Romance ‘Rio Negro, 50’ aborda autovalorização da cultura negra no Brasil

Descendentes de escravos são protagonistas do processo de reidentificação com raízes culturais nos anos 1950, período retratado por Nei Lopes em livro

Do UAI 

No fatídico 17 de julho de 1950, depois da derrota para o Uruguai na final da Copa do Mundo, em pleno Maracanã, um homem com características de banto africano é supostamente confundido com o lateral Bigode, da seleção fracassada, e apanha até a morte na Rua Larga (atual Marechal Floriano) no centro do Rio. É o ponto de partida para o intelectual e artista Nei Lopes apresentar no romance ‘Rio Negro, 50’ o protagonismo do negro em um efervescente período de 10 anos, quando os descendentes dos escravos começaram a dar importância à sua cultura na formação do povo brasileiro.

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O linchamento do falso Bigode é assunto no fictício Café e Bar Rio Negro, localizado em algum lugar muito próximo à Avenida Rio Branco, o centro financeiro da cidade. O Rio Negro é a antítese da avenida que representa o status quo da sociedade carioca.

Frequentado pela elite intelectual dos negros da cidade, o bar reúne os personagens através dos quais Nei Lopes desconstrói ponto a ponto o preconceito, muitas vezes camuflado, na sociedade brasileira. Passa pela dificuldade do negro progredir, como o professor que é desaconselhado a fazer prova para o Instituto Rio Branco, e se aprofunda não só na cultura negra brasileira (esporte, religião e música fortemente incluídos), mas também na latino-americana.

O romance mistura personagens reais e fictícios para mostrar a resistência e desmitificar o preconceito. Em certa passagem comenta-se o sucesso de Ademar Ferreira da Silva, medalhista de ouro do salto triplo em 1952 e 1956. A discussão era sobre a “capacidade do negro de ter sucesso em outros esportes, como a natação”. Didaticamente, o personagem explica: “Não seria por não ter acesso às piscinas?”

A riqueza de detalhes das descrições sobre cerimônias religiosas as diferenças entre umbanda e candomblé, sua relação com religiões de outras regiões da América, como a santería cubana, é material de referência.

Mostra em detalhes uma festa de Iemanjá, no ano de 1958, quando os terreiros da cidade se uniam em procissão, os babalorixás à frente para entregar oferendas à Rainha do Mar. Tudo terminava em meio a cânticos e fogos de artifício. Nei complementa com uma “previsão de futuro”. A festa vai virar atração turística e dela só restarão os fogos e a música.

A mesma evolução da festa de Iemanjá (hoje a festa de Réveillon de Copacabana), o autor vê nas escolas de samba. De manifestação do povo das favelas, sem repercussão na zona sul da cidade, ao embrião do que viria ser o desfile atual. Mostra a tradição sendo deixada de lado para uma nova forma de desfiles.

 

A fusão de várias escolas do morro do Salgueiro, na Tijuca, deu nos Aristocratas do Salgueiro (Acadêmicos do Salgueiro na vida real) traduz a mudança. Dois empresários gringos preveem o sucesso comercial do Carnaval do futuro.Outras formas de música a religiosidade, como o jongo e o partido alto, são descritos em detalhes.

De Abdias do Nascimento, do Teatro Experimental do Negro, a Haroldo Costa, em ‘Orfeu da Conceição’, o livro leva ao reconhecimento do negro por ele mesmo, mas ainda oprimido depois de tantos anos. É a saga dos negros africanos e seus descendentes no Brasil.

 

 

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