Gravação da Orchestre Poly-Rythmo de Cotonou, do Benin, sairá em vinil, com 500 cópias com capas confeccionadas artesanalmente
Uma história perdida de um continente invisível está nas mãos do guitarrista Mélomé Clément. Ele fecha os olhos não para provar destreza ao instrumento, mas para criar seu mantra. Clément está na década de 1970 em um quintal de terra batida da cidade de Cotonou, ao sul do Benin, país da África Ocidental, um dos berços do funk, do soul, do reggae, do gospel, do blues, do jazz, do spirituals, do son cubano, do samba, do rock and roll e de qualquer forma de música pop conhecida no Ocidente.
Mais de um século depois de a diáspora começar a abastecer o mundo com mão de obra escrava, a África voltou para a África. Mas pouca gente viu quando grupos musicais do Benin, Nigéria, Burkina Fasso, Mali ou Angola criaram uma cena inspirada não só mais em seus ritmos locais, mas sobretudo na explosão do funk e do soul que os Estados Unidos promoviam graças a eles próprios, os africanos. O bom filho à casa retornava em forma de James Brown, mas o mundo não via.
Dois franceses que vivem em São Paulo estão ajudando o Brasil a descobrir os fervilhantes anos 70 do continente africano com uma proposta de fidelidade histórica. Em parceria com o selo alemão Analog Africa, Frederic Thiphagne e Matthieu Hebrard, donos do selo Goma Gringa, mostram aqui, pela primeira vez, títulos de nomes que nos últimos anos começaram a ser conhecidos genericamente como representantes do afrobeat. Depois de lançarem no ano passado o vinil de Sorrow, Tears and Blood, da lenda nigeriana Fela Kuti, a mesma dupla revela a Orchestre Poly-Rythmo de Cotonou, um fenômeno do Benin. Assim como a obra de Fela, o disco em vinil será reproduzido apenas em 500 cópias com capas confeccionadas artesanalmente com técnicas dos anos 70, como montagens de linotipo.
O álbum traz oito músicas de um grupo que chegou a fazer 500 gravações entre 1970 e 1983. O preço no site (gomagringa.com.br) será de R$ 69. Nas lojas, chega a R$ 75. “Se pudéssemos, faríamos de graça. Queremos mais é que essa música se torne conhecida por aqui”, diz Fred. “Estamos conseguindo unir duas gerações. Os mais novos, que conhecem grupos de afrobeat graças à internet, e os mais velhos, que gostam de ouvir vinil”, diz Matthieu. Uma festa para lançar oficialmente o álbum da Orchestre Poly-Rythmo será nesta quinta, a partir das 21h, na Serralheria. Haverá uma discotecagem afrobeat e afrofunk do DJ Ramiro Zwetsch. Ele diz que sente o gênero crescer, como reflexo também do trabalho de gravadoras europeias e norte-americanas que descobrem a música da África “influenciada pelo fenômeno James Brown.”
Serviço:
ORCHESTRE POLY-RYTHMO DE COTONOU
Serralheria (R. Guaicurus, 857, Lapa)
Quinta, dia 20, a partir das 21 h
Discotecagem afrobeat – R$ 20
Fonte: Estadão