A 22ª edição da Feira Pan-Amazônica do Livro também foi alvo de críticas pela programação
por Isabella Menon no Folha de São Paulo
A 22ª edição da Feira Pan-Amazônica do Livro, cuja programação principal vai de 26/5 a 6/6, se tornou alvo de críticas e protestos pela programação e por causa do cartaz de um dos braços do evento literário.
As críticas ao evento principal, que será em Belém, acusam a feira de não dar voz a mulheres ou negros.
“Não há nem sequer uma mulher negra, amazônica, participando da mesa principal”, diz o escritor Evanilton Gonçalves.
O Secretário de Cultura do Pará, Paulo Chaves, rebate a crítica: “Contamos com a presença de várias etnias, é uma feira livre”.
Outra questão surgiu sobre o cartaz da seção do evento que acontece na cidade de Marabá, sudeste do Pará, a partir do dia 27/4 e até 6/5.
Isso porque a peça divulgada reproduzia a imagem de uma mulher negra equilibrando livros sobre a cabeça. A imagem fez com que algumas pessoas acusassem a organização do evento de reproduzir o racismo e o machismo.
Na sexta-feira, 20/4, a Secretaria da Cultura do Pará se pronunciou em uma nota oficial divulgada no Facebook e informou que trocaria o cartaz do evento após a reação negativa nas redes sociais.
A pasta disse que a figura retratada no cartaz alude às “palenqueras”, mulheres que, na Colômbia, país homenageado no evento, carregam frutas em um cesto na cabeça.
“Trata-se de uma feira frutífera”, diz Paulo Chaves. “Achei a metáfora interessante, e a minha equipe idem”, completa o secretário.
Chaves diz achar que houve uma má compreensão por parte das pessoas. “É um preconceito inverso”, afirma. “As pessoas descontextualizaram o elemento do cartaz”.
Para Evanilton Gonçalves , o problema do cartaz foi de reforçar o racismo institucional. “Os corpos negros são vistos como desprovidos de intelectualidade e disponíveis, apenas, para o trabalho braçal ou a representação ‘folclórica’.”
Ainda segundo o escritor, foi só após as críticas ao cartaz que a secretaria passou a usar postagens destacando de fato mulheres no evento.
A feira agora está com um cartaz novo, no qual destaca uma obra do artista plástico colombiano Fernando Botero.
Além da obra de Botero, o cartaz traz uma citação que, por sua vez, reproduz uma frase do escritor Gabriel García Márquez: “Para entender outra cultura, ‘tudo é questão de despertar sua alma'”. Segundo Chaves, trata-se de uma resposta às críticas.