Sambistas reivindicam o reconhecimento do samba de São Paulo

Foram mais de 30 inscritos para falar durante a audiência publica realizada na quinta (16) pelo mandato da deputada Leci Brandão, na Assembleia Legislativa de São Paulo. Homens, mulheres, compositores, cantores, representantes de entidades do movimentos social pediram reconhecimento ao samba que é feito na cidade de São Paulo e aos sambistas. 

Railídia Carvalho

samba sp

Auditório foi tomado por sambistas de diversas vertentes, sobretudo comunidades de samba

Diante de inúmeros movimentos de samba, inclusive vindos de cidades como Sorocaba, Campinas, Ribeirão Preto, Jundiaí, o fortalecimento do movimento foi uma das necessidades identificadas. Brão Lopes, do Terreiro de Compositores, lembrou que é preciso união para mostrar para o poder público o que é o samba de São Paulo.

O radialista Chilão da 105 também destacou a união dos sambistas. “Se vocês continuarem unidos como estão aqui vão conseguir muita coisa mas é verdade que o sambista de São Paulo é desunido”, disse Chilão.

“Quando contempla o samba é apenas o carnaval. As comunidades fazem samba o ano inteiro e é preciso que o poder público conheça o nosso universo. Virada Cultural não vai resolver a vida. É preciso uma política maior”, defendeu Brão.

samba sp 2Flávia Oliviera, cantora e compositores, questionou as regras dos editais públicos e pediu transparência

O compositor e produtor Marquinhos Jaca que participa da comunidade Samba na Feira, entre outras, destacou que as comunidades assumiram o lugar de um Estado ausente. “O pessoal que está aqui tem projetos sociais, aulas de música, de capoeira. Dão cidadania e socializam as pessoas. É preciso ter orçamento para quem faz o que o poder público deveria fazer”, opinou Marquinhos.

A implementação do estatuto da Igualdade Racial foi tema da fala de Fernanda de Paula, diretora cultural da Unegro e Uesp, e também de Flávia Tanaka, da União Brasileira de Mulheres e presidente do Conselho da Igualdade Racial de Guarulhos. A ausência do samba nos equipamentos público também foi lembrada por Fernanda. 

“São 46 Ceus que não abrigam nenhuma atividade de samba. É preciso incorporar essa manifestação cultural nos equipamentos da cidade”, disse Fernanda. Flávia reivindicou aos secretários a adesão ao estatudo da igualdade racial. “É a constituição da população negra e dos povos vulneráveis”, comparou.

samba sp 3Fernanda de Paula (ao microfone)

O compositor Paquera defendeu uma lei que coloque o sambista no cenário do samba. Segundo ele, isso não acontecerá espontaneamente. Ele também destacou o estado da casa de cultura de Santo Amaro, que recebe todas as segundas-feiras há 13 anos a comunidade do Samba da Vela.

“Fui conversar com o subprefeito da gestão passada sobre a verba de manutenção da casa e ele disse que a verba é para a varrição de ruas. Compreendo que é importante a cidade limpa para a população mas a casa de cultura é do povo. O povo vai lá buscar cultura”, desabafou Paquera.

Presidente da Uesp,Kaxitu Ricardo fez um reparo a algumas colocações feitas na audiência de que a escola de samba estaria dissociada do samba. “Samba é samba. A invisibilidade que o samba tem as escolas também tem. Essas dificuldades fizeram com que a própria escola de samba, principalmente pequenas e medias tenha dificuldades enormes para levar o samba o ano inteiro”, explicou Kaxitu.

Para ele é necessário lutar por política que inclua o samba em todas as suas vertentes. Ele contou que foi aberto um diálogo com a nova administração municipal mas que no âmbito estadual enfrenta grandes dificuldades.

“Parece que há um preconceito contra as escolas de samba. Mas quem tem que nos ajudar a fomentar a nossa manifestação é o poder público. Eu identifico as mesmas dificuldades para as escolas quanto para as comunidades de samba que não conseguem um palco, liberação de espaço, banheiro químico. Com as escolas é a mesma coisa”, disse Kaxitu.

Secretária de Cultura do PCdoB paulistano e integrante do coletivo municipal de Cultura do PCdoB, a cantora Railídia que, em 2013 comemora dez anos da roda de samba do grupo Inimigos do Batente, disse que o poder público precisa conhecer as manifestações de samba para poder reconhecer. 
“Quem são as pessoas que fazem o samba, onde vivem, como vivem, como organizam o samba, que tipo de movimento elas realizam nas suas regiões tendo o samba como ponto de partida”.

Ela sugeriu que os equipamentos públicos do estado e da cidade de São Paulo incorporem as manifestações de samba, sejam rodas, comunidades, terreiros, projetos culturais. “As últimas administrações afastaram a população dos equipamentos. É hora de retomar esses espaços e o samba deve ser protagonista. Todos disseram que o samba de São Paulo é importante mas não tem samba no Ceu e nem na Fábrica de Cultura”, finalizou.

A velha-guarda das escolas de samba de São Paulo também participou do debate. Estiveram na audiência Fernando Penteado, Carlão do Peruche, Marco Antonio, da Nenê, e seu Airton Santamaria, da Camisa Verde e Branco. 

10 canções obrigatórias para entender o samba

 

 

Fonte: Vermelho

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