Rolezinho da USP: “A gente grita ofensas em alto e bom som, e ninguém fala nada”

Alunos da USP fazem ‘rolezinho’ em shopping sem serem abor

Muito antes dos “rolezinhos”, encontros de jovens da periferia em shoppings de São Paulo, centenas de universitários de classe média lotam anualmente um shopping na zona oeste para cantar, dançar e festejar.

São alunos da USP, que se encontram no shopping Eldorado, sem aviso prévio e sem serem incomodados pela segurança do lugar.

Organizado pelo centro acadêmico da FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade), o evento acontece desde 2007, sempre na primeira semana de aula, e reúne cerca de 500 calouros, que entoam gritos de guerra no saguão de entrada.

Depois dos gritos -como “Ei, GV [Fundação Getúlio Vargas, tida como rival da FEA], vai tomar no c…”-, parte dos estudantes almoça na praça de alimentação, onde são entoados mais cânticos. O encontro dura cerca de uma hora e meia.

  Reprodução  
Alunos da USP promovem anualmente uma manifestação dentro do shopping Eldorado, em São Paulo

Na semana passada, após a polêmica causada pela proibição aos “rolezinhos”, o centro acadêmico da FEA publicou uma nota em que afirma haver semelhança entre o encontro que promove todo ano e os “rolezinhos”.

E lançou a provocação: “Se os eventos são similares, o tratamento deve ser o mesmo, independentemente de quem os frequente”.

“Enquanto nos embasarmos em preconceitos para definir quem pode ou não frequentar determinado local, continuaremos tendo ambientes de profunda segregação social”, diz a nota.

Para o aluno do quarto ano de economia, Bruno Miller Theodosio, 24, ex-integrante do centro acadêmico, “uma comparação estanque [entre os encontros] seria burra.”

“Mas há pontos em comum: os dois são grandes aglomerações de jovens que não têm a intenção primária de consumir”, analisa.

Segundo Theodosio, que participou de dois eventos com calouros no Eldorado, os seguranças do shopping acompanham a brincadeira, mas sem interferir. Lojistas não fecham as portas, e clientes não reclamam, diz.

“A gente grita ofensas em alto e bom som, e ninguém fala nada”, diz. “Alguns sobem nas mesas, e os seguranças pedem educadamente para descer.”

Neste ano, o centro acadêmico ainda não decidiu se vai manter a comemoração.

Segundo o Eldorado, o encontro reúne 200 alunos -menos do que estimam os participantes-, todos devidamente identificados com camisetas e rostos pintados.

“Não há no histórico dessas comemorações nenhuma atitude em que os seguranças precisassem intervir ou solicitar o apoio da polícia. O encontro, todos os anos, ocorre de forma organizada”, afirma em nota o estabelecimento.

 

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Fonte: Folha

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