no Brasil por muitos anos foi privilégio...

As últimas depois de ninguém: meninas em privação de liberdade

Início este texto agradecendo todas as mulheres, especialmente às...

para lembrar

Ler e conhecer “Mulheres negras fazendo história”

Ao fim do primeiro mês de 2013, começa a...

As mulheres que cultivam mandioca no Suriname para vendê-la nos Países Baixos

Tania Liew-A-Soe é a presidenta e fundadora da cooperativa...

Festa do Boi recebe cerimônia de encerramento do programa de aceleração Quartzo

Nesta terça-feira (16), a partir das 13h, a Festa...

Brasil finalmente considera mulheres negras em documento para ONU

Finalmente o governo brasileiro inicia um caminho para a presença da população afrodescendente no processo de negociação de gênero na Convenção-Quadro das Nações Unidas...

‘Não tenho história triste, mas ser mulher negra me define muito’, diz executiva do setor de mineração, sobre os desafios para inclusão na indústria

Diretora de relações governamentais e responsabilidade social da Kinross Brasil Mineração, Ana Cunha afirma que a contratação de mulheres no setor, onde os homens...

No Dia para Eliminação da Discriminação Racial ONU reforça importância de investir em mulheres negras

No Dia Internacional para Eliminação da Discriminação Racial, 21 de março, ONU defende investimento em mulheres negras como caminho para o progresso. A campanha "Investir...
-+=