“Ser macumbeiro e morar na favela é risco de vida”

Opinião sobre a situação da intolerância religiosa atualmente no Rio de Janeiro é da pesquisadora Rosiane Rodrigues e foi publicada pelo jornal O Globo. Ontem (dia 9) foi realizado um ato em frente à Escola Municipal Francisco Campos, no Grajaú, na zona norte, onde um menino de 12 anos afirma ter sido barrado por usar guias de candomblé. Logo mais, às 18h, haverá novo ato contra a intolerância religiosa na Universidade Estadual do Rio de Janeiro e, na sexta-feira (dia 12), às 16h, a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa terá audiência na Polícia Civil para tratar sobre o assunto

Uma roda de afoxé foi feita ontem (dia 9) em frente à Escola Municipal Francisco Campos, no Grajaú, zona norte do Rio de Janeiro, onde um adolescente de 12 anos afirma ter sido barrado por usar guias de candomblé, como noticiado anteriormente aqui no Favela 247. De acordo com matéria da Agência Brasil, os manifestantes pediram a aplicação da Lei 10.639, que prevê o ensino da história do negro e da cultura afro-brasileira nas escolas. Membro da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, o babalaô Ivanir dos Santos considera que a aplicação da lei evitaria episódios de discriminação religiosa. Em artigo de Aydano André Motta para a coluna Panorama Carioca, do jornal O Globo, a pesquisadora Rosiane Rodrigues resume o problema vivido no Rio de Janeiro: “Ser macumbeiro e morar numa favela hoje é um risco de vida”. Ela é autora da dissertação de mestrado em antropologia “Quem foi que falou em igualdade?”, sobre a intolerância religiosa na cidade.

De acordo com a estudiosa, as igrejas neopentecostais encaram as religiões afro-brasileiras como o mal a ser exterminado, levando seus seguidores a trocar o axé pelo louvor a Jesus. “É, na verdade, uma disputa de mercado que passa também pelos presídios. Os programas sociais que beneficiam pobres e negros aumentaram essa cobiça”, diz Rosiane ao Globo. Logo mais, às 18h, haverá um ato contra a intolerância religiosa na Universidade Estadual do Rio de Janeiro e, na sexta-feira (dia 12), às 16h, a comissão terá audiência com o chefe de Polícia Civil, Fernando Veloso, para tratar do combate à intolerância religiosa.

 

Por *Vinicius Lisboa, para a Agência Brasil

Líderes de cultos afro criticam escola do Rio por intolerância religiosa

Fiéis de religiões afro-brasileiras e pessoas de outros credos distribuíram doces e fizeram roda de afoxé hoje (9) na porta da Escola Municipal Francisco Campos, na zona norte do Rio de Janeiro, onde um adolescente afirma ter sido barrado por usar colares de candomblé. No ato, os manifestantes pediram a aplicação da Lei 10.639, que prevê o ensino da história do negro e da cultura afro-brasileira nas escolas.

“Não podemos ficar só defendendo ou acusando, é preciso saber o que fica de positivo para a escola, como um símbolo, e o que fica de positivo para a sociedade na luta contra a intolerância”, disse o babalaô Ivanir dos Santos, da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa.

O babalaô disse que hoje conversou pela primeira vez com a diretora da unidade de ensino, e ela explicou ter barrado o aluno por estar de boné, e não por usar guias religiosas. “Se é mal entendido ou não, o fato ocorreu e marcou de forma negativa. Agora é preciso ter algo que marque de forma positiva”, defendeu Ivanir. Segundo ele, a aplicação da lei evitaria episódios de discriminação religiosa.

“Queremos que a prefeitura tenha uma postura positiva na implementação da Lei 10.639, que prevê capacitação de professores, compra de material didático e inclusão no projeto pedagógico da escola. Queremos essa implementação”.

A Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro informou à Agência Brasil que o ensino religioso é facultado aos alunos, conforme determina a Lei 5.303/2011 do município, e vem sendo oferecido apenas nas escolas de turno único da rede municipal. No momento da matrícula o pai ou responsável decide se o filho irá cursar a disciplina e em qual credo.

Atualmente, essa modalidade de ensino é oferecida nas religiões católica, evangélica/protestante e afro-brasileira. As aulas são para os alunos do 4º e 5º anos do ensino fundamental, que neste ano atendem 8.217 estudantes, ante 7.769 que optaram pelo ensino religioso no ano passado. A secretaria salientou que a cultura africana e suas manifestações, inclusive religiosas, é um “tema trabalhado de forma pedagógica e interdisciplinar em todas as escolas da rede”.

Amanhã (10), às 18h, o grupo promoverá um ato contra a intolerância religiosa na Universidade Estadual do Rio de Janeiro e, na sexta-feira (12), às 16h, a comissão terá audiência com o chefe de Polícia Civil, Fernando Veloso, para tratar do combate à intolerância religiosa.

“Primeiro, é fundamental registrar as ocorrências, já que algumas delegacias têm resistência em registrar. Depois, é preciso fazer os processos andarem”, disse Ivanir, para quem os casos do gênero têm tido tratamento secundário.

Procurada, a chefia de Polícia Civil informou que a orientação dada pelo órgão é que “todas as delegacias registrem os casos de intolerância religiosa, e que o atendimento dispensado seja o mesmo para todos”.

Fonte: Brasil247

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