Na quinta-feira, 20 de novembro, manifestantes ocuparam a Avenida Paulista para a realização da 22ª Marcha da Consciência Negra de São Paulo. Reverenciando Zumbi e Dandara, os marchantes reivindicaram futuros melhores para a população negra. O ato contou com xirê religioso, apresentações artísticas e falas políticas.
Cintia Guerreira, integrante do Afoxé Omo Odé, disse estar feliz em participar da marcha e fazer parte dessa demonstração de força do movimento negro. “Estar neste ato hoje é o símbolo da resistência e de dizer para aqueles que estão querendo nos massacrar: nós estamos vivos!”.
Luka França, advogada e jornalista, pontuou a importância de marchar diante de um cenário de escalada da violência policial e do racismo religioso. “Os corpos negros são fundamentais na disputa contra extrema direita e garantir as nossas vidas faz parte do [movimento de] pensar uma nova sociedade e uma forma de Bem Viver”, disse.

Ato reivindicou reparação
Entre as pautas da Marcha estava a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 27, que cria o Fundo Nacional de Reparação Econômica e de Promoção da Igualdade Racial. “Esse ano viemos aqui reivindicar reparação”, afirmou Edson França, presidente da Unegro, e acrescentou: “o 20 de novembro é um dia extremamente importante para a luta do combate ao racismo”.
Outras reivindicações foram o fim da violência policial nas periferias, do genocídio da juventude negra, a desmilitarização da polícia militar e a federalização das investigações das chacinas ocorridas nos estados da Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo. A justiça tributária e trabalho digno também foram abordados pelos militantes, que pediram pelo fim da escala 6×1 e a taxação de bancos, bets e bilionários. Já a abertura do ato, com um xirê religioso, demarcou a luta contra o racismo religioso que afeta religiões de matriz africana.
“Nós, mulheres negras e homens negros, marchamos porque nossos corpos, territórios e saberes, seguem alvos de uma sociedade que nos nega direitos fundamentais para uma vida plena e com dignidade, pois somos a maioria entre os pobres, os mais explorados e violentados”, diz um trecho do manifesto da Marcha.
Décadas de Marcha
Para Adão Oliveira, cofundador do Movimento Negro Unificado (MNU), o ato representa a continuidade do combate à “opressão colonial escravagista” que vivemos ainda hoje. Ele lembrou da realização da primeira Marcha da Consciência Negra, realizada em 1979, e dos avanços e opressões vivenciadas ao longo de mais de quatro décadas desde então.
“Esse marchar é construtivo. Esperamos que esse marchar de hoje, de amanhã e de depois de amanhã vá reduzindo esse grau de brutalidade colonial escravagista. E que possamos dialogar com a reivindicação das mulheres negras na questão do Bem Viver”, disse.
Rafael Pinto, membro da executiva nacional da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen) e cofundador do MNU, também esteve na primeira Marcha e marcou presença na 22ª. “Ver essa movimentação e ver hoje o 20 de novembro como feriado nacional é de uma importância histórica fabulosa para todas as gerações no sentido de construir uma sociedade justa e igualitária”, pontuou.
A Marcha das Mulheres Negras se aproxima
Durante o ato, os manifestantes também abordaram a realização da segunda Marcha Nacional das Mulheres Negras, que acontecerá no dia 25 de novembro, em Brasília. Para Rosa Negra, militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), esse será “um dia muito forte para as mulheres negras, que depois de dez anos marcham em Brasília por reparação histórica e Bem Viver”.
Já Luka França, advogada e jornalista, afirmou: “as mulheres negras vão apresentar uma série de demandas, [acerca de] questões sobre economia, violência policial e justiça reprodutiva, demonstrando que é possível, sim, pensar a construção de uma sociedade que não seja racista, patriarcal e que garanta as nossas vidas por completo”.