Shock no sistema

Muito se fala sobre ser mãe de princesas. Eu sou mãe de uma heroína. Uma das minhas filhas tem 3 anos, ama heróis e também gosta de se vestir como eles.

por Renata Morais, no Meninas Black Power

Recentemente a escola da Elis marcou uma festa à fantasia. Perguntei a ela como ela queria ir e ela disse que queria vestir-se como o Super Shock. A nossa família é fã de HQ, a cultura pop é bastante influente aqui em casa, e por conta disso sabemos bem que não temos muita, quase que nenhuma, representação preta. Observar que ela se identifica com o Virgil, protagonista negro, adolescente, que usa dreads, que cresceu sem a mãe e que sofre com o racismo na escola, é incrível pra mim. Vejo que, apesar de tão pequena, ela já consegue se ver, já acha os seus.

Pois bem, fizemos a fantasia em um dia apenas, com a ajuda da minha sogra (incrível sogra!). Usamos a criatividade e montamos a heroína. Ela acordou às 6h da manhã, se vestiu e foi. Andou pelas ruas do bairro como se tivesse super poderes, atraiu olhares curiosos, não se intimidou. Seguiu. Ao chegar na escola percebi que os pais estavam curiosos, principalmente os pais das meninas. Provavelmente estavam pensando: “Que roupa estranha é essa? Que princesa será essa que eu nunca vi?”. No meio de reproduções da Elsa, fadas, Minnie, ela permaneceu. Não se acanhou por ser diferente. Percebeu logo que só tinha uma heroína ali.

Passou o tempo, ela se distanciou e foi ficar com as amigas. Eu senti orgulho. Confesso que não teria essa coragem, não nessa idade. Confesso que com 3 anos eu queria ser a fada. Não por amar fadas, mas sim por não ter a segurança de ser diferente. Voltei pra casa altiva. Voltei com a certeza que sou mãe de uma heroína. Grandes poderes, grandes responsabilidades.

 

 

Leia Também:

Alternativas de mídias infantis para famílias feministas – Por: Carolina Pombo
Dicas de Livros Infantis: Protagonistas Negros – por Isabela Kanupp

O feminismo Frozen e a sororidade seletiva

 

+ sobre o tema

Dandaras: curso forma mulheres negras para ocuparem espaços de poder

Rosângela Santos Lopes foi a primeira pessoa de sua...

Mulheres usam redação do Enem para denunciar violência

Segundo Mercadante, o ministério já acionou o Ministério Público...

Sonia Guimarães é a primeira mulher negra a receber Troféu Guerreiro da Educação

Primeira mulher negra a receber o Prêmio Professor Emérito...

Mulheres negras de carreira jurídica no STF

Comissão Nacional da Igualdade - CFOAB - Silvia Cerqueira...

para lembrar

Pastor que diz que Deus pune gays com desastres naturais perde a casa em alagamento

Em 2015, o pastor americano Tony Perkins declarou que...

Nascituro: Ninguém assume a sua paternidade nem maternidade na MP 557

Na última quinta-feira, 26, a presidenta Dilma Rousseff, ao...

Julho das Pretas dá tom estratégico para valorização da mulher negra

Pertencimento, identidade, valorização e empoderamento. Com um nome para...

Legal, seguro e raro

SOLICITAMOS SUA ASSINATURA DE APOIO A ESSA MANIFESTO PARA...
spot_imgspot_img

Prêmio Faz Diferença 2024: os finalistas na categoria Diversidade

Liderança feminina, Ana Fontes é a Chair do W20 Brasil, grupo oficial de engajamento do G20 em favor das mulheres. Desde 2017, quando a Austrália sediou...

Dona Ivone Lara, senhora da canção, é celebrada na passagem dos seus 104 anos

No próximo dia 13 comemora-se o Dia Nacional da Mulher Sambista, data consagrada ao nascimento da assistente social, cantora e compositora Yvonne Lara da Costa, nome...

Mulheres recebem 20% a menos que homens no Brasil

As mulheres brasileiras receberam salários, em média, 20,9% menores do que os homens em 2024 em mais de 53 mil estabelecimentos pesquisados com 100...
-+=