Sobre esse momento na Terra…

Clarissa Pinkola Estés, autora do livro Mulheres que correm com os Lobos, com a tradução da psicóloga Monika von Koss:

“Meus estimados: Não desanimem. Nós fomos feitos para estes tempos. Eu, recentemente, tenho ouvido de tantos que estão profundamente desnorteados e com razão. Eles estão desnorteados a respeito dos acontecimentos atuais em nosso mundo… Nosso tempo é de assombramento quase diário e de raiva muitas vezes justificada a respeito das recentes degradações daquilo que é o mais importante para pessoas civilizadas, visionárias. (…) Contudo, eu recomendo, peço, solicito encarecidamente a vocês, para não secarem seu espírito lamentando estes tempos difíceis. Principalmente, não percam a esperança.

Particularmente, porque fomos feitos para estes tempos. Sim. Por anos temos aprendido, praticado, sendo treinados e esperado para nos encontrar neste plano de engajamento…

Eu cresci na região dos Grandes Lagos e reconheço uma embarcação em boas condições de navegabilidade, quando a vejo. No que diz respeito a almas despertas, nunca houve tantas boas embarcações nas águas do que agora, em todo mundo. E elas estão plenamente equipadas e capazes de se sinalizarem mutuamente, como nunca na história da humanidade… Olhem por sobre a proa; há milhões de embarcações de almas íntegras nas águas com vocês. Mesmo que seus vernizes se arrepiem a cada onda nesta turbulência, eu lhes asseguro que as vigas que compõem suas proas e remos vêm de uma floresta maior. Esta madeira de veios profundos é conhecida por resistir às tormentas, permanecer junta, sustentar-se e avançar, indiferente. Temos estado em treinamento para um tempo obscuro como este, desde o dia em que concordamos vir para a Terra. Por muitas décadas, em todo mundo, almas como nós tem sido ceifadas e deixadas para morrer de tantas formas, repetidamente derrubadas pela ingenuidade, pela falta de amor, sendo encurraladas e assaltadas por vários choques culturais e pessoais, ao extremo. Temos uma história de termos sido devastados, mas, lembrem-se especialmente disto – nós também temos, por necessidade, aperfeiçoado a habilidade da ressurreição. Recorrentemente temos sido a prova viva de que aquilo que foi exilado, perdido ou soçobrado pode ser novamente restaurado à vida.

Em todo tempo obscuro, há uma tendência para o abatimento diante de quanto está errado ou quebrado no mundo. Não foquem nisto. Há também uma tendência para ficarmos enfraquecidos por perseverar naquilo que está fora do nosso alcance, naquilo que ainda não pode ser. Não foquem aí. Isto significa gastar o vento sem levantar as velas. Somos necessários, isto é tudo que podemos saber. E apesar de encontrarmos resistência, ainda assim vamos encontrar grandes almas que nos impulsionarão, amarão e guiarão, e nós as reconheceremos quando elas aparecerem. Vocês não disseram que tinham fé? Vocês não se comprometeram a ouvir uma voz maior? Vocês não pediram por graça? Vocês não se lembram de que estar na graça significa submeter-se à voz maior? (…) Não é nossa tarefa consertar o mundo todo de uma só vez, mas nos estendermos para consertar a parte do mundo que está ao nosso alcance. Qualquer pequena coisa calma que uma alma pode fazer para ajudar outra alma, para ajudar alguma porção deste pobre mundo sofredor, ajudará imensamente. Não nos é dado saber quais atos, ou de quem, farão com que a massa crítica emerja como um bem duradouro. O que é necessário para esta mudança dramática é o acúmulo de fatos, somando, somando, somando mais, continuando. 

(…) A luz da alma lança faíscas, pode levantar labaredas, construir sinais de fogo, causar matéria apropriada para queimar. Mostrar a lanterna da alma em tempos sombrios como estes – ser feroz e mostrar misericórdia a outros, ambos, são atos de imensa bravura e maior necessidade. Almas em conflito pegam luz de outras almas que estão plenamente acesas e dispostas a mostrá-lo. Se vocês quiserem ajudar a acalmar o tumulto, esta é uma das coisas mais poderosas que vocês podem fazer. Sempre haverá momentos em que vocês se sentirão desencorajados. Eu também tenho sentido desespero muitas vezes em minha vida, mas eu não guardo uma cadeira para isto; eu não entretenho isto. Eu não permito que isto coma do meu prato. A razão é esta: até o âmago dos meus ossos eu sei algo, como vocês sabem. Que não poderá haver desespero, se vocês lembrarem porque vieram para a Terra, a quem vocês servem e quem enviou vocês aqui. As boas palavras que dizemos e os bons atos que fazemos não são nossos: eles são as palavras e atos do Um que nos trouxe aqui. Neste espírito, eu espero que vocês escrevam isto em seu mural: 

Quando um grande navio está no porto e ancorado, ele está seguro, não há dúvida. Mas não é para isto que grandes navios são construídos. 

Isto vem com muito amor e oração para que vocês se lembrem de quem vieram e porque vocês vieram para esta bela e necessitada Terra.” 


** Este artigo é de autoria de colaboradores ou articulistas do PORTAL GELEDÉS e não representa ideias ou opiniões do veículo. Portal Geledés oferece espaço para vozes diversas da esfera pública, garantindo assim a pluralidade do debate na sociedade.

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