Programação também foi alvo de críticas por não incluir autores regionais, mulheres, negros e indígenas. A abertura do evento da Feira é nesta sexta, 27, em Marabá e faz parte da Feira do Livro
Do G1
Um cartaz da XXII Feira Pan-Amazônica do Livro, que tem abertura nesta sexta-feira (27) em Marabá, sofreu alterações após críticas. A peça de divulgação do Salão do Livro Circuito Sul e Sudeste do Pará destacava a imagem de uma mulher negra carregando livros na cabeça e gerou revoltas. A programação da Feira também foi alvo de reclamações pela falta de mulheres escritoras, negros e indígenas entre os convidados e homenageados.
O evento ocorre no sudeste do estado, e assim como o Circuito do Baixo Amazonas, faz parte da Feira do Livro, organizada pela Secretaria de Cultura do Pará.
Uma publicação da escritora paraense Paloma Franca Amorim repercurtiu nas redes sociais e blogs, com mais de 170 compartilhamentos.
“A Feira coloca uma mulher negra com livros na cabeça no cartaz e não tem uma mulher negra na programação principal”, denuncia a autora.
Em 2018, a feira homenageia a Colômbia. Para responder as acusações de racismo e machismo, a Secult publicou uma nota dizendo que o cartaz tentou representar as palenqueras – mulheres que usam roupas multicoloridas na Colômbia e andam com bacias de frutas em cima da cabeça.
“Ao escolher uma dessas mulheres do cenário urbano da Colômbia, com seus trajes típicos, substituíram-se as frutas por livros, numa metáfora para divulgar uma feira… de livros”, diz a nota. A publicação afirmava ainda que “sem esta devida contextualização e apenas com a ativação do imaginário brasileiro, a imagem pode gerar diversar interpretações”.
A Secult resolveu então alterar o cartaz e agora traz uma imagem da escultura intitulada “Pensamento”, produzida em 1992 pelo artista colombiano Fernando Botero. Além da imagem, o novo cartaz traz uma frase citando o escritor colombiano Gabriel García Márquez: “Para entender outra cultura, ‘tudo é questão de despertar sua alma'”.
Representatividade
Após as reclamações da falta de representatividade entre os convidados da feira, a organização divulgou que autoras foram chamadas para compor os encontros literários em Marabá.
A autora de livros e crônicas e poesias Rosa Peres, de Rondon do Pará, e a escritora Eliane Soares, de Marabá, que escreveu “Crisálida”, livro premiado pelo Instituto de Artes do Pará e Prêmio Max Martins de Poesia devem participar da programação, que também traz outros escritores, a partir das 19h do dia 27 de abril e entre 28 de abril a 6 de maio, das 9h às 22h. A entrada é franca.
Também após as acusações de racismo, a organização divulgou que vai realizar uma roda de conversa marcada para sábado (28) em Marabá. Com o tema “Literatura e Negritude”, o evento tem participação da especialista em Saberes Africanos e Afro-Amazônidas Vanda dos Santos; da professora Liliane Batista Barros e dos escritores Ademir Braz e Airton Souza.
Em outra publicação com mais de 20 compartilhamentos, a escritora Paloma Amorim diz “mudanças só ocorreram às custas de muito protesto e significam um avanço mínimo diante do que ainda queremos conquistar em relação à promoção cultural literária e artística no estado do Pará”.
As críticas tiveram o amparo de outros artistas. Edyr Augusto, um dos autores paraenses de maior reconhecimento nacional e internacional, diz que apoia os questionamentos de Paloma e afirma que a luta dos escritores do estado é reflexo da gestão da Secult, “que há 20 desvaloriza a literatura paraense, o que é ainda mais complicado em relação aos negros, às mulheres”.
Para o escritor, a Feira é um grande negócio para atender interesses de empresários e não cumpre o papel de ser o ápice do fomento à literatura pan-amazônica.
“Os escritores ficam sem chances de serem lidos, os atores são expulsos do teatro. Essa é a realidade. E quem sofre com isso são as pessoas que não tem acesso, que devia ser garantido pelo Estado”, critica o autor, que terá duas obras suas adaptadas para o áudiovisual: Selva Concreta (Boitempo) vai ser uma série e Pssica (Boitempo), cinema, sob os cuidados da produtora O2 Filmes – responsável por obrtas como Cidade de Deus e Blindness.
O G1 entrou em contato com a Secult e até o fechamento do texto não obteve retorno.