Rede de supermercados é condenada a pagar R$ 500 mil para funcionária vítima de ataques racistas

A rede atacadista Makro foi condenada a pagar R$ 500 mil de indenização por danos morais a uma estoquista de 39 anos que sofria constantes ataques racistas de uma colega de trabalho na unidade de Florianópolis. A vítima levou o caso para os chefes, denunciou à ouvidoria internacional, porém nada foi feito. O juiz considerou que houve omissão por parte da empresa.

Do DC

Colegas e clientes presenciaram os ataques racistas e confirmaram que a funcionária era ofendida com expressões como “preta fedida”, “macaca preguiçosa” e “urubu fedorento” por uma pessoa de outro departamento. Segundo consta no processo, as testemunhas relataram que a estoquista demonstrava medo da agressora e, após os ataques, era vista chorando no banheiro. Em uma das situações, a vítima foi no banheiro lavar as mãos e encontrou a colega no caminho, que a chamou de “nega fedida” e bateu a porta em sua cara.

De acordo com advogado da estoquista, Kléber Ivo dos Santos, da Gerent Advocacia, a mulher está muito abalada e prefere não dar entrevista:

— Ela chora muito quando fala do assunto, chorou na audiência e ficou muito abalada com todas as ofensas. Em dezembro ela foi dispensada, está desempregada e muito mal — disse.

Empresa é responsável pelos atos de seus funcionários

As agressões começaram em novembro de 2014 e duraram cerca de seis meses. O advogado destaca que a empresa é responsável pelo atos dos funcionários e neste caso a estoquista seguiu todos os caminhos para resolver a situação, reportando aos seus superiores, ao RH da empresa e até mesmo à ouvidoria internacional, que era em inglês e dificultou a comunicação, porém nada foi feito:

— O valor é alto por todo o contexto do processo e pelo porte da empresa. O juiz deixou claro em sua sentença que estabeleceu como forma exemplar e pedagógica-social, para que as empresas não permitam este tipo de conduta — explicou Kléber dos Santos.

O juiz da 2ª Vara do Trabalho de Florianópolis Válter Túlio Ribeiro considerou que as agressões configuram caso típico de assédio moral e apontou grave omissão da rede atacadista que, mesmo ciente das agressões, permitiu que a funcionária continuasse sendo humilhada.

— A atitude injustificada da ré, sem sombras de dúvida foi suscetível de causar na obreira, trabalhadora humilde e necessitada, constrangimento e aviltamento em sua dignidade e sentimentos de pessoa humana _ observou o magistrado em sua decisão.

Ele ainda destacou que não houve retratação ou qualquer ato posterior da empresa para minimizar a situação. Além do dano, o valor da indenização também leva em conta a capacidade econômica da empresa e o caráter pedagógico da medida. A empresa pode recorrer da decisão ao Tribunal Regional do Trabalho de Santa Catarina (TRT-SC).

+ sobre o tema

15 comentários que uma mulher com o cabelo crespo sempre ouve

Quando paramos de usar relaxantes químicos e chapinhas para alisar o nosso cabelo...

#EuNãoSouUmVírus: epidemia do covid-19 dispara racismo contra asiáticos

"Ai, miga, sai com esse coronavírus daqui", ouviu a...

A pandemia, o racismo e o bode na sala¹

amigos e amigas do trabalho, da família e da...

Conar pede retirada de campanha de lingerie em favela pacificada

Conselho decidiu pela suspensão após reclamações de consumidores.Campanha foi...

para lembrar

Mais 1,34 milhão de pessoas se autodefinem de cor preta

Participação sobe de 6,3% para 6,9%; especialistas vêem influência...

Lucas Penteado do BBB, a vítima que disse NÃO às inúmeras violências

Hoje, o assunto mais comentado nos lares e nas...

Professora negra vence processo de crime racial contra diretora de escola

A professora e pedagoga de Ciências Sociais, Neusa Maria...
spot_imgspot_img

Apostas viram epidemia e pautam voto dos jovens

Tão real quanto as chamas que destroem e a fumaça que varre territórios é a epidemia de apostas que assola o Brasil. A prática,...

Policiais que abordaram jovens negros filhos de diplomatas no RJ viram réus

Os policiais militares que abordaram quatro adolescentes – três deles negros e filhos de diplomatas – em Ipanema se tornaram réus pelos crimes de...

Os homens que não rompem com a lógica machista

Como uma mulher crítica às plataformas de redes sociais e seus usos, penso ser fundamental termos compromisso e responsabilidade ao falarmos de certos casos....
-+=