Romper negação do racismo é desafio para a sociedade brasileira, diz ministra Luiza Bairros em palestra na UFMG

“Mesmo que lenta, a redução das desigualdades raciais, no contexto inusitado de desenvolvimento com inclusão social, tem contribuído para demonstrar que a dimensão racial é chave para entender e superar as desigualdades sociais”, afirmou a ministra Luiza Helena de Bairros, em aula inaugural na manhã desta segunda-feira, 5, no campus Pampulha.

Em solenidade de recepção aos cerca de três mil alunos de graduação que iniciam hoje sua trajetória acadêmica na UFMG, a ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial destacou a necessidade de superar o velho discurso que nega a existência do racismo no país e explicou a importância do sistema de cotas para ingresso nas universidades federais.

Ao lembrar que a população negra vivencia há séculos uma realidade injusta e desigual que só lentamente começa a mudar, a ministra asseverou que a transformação efetiva dessa realidade só ocorrerá quando mulheres e homens negros, que constituem mais da metade da população, puderem exercer “o direito básico de participar das decisões políticas, sociais e econômicas; ou seja, o direito de participar de forma digna e integral de todas as instituições, inclusive da universidade”, ressaltou.

A socióloga Luiza Helena de Bairros citou a mensagem que a presidenta Dilma Rousseff enviou em fevereiro deste ano ao Congresso Nacional, na qual se refere ao racismo como chaga histórica que ainda marca profundamente a sociedade brasileira. E disse que o texto chama a atenção para as responsabilidades coletivas que devem ser assumidas por uma sociedade que se construiu com base na escravização de africanos e seus descendentes.

Para a ministra, os que ainda relutam em admitir o racismo no país foram educados para acreditar na democracia social e na harmonia racial, mesmo sabendo que ela inexiste no cotidiano das relações sociais. “A permanência dessa perspectiva foi e continua sendo necessária para que ser branco no Brasil continue tendo um valor superior comparativamente a outros grupos raciais”, ponderou.

Segundo ela, um dos principais desafios que se colocam à sociedade brasileira é romper com a negação do racismo que também se manifesta no silenciamento sobre a trajetória histórica da população negra no país.

Para o reitor Clélio Campolina, tais desafios são tarefas do conjunto da sociedade brasileira e, em especial, da universidade. A aula inaugural foi acompanhada presencialmente no auditório da Reitoria e transmitida a auditórios do Centro de Atividades Didáticas 1 e da Faculdade de Ciências Econômicas. Em seguida, a ministra participou de reunião com integrantes da Comissão de Acompanhamento e Inclusão Social (Cais) da UFMG, presidida pela professora Antônia Vitória Aranha, pró-reitora de Graduação.

Política estudantil
Ao abrir a solenidade de recepção aos calouros, o reitor Clélio Campolina observou que em um contexto histórico de desigualdade racial e social, a UFMG tem procurado superar essas diferenças, com a adoção de iniciativas próprias. Ele explicou que apenas dois anos após a sua criação, a Universidade já contava com a Fundação Universitária Mendes Pimentel (Fump), que desde 1929 oferece apoio a estudantes em sua manutenção durante o curso universitário.

“Em boa hora, o governo federal adotou o Plano Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes)”, comentou Campolina, ao informar que em 2013 a UFMG aplicou R$ 23 milhões em política estudantil, valor que deve aumentar para cerca de R$ 30 milhões no próximo ano. “Isso equivale a cerca de um terço do custeio da Universidade, que foi de R$ 103 milhões este ano”, comparou.

Campolina destacou que antes mesmo de adotar cotas, a UFMG recebia alunos de escolas públicas e negros com base em sistema de bônus. Afirmou ainda que ao adotar integralmente o Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) como forma de ingresso, a Universidade adere a modelo “muito mais democrático, pois abrange todo o país”.

A vice-reitora Rocksane Norton também deu boas-vindas aos calouros, que assistiram palestra da pró-reitora de Graduação, Antônia Vitória Aranha, e vídeo institucional com apresentações das demais pró-reitorias, da Fundação Universitária Mendes Pimentel (Fump), da Diretoria de Relações Institucionais (DRI), da Ouvidoria da UFMG, da Diretoria para Assuntos Estudantis (DAE), da Assessoria de Cooperação Institucional e do Centro Esportivo Universitário.

A mesma programação ocorre na noite desta segunda-feira, a partir das 19h. A palestra sobre cotas será ministrada pelo professor Ernesto Friedrich de Lima Amaral, do Departamento de Ciência Política, que integra a Comissão de Acompanhamento de Inclusão Social da UFMG.

 

ministra_aud.JPG

 

 

Fonte: UFMG

+ sobre o tema

Entidades realizam na Alesp seminário sobre mulheres no Carnaval

seminário mulheres no carnaval "O principal objetivo do encontro é...

Racismo e xenofobia: precisamos falar sobre ser uma mulher negra que viaja sozinha

Cara leitora, Nunca se falou tanto sobre mulheres que viajam...

“‘Gorda’ não é ofensa”, diz a top brasileira mais famosa da moda plus size

Desde que a brasileira Fluvia Lacerda se tornou uma das modelos mais...

Quem tem medo de casais negros?

Na coluna desta semana, Stephanie Ribeiro escreve sobre a...

para lembrar

‘Black Lives Matter’: As três mulheres negras por trás do movimento contra o racismo

Foi chorando lágrimas de indignação por conta da absolvição...

Pastor colocou placa indicando a morte de gays na porta de igreja na Bahia

Responsável pela igreja Templo Batista Bíblico Salém, no distrito...
spot_imgspot_img

Lula sanciona lei que aumenta pena para feminicídio

O presidente Lula (PT) sancionou, nesta quarta-feira (9), a lei que aumenta do feminicídio para até 40 anos. O texto também veta autores de crimes contra mulheres de...

Nota Pública ao PL 4266/2023: Consórcio Lei Maria da Penha – 2024

O Consórcio Lei Maria da Penha pelo Enfrentamento a Todas as Formas de Violência de Gênero contra as Mulheres (Consórcio Lei Maria da Penha),...

Só sete estados têm leis específicas de proteção contra assédio sexual a servidores

Apenas sete estados contam com leis que visam ampliar a proteção contra assédio sexual de servidores. Nesses locais, os estatutos de profissionais públicos vão além do...
-+=