Em uma mistura de ódio, racismo e muita falta de informação a foto dos milionários negros se alastrou em transformou-se em viral na Itália. Alguns acreditaram que o ator e o jogador de basquete eram imigrantes recém chegados e que estavam fazendo compras extravagantes com dinheiro do estado.
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Photo courtesy of Earvin Magic Johnson. (via Twitter)
Samuel L Jackson e Magic Johnson são nomes familiares e mundialmente conhecidos, mas os dois indivíduos de alto perfil foram confundidos com imigrantes dessa nova onda de imigração que invadiu a Europa, durante suas férias na Toscana.
O aclamado ator de Hollywood e o jogador de basquete aposentado, foram fotografados sentados em um banquinho cercados por sacolas de lojas de luxo, incluindo Louis Vuitton e Prada, em Forte dei Marmi.
Johnson compartilhou uma foto de si mesmo e Jackson na popular cidade turística da cidade no Twitter, dizendo: “Sam e eu nos sentamos num banco ontem no Forte dei Marmi, na Itália. Os fãs começaram a se alinhar para tirar fotos conosco. ”
A imagem foi amplamente compartilhada nas mídias sociais, com os italianos assumindo que os dois eram “migrantes” e ficando indignados de terem escolhido gastar extravagantemente o dinheiro do estado.
Foi então que o ator e comediante, Luca Bottura, utilizou uma das imagens para fazer um meme e começar uma experiência social. Ele compartilhou a imagem ao lado da legenda: “Os recursos da Boldrini na loja Forte dei Marmi em Prada com nossos € 35. Compartilhe esta imagem se estiver indignada”.
Esta foi uma referência à Laura Boldrini, presidente da Câmara dos Deputados da Itália, por sua posição política sobre migração que é vista como progressiva e aberta.
A imagem rapidamente se tornou viral, as pessoas expressaram seu “desgosto” e “vergonha” na experiência extravagante das duas estrelas. Os críticos referiram aos 35 euros pelos cidadãos italianos para acomodar os refugiados em sua cota de imigrantes estabelecida pela União Européia, ao mesmo tempo em muitos colocaram suas frustrações para fora.
Segundo Luca Bottura, cerca de 40% dos mais de 1000 compartilhamentos foram feitos instantaneamente sem leitura, ou seja, mostraram que estavam descontentes com o dinheiro italiano sendo gasto para uma finalidade tão banal.
O que esse evento nos deixa claro é que, mesmo quando negros chegam a uma certa posição, continuam sendo vítimas de preconceito o que muitas pessoas negam veemente que não exista mais.
A maioria das pessoas que compartilharam a foto acreditaram que dois homens negros, sentados na praça com bolsas de lojas de grife, eram mesmo imigrantes preguiçosos que estavam gastando o dinheiro do estado. Isso é parte do que chama-se de “racial profiling” ou categorização racial.
Na categorização racial, as pessoas não se sentem desconfortáveis em colocar pessoas pertencentes a minorias em caixas e acusar ciganos de serem ladrões de crianças, por exemplo. Ou judeus de serem ricos e avarentos, de japoneses de serem inteligentes e europeus do norte de possuírem pouca sensibilidade.
No caso do negro, não adianta ser bilionária como Oprah Winfrey, que em 2011 ao entrar numa loja na Suíça, a vendedora se negou a mostrar uma bolsa a apresentadora alegando “essa bolsa você não deseja ver… é muito cara para você!”
E é esse o ponto que queremos abordar aqui nessa matéria.
Nós negros somos basicamente categorizados por nosso fenótipo, quando falamos na competência ao estudar, trabalhar, liderar. E é claro que, esses dois homens negros, gordos e velhos são aproveitadores do sistema, logo compartilhar essa absurdidade, faz muito sentido.
Ora, onde já se viu dois negros sentados na praça, no meio do dia, comprando roupas em lojas de luxo? É vagabundo mesmo.
(…)
Isso acontece no Brasil também e de várias maneiras. Quantos mendigos temos no Brasil? Quantos desses são negros? E quantos desses mendigos negros podem ser considerados “mendigos gatos?”. Já podemos começar refletindo por aí… será que um mendigo negro seria viral se fosse considerado um gato?