Reeditar-se é prazer incomensurável

Na esfera Gutenberg – cujo reinado soma mais de 500 anos – um autor só tem a possibilidade de corrigir, suprimir, acrescentar palavras e frases no seu texto quando das chamadas reedições. O que é raridade, pois a imensa maioria dos livros físicos, no mundo inteiro, ficam na primeira edição.

Por Fernanda Pompeu Do Fernanda Pompeu

Mas – tchan, tchan, tchan – chegaram as plataformas digitais e com elas a maravilhosa possibilidade de trabalhar com rascunhos infinitos. Corrigir erros de ortografia, trocar palavras, mudar semânticas se tornaram tão fáceis quanto descascar uma banana. O provérbio: Escreveu, não leu, o pau comeu se tornou tão anacrônico quanto as fichas telefônicas.

Acontece muito comigo. Compartilho um post do meu site nas redes sociais, e vem uma mensagem amiga avisando algum erro: Você escreveu pousar, mas no caso o correto é posar. Ou então: Se a personagem do conto se chama Ana, por que de repente você escreveu Maria? Meu coração fica agradecido e meus dedos correm para o post. Um, dois, cinco segundos depois tudo corrigido. Tudo certo.

Então responde, poderá existir paraíso mais paradisíaco do que esse? A publicação digital é o jardim do Éden dos escribas. Pois ela nos dá a vantagem de melhorar a qualquer momento. É a oportunidade dourada da reedição imediata.

Faz um tempo, postei um texto redigido em 1981. Foi emocionante ler-me aos 25 anos. Vi uma escrita com vísceras e sem técnica. Agradeci às deusas a chance de domesticar o texto tornando-o mais comunicativo. Aparei exageros, consertei a pontuação. Tudo isso mantendo o espírito do texto e da jovem escriba.

Com outra postagem – também bem antiga – vivi uma experiência contrária. Relendo o texto Minha amiga se matou, percebi que não havia nada a mudar ou reparar.  A emoção escrita em 1986 não havia envelhecido. Talvez porque emoções afinal não envelheçam. Optei por postá-lo tal qual.

Ter opções é a circunstância mais relevante e divertida da escrita digital. Na lógica dos impressos você acerta ou não. Erros de revisão, um parágrafo mal construído, um título infeliz podem anunciar o velório do autor.

Até mesmo porque o tempo entre um texto publicado e o seguinte é extenso. Às vezes com anos de intervalo. Já com os blogs quem determina o tempo do silêncio entre as postagens é o blogueiro. Não depende de mais ninguém.

Também é fato que as publicações digitais aumentam a responsabilidade. Não há a quem culpar – revisores, editores, impressores – se o trabalho sair ruim. Aliás, glória e fracasso têm um só endereço. O seu domínio www.

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