Só para meninas e só para meninos. Será?

A imposição dos estereótipos de gênero e a minha experiência de compra no O Boticário do Shopping Difusora.

por Magda Cristina Alexandre da Silva via Guest Post para o Portal Geledés

E lá fui eu comprar um chamego para quem amo no O Boticário do Shopping Difusora, em Caruaru/PE, dia 24/09/2015. Loja linda, vendedoras prestativas, achei o produto perfeito na Linha Men. Na hora de embalar, pedi algo simples, sem sedinha, sem adesivo e prontamente recebi o meu produto em uma sacolinha de papel de tamanho desproporcional as minhas compras. Perguntei se poderia usar uma menor e recebi a resposta que “de homem só tem essa”. Eu realmente não entendi o que estava acontecendo, já que a sacola era do padrão da loja e não tinha relação com a linha que eu havia escolhido. Então, perguntei novamente dizendo que queria um tamanho menor, para evitar desperdício e recebi a mesma resposta “sacola de homem, só tem essa”. Fiz uma cara que deve ter sido das mais estranhas, pois a vendedora super se apressou em pegar uma tamanho “P” e me mostrar que aquela “não era de homem”. E eu perguntei “mas o que difere uma sacola de homem e uma de mulher?” e uma das vendedoras deu uma sacudidinha na sacola menor como que me apresentando uma obviedade. Já compreendendo o teor da coisa e a seriedade do que estava acontecendo, perguntei para ter certeza “mas o que difere uma sacola de homem?”. “É a cor” uma das vendedoras respondeu, enquanto a outra assentia com a cabeça. “A cor?”, eu repeti, e elas disseram “Sim. Essa cor não é para homem. Só tem sacola “P” rosa, e rosa não é cor para homem.”

sacolas do boticario

Eu senti meu rosto perder a cor.
Peguei uma sacola “P” rosa, sorri amarelo, agradeci e sai da loja.

No caminho para casa eu vinha pensando naquele bafafá todo que o comercial de O Boticário causou nas pessoas (aquele comercial, aquele…): tanto incômodo, tanta aprovação, tanta vibração, comentários sobre conquistas… Pra quê? Pois se aquele comercial foi mais que uma jogada de marketing e sim um posicionamento político da marca a favor da diversidade, por qual motivo, lá na ponta da estrutura, lá no miudinho do atendimento, cara a cara com a cliente, nada mudou?! A marca se ocupou de fazer o marketing televisionado, mas será que se preocupou em treinar suas equipes para lidar com a diversidade e com as diferenças? Sim, pois lidar positivamente com a diversidade e com as diferenças é também se afastar dos estereótipos de gênero em que rosa é só para meninas e azul só para meninos. Além disso, que direito tem a empresa de me impor, através da atitude com a escolha da cor de uma sacolinha, um estereótipo no qual não acredito? Provavelmente, O Boticário, se chegar a ter conhecimento sobre este relato, vai afirmar que ‘as atitudes das vendedoras não (co)respondem a da/pela marca’. Mas será que não, já que são essas pessoas que nos vendem a marca, o produto, a concepção e o (des)encantamento?

O Boticário, queremos um mundo colorido, para além da dicotomia rosa e azul. Cor é para quem gosta da cor e gente gosta de cores!

 

+ sobre o tema

Caravana da Mulher chega ao Alto Dois Carneiros

A sexta edição da Caravana da Mulher, realizada no...

Mulheres do PT debatem feminismo, políticas e construção partidária

Cerca de 700 delegadas de todo o Brasil reuniram-se...

Na Rio+20, governo brasileiro e ONU Mulheres firmam cooperação Sul-Sul em igualdade de gênero

Serão investidos três milhões de dólares, doados pelo governo...

Salvador registrou 234 casos de abusos em 234 dias do ano

A Bahia lidera o ranking de denúncias de violência...

para lembrar

Homens e mulheres concordam: o preconceito de gênero interfere no salário

De 13 perguntas da pesquisa Mitos & Verdades, feita...

Gênero nos espaços públicos e privados

O estudo "Mulheres brasileiras e gênero nos espaços públicos...

Diálogos Feministas: Análise de conjuntura e desafios para a defesa da democracia

Esta publicação traz uma síntese do debate realizado: uma...

Gisele, eu tenho um cérebro!

Algum tempo atrás eu escrevi um artigo intitulado "E...
spot_imgspot_img

Refletindo sobre a Cidadania em um Estado de Direitos Abusivos

Em um momento em que nos vemos confrontados com atos de violência policial  e  não punição, como nos recentes casos de abuso de poder...

O atraso do atraso

A semana apenas começava, quando a boa-nova vinda do outro lado do Atlântico se espalhou. A França, em votação maiúscula no Parlamento (780 votos em...

Homens ganhavam, em 2021, 16,3% a mais que mulheres, diz pesquisa

Os homens eram maioria entre os empregados por empresas e também tinham uma média salarial 16,3% maior que as mulheres em 2021, indica a...
-+=