A fala do governador Cláudio Castro (PL) em defesa de policiais que apontaram uma arma para três jovens filhos de diplomatas em Ipanema, região nobre do Rio de Janeiro, mostra que ser negro no estado no do Rio de Janeiro é sinônimo de insegurança. A avaliação é do colunista Ronilso Pacheco, no UOL News desta quarta-feira (10).
Castro criticou ontem (9) a postura do Itamaraty após a abordagem, considerada racista. “Eles (Itamaraty) preferiram botar nota pública antes de saber o que aconteceu. Acho até que isso é uma coisa que a gente tem que tomar cuidado, porque atacar a polícia antes de saber o que aconteceu é muito fácil”, disse o governador.
Na visão de Ronilso, tanto a fala do governador quanto a ação da Polícia Militar seguem uma lógica racista, que estrutura a cultura da PM como um todo.
“O governador está correto na medida em que ele é coerente com uma política que é pautada por uma estrutura racista muito forte que é a da Polícia Militar, que é da política de segurança. Se a gente fica batendo no policial, dá sempre a ideia de que o policial toma uma decisão sozinho, e não que não tem uma estrutura por trás, uma ordem, uma formação, uma cultura policial”.
“O policial está correto no sentido de que está seguindo a norma de uma cultura de formação na qual está inserido. Então, o governador, embora não tenha essa reflexão, ele está dando uma resposta que reforça a ideia de que estamos falando de uma cultura. Uma cultura que é extremamente racista, de uma cultura que é forjada por um preconceito muito forte”
“Ninguém está seguro se é negro no Rio de Janeiro. Isso é um dilema muito sério. Mas que um jovem negro, mesmo sendo filho de um diplomata, não pode andar na Zona Sul, porque ele continua sendo negro e pode ser abordado como morador em situação de rua é abordado e ninguém liga. Então, essa é uma chaga para o governo brasileiro, para o governo do Rio”.
“E isso vai sendo uma chaga e tristemente só vai ser desconfortável na medida em que ele abordar, ou atingir, mais jovens negros que, por acaso, sejam de classe média. Sejam de um nível de circulação de uma influência que possa causar um constrangimento internacional ao Brasil, como foi o caso desses diplomatas”
Ronilso Pacheco, colunista do UOL.